... Mas pode se recuperar, avalia João Pedro Stedile, líder do MST
por Redação
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publicado CARTA CAPITAL
Mauricio Lima/AFP
CartaCapital: O senhor se perfila entre aqueles representantes dos movimentos sociais que se sentem traídos pelo governo Dilma Rousseff?
João Pedro Stedile: Não. Sou
parte daqueles que fizeram a campanha pela reeleição, a fim de garantir
mudanças para melhorar as condiçoes de vida do povo. Espero, e ainda há
tempo, de a presidenta e seu governo entenderem o recado das urnas.
CC: Como a presidenta poderia recuperar a confiança do eleitorado que optou por manter o PT no poder por mais quatro anos?
JPS:
Infelizmente, o governo Dilma começou mal, pois deu sinais de aceitar as
pressões da direita e a agenda neoliberal. Errou ao compor um
ministério com representações conservadoras e ao anunciar cortes de
direitos dos trabalhadores. Ao aceitar o projeto de lei que abre para o
capital estrangeiro a área de saúde. Errou ao demorar em tomar uma
atitude mais incisiva e demitir a diretoria da Petrobras, instalar uma
comissão da sociedade para uma auditoria e salvar a empresa da sanha de
quem quer privatizar o acesso ao pré-sal. Tudo isso leva à perda da base
social que a havia apoiado no segundo turno. Espero que o governo se
recupere. Da nossa parte, nos mobilizaremos para reverter essas medidas
equivocadas.
CC: O
Brasil parece prostrado, mergulhado em um impasse de difícil solução.
Como chegamos a este ponto, depois de viver um período de esperança em
relação ao futuro?
JPS: O
Brasil vive uma crise econômica por falta de investimentos pesados na
indústria e na infraestrutura social das cidades. Uma crise social, por
falta de iniciativas mais claras para enfrentar o problema da moradia,
da reforma agrária, da universalização do acesso à universidade. E uma
crise politica, pois a democracia brasileira foi sequestrada pelas
empresas. As dez maiores financiaram 70% do Parlamento. Os deputados
representam seus financiadores, não programas ou partidos.
CC: Qual a saída?
JPS: A
única saída é política, ou seja, uma reforma que devolva ao povo a
confiança na democracia. O ministro Gilmar Mendes, do STF, precisa criar
vergonha e devolver o processo que proíbe o financiamento privado de
campanha, e o Congresso precisa aprovar os dois projetos em tramitação
por lá. Um, proposto pela coalização democrática de entidades
brasileiras, pede mudanças no sistema e outro sugere um Plebiscito para
decidir sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte. Este recebeu o
apoio de 8 milhões de brasileiros.
CC: O senhor vê no horizonte um clima a favor de um processo de impeachment contra Dilma Rousseff?
JPS: O anúncio do impeachment
é uma tática da direita para pressionar e acuar o governo. Para que ele
tenha medo de fazer as mudanças que o povo votou e quer no segundo
mandato. A tática é sangrar o governo, desgastá-lo para colher os frutos
em 2018. O processo de impeach-
ment não tem base legal. Não há responsabilidades da presidenta em nenhum crime. É uma tática burra, inclusive, pois daria motivos para a sociedade se mobilizar em defesa da democracia e da legalidade. E daria aos movimentos o direito de pedir o impeachment de todos os governadores acusados de fraudes, de todos os prefeitos. Ninguém sabe no que daria.
ment não tem base legal. Não há responsabilidades da presidenta em nenhum crime. É uma tática burra, inclusive, pois daria motivos para a sociedade se mobilizar em defesa da democracia e da legalidade. E daria aos movimentos o direito de pedir o impeachment de todos os governadores acusados de fraudes, de todos os prefeitos. Ninguém sabe no que daria.
CC: Há disposição dos movimentos sociais de saírem às ruas em defesa do governo ou do projeto por ele representado?
JPS: Os
movimentos populares estão dispostos a se mobilizar e lutar contra os
ajustes neoliberais do governo, as tentativas de retrocesso, a
privatização da Petrobras, da Caixa, do sistema de saúde. Ao governo
cabe ter juízo e honrar o programa que o elegeu. A sociedade, acredito,
não aceitará nenhuma aventura golpista, via Congresso ou Poder
Judiciário.
CC: Existe uma liderança capaz de apaziguar a situação e conduzir o Brasil por um caminho que o tire desse impasse?
JPS: A
gravidade do tema não se restringe a lideranças, que sempre são fruto de
processos de mobilização de massa, e não o contrário. O Brasil precisa
de um amplo debate a respeito de um projeto capaz de mobilizar os
cidadãos, os movimentos, a favor das reformas estruturais necessárias, a
começar pela política, mas sem deixar de lado a dos meios de
comunicação e a tributária, que pune os assalariados e premia as grandes
fortunas e o capital financeiro.
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