MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

No AC, jovem faz rifa para comprar cadeira de rodas para irmão deficiente


Gustavo Ferreira de Menezes tem paralisia cerebral.
‘A felicidade dele é a minha, por isso quero conseguir esse dinheiro’, diz.

Tácita Muniz Do G1 AC
Gustavo cadeirante (Foto: Tácita Muniz/G1)Gustavo passa a maior do dia deitado em um colchão (Foto: Tácita Muniz/G1)
Aos seis meses de vida, Gustavo Ferreira de Menezes, que completa 11 anos nesta quarta-feira (27), teve uma infecção no ouvido que lhe ocasionou uma encefalite. Com o passar dos anos, a infecção se agravou, as convulsões ficaram mais frequentes e o garoto foi diagnosticado com paralisia cerebral. A partir daí, a irmã mais velha de Gustavo, Jéssica Ingrede Ferreira da Silva, de 23 anos, passou a ajudar a mãe na luta para a qualidade de vida do irmão. No começo do mês, ela decidiu fazer uma rifa de uma cesta de chocolate, para tentar arrecadar ao menos R$ 4 mil para a compra de uma cadeira de rodas adaptada para Gustavo.
“Ele está precisando da cadeira, mas não temos como arcar com o preço. Fizemos o orçamento e fica entre R$ 3.500 a R$ 4 mil, então pensamos em algo que pudéssemos oferecer para as pessoas e não simplesmente pedir. Daí surgiu a ideia da rifa de uma cesta de chocolate, que é algo que todo mundo gosta”, explica Jéssica.
A estudante de pedagogia da Universidade Federal do Acre (Ufac) conta que o menino já ganhou uma cadeira de rodas comum, mas que, no caso de Gustavo, a cadeira precisa ser adaptada, pois ele tem muitos espasmos e acaba se machucando. “Na cadeira que não é adaptada, ele não consegue ficar sentado, precisamos de uma que ele possa ficar bem acomodado”.
A mãe de Gustavo, Ivaneide Ferreira Matos, de 40 anos, é manicure, mas hoje se dedica única e exclusivamente para o filho. “Ele é muito acostumado com braço, temos que levá-lo para todo lugar no colo. A cadeira sob medida é feita especialmente para ele, pegam peso, altura, posição do pescoço. Na cadeira comum, ele se machuca demais”, destaca.
Apesar da doença, o garoto consegue se comunicar com alguns gestos. Soltar beijo é o sinal de que ele concorda com algo. “Quando ele quer dizer sim, ele solta beijo”, conta a irmã. Entretanto, quando algo não agrada o menino, ele responde negativamente com a língua para fora.
Gustavo cadeirante  (Foto: Jéssica Ingrede/ Arquivo pessoal )Gustavo desenvolveu a paralisia aos seis meses de vida (Foto: Jéssica Ingrede/ Arquivo pessoal )
A ansiedade de Gustavo pode ser vista, quando alguém lhe pergunta se ele quer passear. Rapidamente, ele sorri como quem quisesse se movimentar e sair do colchão, onde passa grande parte do dia para que não se machuque durante os espasmos frequentes em decorrência da paralisia.
“Ele passa grande parte do dia deitado, porque quando saímos não aguentamos ficar com ele no braço o tempo todo. Ele pesa muito. E é fato que ele precisa sair, passear e se divertir como qualquer criança. Ele entende tudo que a gente fala, então um passeio em uma praça, que para nós é tão comum, para ele, que nunca sai de casa, tem outro sabor”, destaca.
O sonho de Jéssica, parece simples e comum para qualquer um que escuta, mas que se torna impossível para Gustavo, que depende de apoio para um simples passeio. O garoto nunca foi ao shopping de Rio Branco. E quando o assunto é esse passeio em especial, ele se agita ainda mais.
“A felicidade dele é a minha, por isso quero tanto conquistar o dinheiro necessário para comprar essa cadeira. Quero levá-lo para passear e ir ao shopping, que ele tanto quer conhecer. Não quero limitá-lo, ele tem que desbravar o mundo”, diz emocionada.
Gustavo faz tratamento no Dom Bosco. Tem acompanhamento com fonoaudiólogo, faz fisioterapia, estimulação precoce e terapia ocupacional  por três vezes na semana. Ele teve o acompanhamento médico desde 7 meses, quando a família começou a perceber as sequelas da encefalite. Além disso, tem acompanhamento de médicos de São Paulo (SP) que visitam o paciente de três em três meses.
Gustavo cadeirante (Foto: Jéssica Ingrede/ Arquivo pessoal)Jéssica passou um mês afastada da faculdade
para cuidar do irmão
(Foto: Jéssica Ingrede/ Arquivo pessoal)
“Eu sempre acreditei que meu irmão sairia vivo”
No ano passado, entre outubro e novembro, Gustavo teve que ficar internado no Hospital da Criança devido a uma pneumonia que se agravou. Foram quase dois meses no hospital, quando ele chegou a pesar 15 quilos. A luta de Gustavo pela vida foi publicada no Facebook de Jéssica, que se afastou dos estudos durante um mês para se dedicar à recuperação do irmão.
“Foram dias terríveis e pesados. Acho que foi a única vez que não vi meu irmão sorrir. Você pode imaginar a dor de ver alguém que você ama entre a vida e a morte? Minha mãe ficou muito abalada, então eu tive que segurar a peteca. As enfermeiras me falavam que se despediam como se não fossem vê-lo no dia seguinte, mas eu sempre acreditei que meu irmão sairia vivo dali”, conta.
O sorteio das rifas será realizado no dia 12 de outubro, Dia Das Crianças. A divulgação das vendas é fortalecida por meio das redes sociais. Cada rifa custa R$ 3, na compra de duas, o preço baixa para R$ 2,50 cada. O ganhador leva uma cesta de chocolate Cacau Show no valor de R$ 200. Os interessados em ajudar podem procurar Jéssica, através dos telefones (068) 9964-2393 ou (068) 9232-4814.
Entenda a paralisia cerebral
O neurologista Leonardo Diel explica que a paralisia cerebral vem em decorrência, geralmente, de uma meningite na fase infantil, mais recorrente entre os 4 a 6 meses de vida. Logo após, a criança passa a apresentar um quadro de não desenvolvimento mental. "As paralisias, se você for se aprofundar e buscar na história, sempre têm um histórico de meningite ou também pode ser ligada a genética, ainda não se definiu muito isso entre os especialistas. Sempre se desenvolve entre 4 a 6 meses de vida e a criança para de emitir sons, de tentar se comunicar e acaba tendo um retardo mental", explica.
O tratamento para esse tipo de paralisia, segundo o especialista, é feito com fisioterapia e também com anticonvulsivo, mas que são muitos caros e não são disponibilizados em redes públicas. "Esses remédios são caríssimos, servem de apoio, mas o ideal é que se faça fisioterapia porque as musculaturas são bem duras e precisam ficar relaxadas", destaca.
A cadeira que Jéssica quer dar para o irmão, segundo o médico, é feita com base nas medidas do paciente e possui um apoio acolchoado para a cabeça. Além disso, evita que o cadeirante se machuque devido aos frequentes espasmos.  "É uma cadeira toda diferenciada, pode até fixar na perna da pessoa para que seja transportada, além de possuir um freio manual. É comum esse pedido de cadeira".
Gustavo cadeirante (Foto: Tácita Muniz/G1)Gustavo sorridente mostra a rifa vendida pela irmã (Foto: Tácita Muniz/G1)

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