Já seria tempo das pessoas
comuns que pensam
participarem das discussões sobre
a mais recente crise de água em parte do
Brasil,,especialmente no Sudeste,ao lado dos políticos,governantes e todos os especialistas na área .
Sabe-se que a natureza não dotou as diferentes regiões do mundo com a
mesma disponibilidade de água doce. Foi generosa com umas. Cruel com outras. Zonas desérticas coexistem com
outras onde há água em abundância . Um
dos lugares onde ela está com fartura é
no Brasil. Mas nessa disponibilidade nada é estanque. Grandes
são as modificações que aconteceram e acontecerão no futuroda crosta terrestre
. A superfície total do Planeta (águas,
terra e gelo)oscila muito,em todos as direções.Terras e águas se alternam em
torno das mesmas coordenadas geográficas através dos diferentes tempos. É tanta modificação,que onde tem terra hoje
pode ter havido água ontem,e vice-versa ,o mesmo se aplicando no amanhã dos
milênios. Mas não é exatamente essa a discussão a enfrentar. O foco em mente é
mais limitado. Resume-se nos recursos
hídricos naturais e os seus diversos tipos de consumo,não no mundo,porém no Brasil,agora,na segunda
década do Séc.XXI.
Com certeza não há no “mapa mundi”
território mais privilegiado que o brasileiro no que pertine à disponibilidade
natural de água doce,tanto superficial,quanto subterrânea. Especialmente a
reserva do“Aquífero Guarani” ,na metade Sul do país,tem “olho grande” do mundo
inteiro.
Considerando o fato do espantoso
crescimento da população mundial,que deu-se em ordem geométrica, muito
acelerada, especialmente a partir da
segunda metade do Séc.XX ,e ,por outro lado,o relativo “estacionamento” da
quantidade dos recursos hídricos naturais fornecidos pela natureza através dos séculos,é evidente
que a relação da “procura e oferta” desse produto precioso ficou alterada.
Enquanto a “procura”aumenta,a “oferta” fica no mesmo nível. Nem com toda a
tecnologia do mundo o homem conseguiria alterar substancialmente essa relação.
Das máquinas das suas fábricas poderá sair qualquer produto,exceto vida e água. E sem água não poderá haver vida
em qualquer ponto do universo. Mas parece que no mundo “humano”essa verdade não
causa muita apreensão.
Para melhor avaliação do problema ,deve-se ter em mente,num primeiro momento ,o fato de
que a população mundial DOBROU,passando de um bilhão de pessoas, em 1800, para dois bilhões em 1927,ou seja,passados 127 anos,cresceu somente
100%. Daí em diante foi um crescimento muito maior, espantoso. Em 2014 estava em 7 bilhões. Calcula-se que
no fim do Século XXI a população mundial passe a ser de 12 bilhões.
Isso significa que em menos de um
século,ou seja,passados tão só 87 anos,o mundo recebeu mais 5 bilhões de
“filhos”,passando de 2 bilhões ,em 1927 ,para 7 bilhões ,em 2014.Demorou,por
conseguinte,127 anos (de 1800 a 1927) para DOBRAR,e 87 anos (de 1927 a 2014) para
QUADRUPLICAR. Mas o“azar”é que toda essa
gente também passou a precisar de água. Para beber,lavar,irrigar suas
plantações e mil outras necessidades e utilidades.
Esse cálculo ,com certeza, pode ser
estendido às necessidades de consumo de
água,para todos os fins. O crescimento populacional é enorme e a oferta de água natural estacionária.
Mas a água tem mil e uma utilidades.
A potável,para beber,ainda é o menor dos problemas. Se todas as pessoas do
mundo bebessem os dois litros diários recomendados pelos médicos e
nutricionistas,seriam necessários 14 bilhões de litros/dia. Ora,isso é
“mixaria” se relacionado ao volume ofertado pela natureza. O grande problema
está mais nos “outros” consumos,ou seja,na água
não-potável utilizada para fins
diversos .Ocorre que muita água potável é desperdiçada. E a potabilização,ou
purificação, desse líquido custa muito dinheiro. As redes de distribuição se
encarregam de jogar fora muita água potável,principalmente por falta de manutenção. Esse desperdício é
dinheiro público jogado no lixo,pois a água vai embora ,apesar de “enriquecida” com produtos químicos caros nas estações de
tratamento.
