Greve de caminhoneiros eleva preços de tomate, mamão, uva, goiaba e manga. Maçã, pera e ameixa estão em falta
O
baiano já deve sentir neste sábado (28), ao ir à feira, os efeitos da
paralisação dos caminhoneiros que vem ocorrendo há 12 dias em todo o
país. Produtos como tomate, goiaba, uva, manga e mamão podem chegar com
um preço mais salgado, mesmo se conseguirem passar pelo bloqueio dos
caminhoneiros.
Quem for ao
supermercado pode sentir falta também de algumas frutas importadas, como
maçã, pera e ameixa ainda por conta do movimento que tem tomado conta
das estradas, após o reajuste no valor do óleo diesel - que nas rodovias
baianas tem variado entre R$ 2,59 e R$ 2,79 o litro.
A
Ceasa de Simões Filho está recebendo menos carga de hortifruti e o que
ultrapassa as rodovias bloqueadas chega com preço elevado. Caixa de
tomate pula de R$ 40 para R$ 70(Foto: Robson Mendes)
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A
categoria reivindica ainda o reajuste do valor pago pelos fretes,
considerado defasado pelos motoristas. Um estudo divulgado pelo
Departamento de Custos Operacionais, Estudos Técnicos e Econômicos da
NTC & Logística (Decope) indicou uma defasagem de 14,11% no valor do
frete que está sendo cobrado no país.
Na sexta-feira (27), a Justiça determinou a
liberação das rodovias federais em 11 estados, mas os manifestantes
ainda mantêm bloqueios no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio
Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina. Na Bahia, o movimento segue
na região do município de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste.
Impacto
O feirante Valdemir Conceição trabalha na Ceasa de
Simões Filho todos os dias, fornecendo hortifruti para abastecer as
feiras de Salvador e Região Metropolitana. Ele conta que ficou
estarrecido quando recebeu a carga de tomate ontem, R$ 30 mais cara.
“Era R$ 40. Veio quase o dobro. Paguei R$ 70. Como é
que a gente consegue trabalhar assim?”, protesta. O preço do pepino
também pegou o feirante de surpresa: a caixa que custava R$ 70 saiu por
R$ 105. O jeito foi comprar menos produtos para não perder a freguesia.
Alta de preços é repassada aos consumidores pelos supermercados
(Foto: Robson Mendes) |
“O
pessoal gosta de comprar barato, aí cai pra cima da gente e não aceita o
aumento do revendedor. Comprei menos porque sei que vai ser difícil de
vender com esse preço”. Na banca do feirante Antônio Carlos dos Santos,
não foi diferente. “A uva que eu comprava de R$ 50 só consegui achar por
R$ 70”. Um freguês chegou na barraca e ele até tentou vender meia caixa
de uva com o repasse do custo, cobrando R$ 65. Para não perder o
cliente, teve que renegociar.
“Leve por R$ 30, pai”, fez a oferta. “Tenho que
vender de qualquer forma porque se essa uva fica aqui estraga. A gente
tem que fazer jogo o tempo todo para não ficar no prejuízo com a
mercadoria”.
Em falta
As lojas da Perini em Salvador já estão sofrendo
desabastecimento no setor de frutas e hortaliças devido à paralisação
dos caminhoneiros. Um aviso, logo na entrada, comunica aos consumidores
que a loja está com dificuldade em reabastecer o setor e alguns produtos
estão em falta.
A Perini informa ainda que tem buscado alternativas
com fornecedores locais. A empresa Frutaslider abastece os principais
mercados de Salvador e está com atraso médio de cinco dias no
recebimento de mercadorias. De acordo com o gerente de compras da
empresa, Mário Souza, até ontem a empresa deveria ter recebido sete
cargas que não foram entregues.
No Rio Grande do Sul, tropa de choque da Polícia Rodoviária Federal usou bombas para liberar rodovia(Foto: Tadeu Vilani/Estadão Conteúdo)
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O
abastecimento de frutas importadas como maçã, pera e ameixa está
comprometido. “Esta semana ainda tínhamos algo em estoque, mas o
prejuízo vai começar a partir de segunda-feira. Temos mercadorias que
vêm do Chile e estão bloqueadas em São Borja (RS).
Mesmo que saia agora de lá, demora de cinco a seis
dias para chegar”, informou o gerente, que complementou: “Caso a
situação não se resolva, vamos ter perda de vendas, de faturamento e
pagar multas previstas em contrato pela falta de entrega dos produtos”.
Produção
Caso a paralisação não seja suspensa, o escoamento
da produção agrícola baiana pode ser afetado, é o que prevê o presidente
do Sindicato dos Produtores Rurais do Oeste da Bahia, Moisés Schimidt.
“Vamos dar início à colheita da safra 2014/2015, em um prazo de dez
dias. Aí o cenário começaria a se agravar, pois não temos onde colocar
essa soja”.
