Paraíso natural abriga duas diferentes famílias, que nunca se encontram
por Elaine Louie
A Casa da Duna é tão discreta que não é possível vê-la da rua.
Foto:
Tony Cenicola / NYTNS
Há alguns anos, Chad Oppenheim, arquiteto de Miami, recebeu a ligação de uma cliente em potencial: Debby Lawn, orientadora de escola primária aposentada de San Francisco que tinha acabado de comprar uma propriedade de frente para o mar nas Bahamas com o marido, Richard, biólogo molecular semi-aposentado. O casal de sexagenários queria que ele fizesse o projeto da casa.
Oppenheim foi ver o lugar, em Harbour Island, e se apaixonou de cara pela areia rosa, as águas claras e as palmeiras. E voltou com uma proposta inusitada.
— Vocês entram com o terreno, eu entro com a casa. Vamos compartilhá-la — , sugeriu ele.
A princípio, nem ela e nem o marido quiseram sequer pensar na possibilidade, mas depois de meses de negociações, as duas partes chegaram a um acordo satisfatório: os Lawn contribuiriam com a propriedade de 0,6 hectare que compraram por US$1,1 milhão em 2004; Oppenheim cuidaria da construção (um sobrado de 279 metros quadrados que acabou custando US$2 milhões) e ambas dividiriam o custo da mobília e gastos como água, luz, gás, seguro e impostos.
A obra, concluída em 2013, é hoje o domínio dos Lawn quatro vezes por ano durante duas semanas de cada vez. E também a dividem com os filhos adultos, que vão sozinhos. Uma vez por mês, Oppenheim, de 43 anos e a mulher, Ilona, uma designer gráfica de 37, passam um fim de semana prolongado lá com os três filhos pequenos.
As duas famílias nunca se encontram; elas compartilham a casa, mas não a vida, já que são extremamente reservadas, assim como a casa, que é tão discreta que não pode ser vista da rua.
— Queríamos que a casa se adequasse à ilha; por isso é meio que uma casa primitiva —, explica Oppenheim.
Para corroborar essa ideia, ele escolheu materiais que não chamam a atenção: blocos de concreto, madeira reciclada. O acabamento de algumas paredes leva uma tinta leitosa que, segundo Oppenheim, — os insetos gostam de comer —.
A Casa na Duna, como ele a chama, fica sobre um banco de areia de 10 metros; o caminho que leva até ela ziguezagueia por cerca de 150 metros em meio a palmeiras para chegar a uma escadaria larga que lembra a de um templo maia. Dali, apenas uma elevação suave que termina no saguão do andar principal.
— Quando você sobe a escadaria começa a ouvir o barulho do mar e a sentir o cheiro de maresia —, observa Oppenheim. E, no topo da escada: — Você vê o mar através da casa. Dá a impressão que ela é apenas um único espaço aberto —.
À noite, o corredor coberto brilha, mas não há luminárias visíveis; a iluminação foi instalada no piso e no teto, onde as tomadas também estão escondidas. — Não se vê quase nenhuma instalação —, afirma (esse é um primitivismo com base em um monte de truques tecnológicos).
As portas de correr de vidro temperado podem ser fechadas para proteger o corredor coberto em caso de chuva; do contrário, praticamente desaparecem nas paredes. O recurso é usado de forma semelhante nos quartos, que têm também persianas de madeira de ipê para proteção adicional.
Mesmo assim, Oppenheim é filosófico quando se trata do que se pode fazer para proteger a estrutura. — Se for tipo, um dilúvio, a casa pode desabar, mas a do vizinho está aí, em pé, há mais de trinta anos—.
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