Mas a carência de consciência da
maioria dos consumidores acaba
emparelhando com a incapacidade governamental
frente ao problema. Não se sabe quem tem mais ou menos culpa. Mais
parece uma “guerra” . Uma guerra “equilibrada”.
O desperdício domiciliar mais se deve à falta de consciência do consumidor em
economizar água e evitar o excesso de consumo e desperdício sem o devido aproveitamento.
Nessa estupidez, o consumidor tem a
fiel parceria dos políticos,governantes e autoridades responsáveis pelo abastecimento
público de água. Essa “parceria” está em dois aspectos. O primeiro é o baixo custo
da água para consumo humano ,que estimula os excessos desnecessários e desperdícios domiciliares. O segundo está na dispensado PODER DE POLÍCIA
que tem a Administração Pública. Na verdade ela está se “lixando”para o que
acontece com a água. O Governo tem o papel e a caneta na mão para disciplinar a área e impor medidas junto aos
fabricantes de produtos hidráulicos. A maioria não é nada “inteligente”,sem
nenhuma visão e consciência sobre o enorme problema. Os mais “baratos” são os
piores,os que mais jogam água fora . Se
o Governo se preocupasse em ver esse problema de perto,iria se espantar.
Concluiria que o problema está mais no desperdício do que na oferta. Tudo por
ausência de consciência e inteligência. Do Governo e do consumidor.
A produção e o consumo de água purificada
deveria tomar algumas lições lá na “Coca-Cola”. Começa pelo fato de que ninguém
desperdiça o refrigerante,tanto na produção,quanto na distribuição e hora do consumo. É que “ele”
custa caro. Se a água fosse mais cara ,não haveria tantos problemas como existem hoje. A águaé
barata e,por isso, desperdiçada. Claro que não quero dizer com isso que a água
para beber devacustar o mesmo que a “Coca-Cola”. A referência foi tão somente
para fins de ajudar no raciocínio.
Mas o maior volume de água da
natureza utilizado para “fins humanos” não passa pelas estações de limpeza e
purificação das águas para ser
distribuída. Esse maior volume é colhido diretamente nas fontes naturais (rios,barragens,lagos,lagoas,açudes,etc) para
irrigar as plantações, e abastecer a
pecuária e indústria. Essa água é “grátis”,o que também favorece o desperdício.
E como o crescimento das suas necessidades se iguala ,ou até supera,à da água potável,e estas duas ,em conjunto , se
equivalem ao aumento em ordem geométrica da população mundial,é evidente a
disparada vantagem que leva a PROCURA sobre a OFERTA de água potável e
não-potável.
Importante é sublinhar que na medida em que
crescem os pontos de captação de água na natureza,o volume da dita fonte
decresce em equivalente medida . Cada
ponto de captação significa menos água na fonte de origem. Diversos rios chegam
a “secar”,ou quase,em razão das
captações consentidas e clandestinas verificadas no seu curso,especialmente
para uso da agricultura e indústria. É tão trágica a situação que às vezes
chega a faltar água para as estações de tratamento e nas torneiras das
residências. Trocando em miúdos:falta água para beber na rede de distribuição
pública.
Aos olhos do mundo,certamente
essa crise de abastecimento de água no
Brasil - considerado o paraíso das águas no Planeta Terra ,privilégio até invejado
por outras nações - daria quase no mesmo que receber a informação que estaria
faltando “gêlo” no Polo Norte, ou na
Antártida,para os fins em que ele é costumeiramente utilizado.
“Fechando” com o titulo escolhido
para esse texto,certamente a crise hídrica no Brasil de hoje,notadamente no
Sudeste, não decorre da FALTA DE ÁGUA,porém da combinação da incapacidade governamental,pouca
inteligência e quase nenhuma consciência
do consumidor para enfrentar esse grave problema.
E não é muito diferente a situação referente às tradicionais zona
de“seca”,situadas no Nordeste. Aío
quadro é muito mais grave,pois os
responsáveis tiveram “um século”para resolver e quase nada foi feito,apesar dos
vultosos e inúteis recursos públicos
carreados para a região,conhecidos pelo povo da região como “indústria da
seca”.
Sérgio Alves de Oliveira
Sociólogo e Advogado
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