Sobre as reivindicações dos caminhoneiros, Schimidt
diz que a situação é preocupante, já que o transporte é 100% rodoviário e
o frete afeta diretamente o lucro dos produtores. “Entendemos que o
custo não pode ser repassado totalmente para a agricultura. Ficaria
inviável, pois já estamos com baixos preços”.
Movimento continua e violência aumenta
Mesmo com a determinação judicial para a liberação
das rodovias federais nos estados de Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, São Paulo e Ceará, e em 14 municípios de outros
cinco estados (Paraná, Goiás, Tocantins, Rio Grande do Sul e Santa
Catarina), caminhoneiros continuaram protestando ontem.
Manifestantes dizem ainda que não foram notificados
das decisões judiciais ou que o grupo que negociou o fim das interdições
não tem legitimidade. Os primeiros protestos começaram em 13 de
fevereiro, no Paraná. Nos dias seguintes, a manifestação se espalhou e
ganhou força em todo país. No município de Três Cachoeiras, no Rio
Grande do Sul, centenas de caminhoneiros bloquearam a BR-101.
A tropa de choque da Polícia Rodoviária Federal
(PRF) foi chamada e usou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral
para dispersar o grupo. Duas pessoas foram presas por vandalismo. Na
Bahia, a BR-242, no trecho de Luís Eduardo Magalhães (saída para
Tocantins), chegou a ser fechada, mas foi liberada em seguida.
Comprei menos porque sei que vai ser difícil de vender com esse preço
Valdemir Conceição, feirante
O
trecho, que já havia sido palco de protestos de caminhoneiros na
terça-feira, teve o fluxo de veículos bloqueado nas duas pistas depois
que os manifestantes atearam fogo em pneus e galhos de árvores. No
Ceará, os caminhoneiros voltaram a bloquear a BR-116.
Desta vez, no km 213, na altura do município de
Tabuleiro do Norte, a 209 quilômetros de distância da capital Fortaleza.
Os caminhões estavam parados na via desde quinta-feira à tarde. Ontem,
por volta das 11h10, os manifestantes começaram a liberar a passagem,
após a chegada do oficial de Justiça juntamente com a Polícia Rodoviária
Federal ao local.
No interior do estado de São Paulo, cerca de 150
caminhões bloquearam a Rodovia Raposo Tavares (SP-270), no km 564, em
Presidente Prudente, pela manhã, e liberaram a via em Pacaembu às 16h.
Caminhoneiros também fecharam o km 228 da Via Dutra,
na saída da cidade de São Paulo, na tarde de ontem, provocando um
grande congestionamento na Marginal Tietê, uma das principais avenidas
da cidade. Segundo a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres),
2,2 milhões de veículos de transporte rodam nas estradas brasileiras.
Governo consegue reverter infrações em multa
O governo obteve, na Justiça, uma vitória que pode
ajudar a reprimir o movimento grevista dos caminhoneiros que ainda
paralisa as estradas de pelo menos quatro estados. A Advocacia-Geral da
União (AGU) conseguiu reverter em multas judiciais todas os autos de
infração aplicados aos caminhoneiros pela Polícia Rodoviária Federal
(PRF) por obstrução das rodovias.
A AGU já obteve liminares em todos os estados do
país para a aplicação das multas, que podem chegar a R$ 50 mil por hora,
como decidiu uma juíza da Bahia. Na média, essas multas variam entre R$
5 mil e R$ 10 mil. O governo também obteve liminares que permitem à
Polícia Rodoviária Federal (PRF) e à Força Nacional de Segurança
desobstruir qualquer estrada, federal ou estadual.
Caso a situação não se resolva, vamos ter perda de vendas, de faturamento e pagar multas
Mário Souza, gerente de compras da Frutaslider
Ao
mesmo tempo em que endurece a repressão, o governo negocia com a
categoria. A proposta de acordo prevê a sanção sem vetos da Lei dos
Caminhoneiros, a prorrogação por 12 meses do pagamento de caminhões por
meio do Programa Procaminhoneiro, além da criação, por meio de
negociação entre caminhoneiros e empresários, de uma tabela referencial
de frete.
A Petrobras também se comprometeu a não reajustar o
diesel pelos próximos seis meses. O preço do frete e a alta do diesel
originaram os protestos, que atingiram, ao todo, 14 estados. O valor de
R$ 50 foi o que Genivaldo Santos pagou para abaster com óleo diesel, o
caminhão que transportava bobinas, na tarde de ontem, na BR-324,
próximo a Simões Filho.
"Está puxado. Estou rodando porque não tem jeito. Se
continuar assim, vou parar e deixar o caminhão em casa”. Segundo ele, o
custo comparado ao valor que recebe pelo frete não compensa. “A gente
acaba pagando para trabalhar”.
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