A Polícia
Federal realizou testes nos aeroportos e concluiu que não há
dificuldades em introduzir explosivos em áreas restritas. É rezar para
que os terroristas não venham para o Brasil - se é que já não estão por
aqui:
A poucos
dias do início da Copa do Mundo, os aeroportos brasileiros já começam a
maltratar os turistas que vêm ver os jogos. Mesmo remendados para se
adequarem às exigências da Fifa, o que se prevê são filas e a
desinformação de sempre — tudo potencializado pela explosão da demanda.
Estima-se que 600.000 turistas estrangeiros circulem por esses locais
durante o Mundial. Mas, além dos gargalos mais conhecidos por quem
costuma percorrer os tortuosos caminhos dos aeroportos brasileiros, há
outro, menos visível, que vem afligindo autoridades em Brasília: a falta
de segurança nas portas de entrada do país.
Oficialmente,
a Polícia Federal garante que está tudo sob controle. Dois relatórios
reservados da própria PF, porém, mostram a distância entre a realidade e
a versão oficial. Um dos documentos descreve os resultados dos testes
de segurança realizados em dezesseis aeroportos. Catorze foram
reprovados em mais de 50% dos itens analisados. O segundo relatório
trata apenas do Galeão, no Rio de Janeiro, e é bastante didático quanto à
extensão do descalabro: não raro, traficantes armados perambulam por
ali em áreas restritas, informa o texto.
VEJA teve
acesso ao documento de dezembro de 2012 que traz à luz o atoleiro de
notas vermelhas na área da segurança. Naquele ano, os aeroportos que
pior se saíram na avaliação da PF foram precisamente os que terão maior
movimento na Copa: Congonhas foi reprovado em 85% dos itens; Galeão, em
75%; Confins, em 70%; e Guarulhos, em 69%. Em um dos testes, agentes
disfarçados conseguiram facilmente embarcar simulacros de artefatos
explosivos em bagagens de voos internacionais. Entrar em áreas proibidas
com credenciais irregulares tampouco foi um problema.
O
exercício se repetiu no fim do ano passado, dessa vez em todos os
aeroportos da Copa, e só serviu para enfatizar o que já havia sido
constatado. “Nada mudou. É uma bagunça generalizada”, afirma um policial
que integrou a equipe. Entre as constatações, descobriu-se uma zona de
sombra que ameaça um ponto-chave da segurança: a fiscalização dos
passaportes. Faltam agentes para realizar a tarefa e, segundo o relato
de mais de uma dezena de policiais ouvidos em quatro grandes aeroportos,
o sistema de computadores da imigração, por causa da manutenção
precária, funciona com extrema lentidão — quando funciona. “Operamos a
maior parte do tempo off-line, recolhendo apenas o formulário de
entrada. Do contrário, as filas seriam intermináveis”, diz um delegado
da PF. “É o que chamamos de abrir a porteira.” Sem o sistema, os agentes
trabalham no escuro, ignorando se o turista que deixaram entrar é, por
exemplo, um terrorista procurado.
Com os jatinhos particulares — e milhares deles estão prestes a pousar em terreno brasileiro — a situação se agrava ainda mais. Nesses casos, os viajantes nem sequer costumam passar pelos guichês da imigração. “É o piloto quem informa o número de passageiros pelo rádio e encaminha os passaportes. Se quiser, ele poderá omitir a presença de uma pessoa e ela entrará clandestinamente no país, na maior tranquilidade”, conta um experiente funcionário da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
A
fiscalização precária não se limita ao espaço aéreo — a peneira furada é
a dura realidade também nos portos do país. A Associação Brasileira de
Cruzeiros Marítimos (Abremar) estima que 23 000 turistas desembarcarão
no Rio de Janeiro, em Santos e em Salvador por estes dias. No Porto do
Rio, a conferência da documentação dos cerca de 3 000 passageiros de
cada embarcação caberá a dois ou, no máximo, três agentes. “Entramos no
navio e registramos a pilha de passaportes que nos entregam. Não
chegamos nem a ver as pessoas, quanto mais saber se todas foram
contabilizadas”, relata um agente.
Segundo
aeroporto mais movimentado do país, o Galeão mereceu um relatório à
parte por causa de uma característica singular: ele está circundado de
favelas tomadas por bandidos que agem não só nas suas imediações, mas
também no seu interior. O vaivém dos traficantes não se dá nos saguões,
mas em áreas menos visíveis, onde praticamente inexiste vigilância. O
relatório mapeia oito pontos especialmente vulneráveis. Em alguns deles,
os bandos se infiltram para surrupiar cabos, crime contumaz no local e
uma das causas dos apagões que a toda hora deixam o Galeão às escuras.
Numa via
que leva à área de apoio do aeroporto, a investigação flagrou uma
solitária cancela desativada. “Há acesso irrestrito a qualquer veículo,
tornando-se um potencial alvo de atentados”, conclui o texto. Para
reforçar o contingente durante a Copa com policiais de outras cidades, a
PF está oferecendo o dobro do valor das diárias. Pode funcionar por
ora, mas é solução temporária. Dado o apito final no Maracanã, a
segurança nas portas de entrada do país voltará a ser como antes: padrão
Brasil. (Veja).BLOG ORLANDO TAMBOSI
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