(Valor Econômico) Em 24 horas de Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva deu mais alento à base de apoio do governo no Congresso que a
presidente Dilma Rousseff em dois meses de mandato. Em reuniões com as
bancadas do PT e do PMDB no Senado, além de líderes de outros partidos,
Lula assegurou: a presidente da República está disposta e se esforçar
para melhorar. De tudo que ouviu e anotou, Lula concluiu que a atual
coordenação política do governo não vira o ano.
A visita de Lula deu alento, no entanto, aos mais céticos do PT que
temem pela repetição de uma novela: Lula vem eventualmente a Brasília,
conversa com todos, diz que a presidente vai mudar, e quando ele decola
de volta a São Paulo tudo volta à antiga rotina. A expectativa dos mais
otimistas é que a extensão da crise e as ameaças a seu mandato tenham de
fato despertado a presidente para a necessidade de fazer mais política.
Nas conversas que manteve em Brasília, Lula deixou os interlocutores
convencidos de que vai assumir um protagonismo maior neste segundo
mandato de Dilma. A avaliação é que a conjuntura não é nada favorável ao
governo, no curto prazo, e que Lula é essencial para ajudar a recompor a
base aliada, reaproximar o governo do PMDB e na interlocução com
empresários.
No jantar na casa de Jorge Viana, na noite de quarta-feira, os
petistas degustaram salada de bacalhau, peixe com molho de camarão e
doses do vinho argentino Angélica Zapata. Em tom conciliador, Lula disse
que a disputa entre PT e PMDB pela presidência da Câmara chegou ao fim
com a vitória de Eduardo Cunha e desse modo ele não pode mais ser
tratado como um adversário, porque se tornou presidente de um poder.
Agora o PT e o governo precisam conviver com ele.
Sobre o pacote fiscal, Lula disse que o PT precisa se perguntar como
deseja ver o Brasil em dezembro de 2018, qual é o país que será entregue
ao sucessor de Dilma. Para o ex-presidente o discurso do governo é
árido e pessimista, só fala em cortes de gastos. No entanto, há coisas
positivas que Dilma poderia anunciar, tais como o PAC 3, já formatado, e
novas concessões de rodovias.
Lula exortou os petistas a reagir às acusações de que as doações de
campanha ao PT - numa alusão implícita às empreiteiras envolvidas na
Operação Lava-Jato -, são ilegais. Como exemplo, o ex-presidente citou o
PSDB e doações de empresas envolvidas na investigação de desvios em
licitações relativas aos trens do metrô de São Paulo. "As doações ao PT
são roubo, propina, e as deles (outros partidos) são compromisso
ideológico, campanha da fraternidade", disse.
Lula ressalvou que não adianta surgirem denunciados de outros
partidos envolvidos nas denúncias da Lava-Jato, numa referência à
iminente lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que na
próxima semana segue para o Judiciário. Disse que o PT tem que se
preocupar com a sua situação, mas sem permitir que os adversários fiquem
"bancando os vestais".
Aos petistas, ele reiterou a declaração que fez no ato público em
defesa da Petrobras no Rio de Janeiro, quando disse que demorou a andar
de cabeça erguida, e não é agora que o obrigarão a abaixá-la. Na
ocasião, Lula também afirmou que a presidente Dilma precisa "levantar a
cabeça", lembrar que venceu as eleições e governar o país.
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