Marina Silva sempre foi contra os transgênicos e nunca lutou
contra forças poderosas no Acre, onde até hoje é aliada dos irmãos
petistas Viana, para quem seu marido trabalhava até poucos dias atrás.
Os Viana dominam a política do Acre há cerca de 20 anos. Sobre os
transgênicos, Marina tentou, à base de resoluções e portarias do Conama,
proibir o seu plantio em 2004, aterrorizando os produtores rurais,
especialmente do Rio Grande do Sul. Em 2013, o Brasil exportou U$ 31
bilhões no complexo soja.
A candidata do PSB à Presidência
da República, Marina Silva, disse nesta quarta-feira, em entrevista ao “Jornal
Nacional”, da TV Globo, que não sabia que laranjas foram responsáveis pela
transferência da propriedade do jato que caiu em Santos (SP) e matou o
ex-governador Eduardo Campos. Marina, que também usou a aeronave para a
campanha eleitoral, indicou que a responsabilidade por possíveis
irregularidades é do comitê financeiro da campanha de Campos. Perguntada se ela
não pediu informações sobre o jato antes de usá-lo ou se havia “confiado
cegamente em aliados”, a candidata respondeu:
— Nós tínhamos a informação de
que era um empréstimo, que seria feito um ressarcimento, no prazo legal, que
pode ser feito, segundo a própria Justiça Eleitoral, até o encerramento da
campanha. E que esse ressarcimento seria feito pelo comitê financeiro do
candidato. Existem três formas de fazer o provimento da campanha: pelo partido,
pelo comitê financeiro do candidato e pelo comitê financeiro da coligação.
Nesse caso, (o provimento foi feito) pelo comitê financeiro do candidato. Essas
informações eram as informações que nós tínhamos — disse ela, que completou: —
Não tinha qualquer informação sobre qualquer ilegalidade referente à postura dos
proprietários do avião.
A candidata defendeu a
investigação do caso, e negou que o acontecimento possa ser um indício da
prática da velha política.
— Há uma investigação que está
sendo feita pela Polícia Federal. O nosso interesse e a nossa determinação é de
que essas investigações sejam feitas com todo o rigor para que a sociedade
possa ter os esclarecimentos. E para que não se cometa uma injustiça com a
memória de Eduardo — disse ela, ressaltando que tem um “compromisso com a
verdade”.
Marina disse que não irá
“tangenciar”, e sim “enfrentar” o problema. Perguntada por Willian Bonner se não
havia faltado rigor para ter as informações necessárias sobre a propriedade do
jato, ela sugeriu que perguntou a quem deveria perguntar: — O rigor era tomar as
informações com aqueles que deveriam prestar as informações, em relação à forma
como aquele avião estava prestando o serviço.
De acordo com reportagem do
“Jornal Nacional exibida na última terça-feira, o avião Cessna que caiu em Santos
matando Campos e mais seis pessoas foi pago por meio de empresas fantasmas. O
“Jornal Nacional” mostrou que, entre as empresas, estão a peixaria Geovane
Pescados, a RM Construtora - que funciona numa casa em Recife - e a Câmara
& Vasconcelos, cuja sede é uma sala vazia.
‘É MUITO DIFÍCIL SER PROFETA EM
SUA PRÓPRIA TERRA’
A candidata do PSB também foi
questionada sobre o fraco desempenho eleitoral em seu berço político, o Acre.
Em 2010, ela ficou atrás de José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) nas eleições
presidenciais.
— Tem um provérbio que a gente
usa muito. É muito difícil ser profeta em sua própria terra porque às vezes a
gente tem que confrontar os interesses. Eu venho de uma trajetória política que
desde os meus 17 anos, eu tive que confrontar muitos interesses no meu estado
do Acre, ao lado de Chico Mendes e de pessoas que se posicionaram ao lado da
justiça, da defesa dos índios, dos seringueiros, da ética na política. Isso fez
com que eu tivesse que seguir uma trajetória que não era o caminho mais fácil.
Aliás, na minha vida, nunca é fácil. Nesse caso eu era candidata por um partido
pequeno concorrendo contra duas máquinas muito poderosas, com 1 minuto e 20
segundos de televisão. E mesmo assim, a candidata do PT que tinha o governo do
estado, senadores, prefeitos, eu fiquei muito próximo a ela.
Interpelada por Patrícia Poeta,
que questionou se o mau resultado da candidata em seu estado de origem seria
culpa dos eleitores acrianas e não dela, candidata, Marina respondeu:
— Talvez você não conheça bem a
minha trajetória. Você talvez tenha um certo desconhecimento do que significa
ser senadora na situação em que eu fui. Eu não sou filha de político
tradicional, de nenhum empresário, porque no meu estado até minha eleição pra
ser senadora da república era necessário ser filho de ex-governador, era
preciso ser dono de TV, jornal e rádio pra falar bem de si mesmo e mal dos
outros. Não é culpa dos acrianos. É culpa das circunstâncias. Os acrianos já
foram generosos comigo muitas vezes. Eu já fiquei a ficar 4 anos sem poder
andar em metade do meu estado porque queriam fazer uma estrada sem estudo de
impacto ambiental, sem respeitar a terra dos índios e as unidades de
conservação. E eu não poderia trocar o futuro das futuras gerações pelas
próximas eleições. Eu preferi perder os votos. Lembra quando eu saí do
Ministério do Meio Ambiente eu disse que perdia o pescoço mas não perdia o
juízo. Essa tem sido a minha trajetória no Brasil. E é assim que eu quero
governar o Brasil.
TRANSGÊNICOS
Perguntada sobre as diferenças
políticas que se sobressaem na aliança com Beto Albuquerque, seu vice, Marina
disse que sabe trabalhar com divergências. Ela afirmou que não é contra o
plantio de transgênicos — tema sobre o qual Albuquerque posicionou no Congresso Nacional.
— Nós somos diferentes e a nova
política sabe trabalhar na diversidade e na diferença. Mas há uma lenda de que
eu sou contra os transgênicos, mas isso não é verdade. Eu defendia um modelo de
coexistência, área com transgênicos e áreas livres de transgênico.
Infelizmente, no Congresso essa proposta não passou e o Beto votou na outra
proposta. Eu e Beto temos uma visão diferente em relação a células-tronco e
transgênicos mas tivemos um trabalho juntos no Congresso, quando ele foi o
relator da lei de gestão de florestas, que criou o serviço florestal e me
ajudou a aprovar a lei da Mata Atlântica e tantas outras medidas importantes. A
vida não tem essa simplificação que às vezes a gente acha. Isso não tem nada a
ver com a velha política. Eu marquei minha trajetória de vida trabalhando com
os diferentes. E essa é uma oportunidade de mostrar que essa história de que a
Marina é intransigente, que só conversa com os que pensam igual a ela, não é
tão verdade assim. (O Globo)
BLOG DO CORONEL
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