“Eu e várias meninas já fomos seguidas por alguma pessoa
aqui. Conheço uma menina que foi estuprada e não voltou mais para a faculdade.
Também já houve um sequestro lá dentro e, aliás, foi a única vez que vi ação de
policiais. Já estudo aqui na Rural há três anos”. Este é o relato de Lívia Leite,
estudante de Educação Física na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O
depoimento dela é apenas um de muitos alunos que denunciaram ao Jornal do
Brasil condições irregulares e casos de violência dentro da
universidade. Diante do caos, os alunos contam apenas com promessas, não cumpridas,
da reitoria. Os estudantes relatam que alguns Institutos estão sem aulas
devido à má conservação dos prédios. Segundo os alunos, a estrutura está
ameaçada, os aparelhos de ar condicionado não funcionam, os caminhos são mal
iluminados, não existe segurança dentro do campus, o mato está tão alto que é
capaz de esconder criminosos, faltam materiais para ensino, muitos banheiros
não podem ser utilizados, e a situação de quem mora nos alojamentos não é diferente.
Um dossiê, organizado por alunos da universidade em 2013, aponta que falta até
formol e, por isso, animais conservados para estudo estão passando por processo
de putrefação. No momento, os alunos estão trabalhando em um novo dossiê,
apontando novos problemas. Infraestrutura
Postes sem iluminação e mato alto mostram o descaso na ReitoriaA
principal reclamação dos alunos da UFRRJ é a infraestrutura da
instituição. Se por um lado a má conservação dos prédios causou a
suspensão de algumas aulas, por outro, a má iluminação e a grama alta
facilitam a ação de bandidos dentro do campus e nos arredores. Thaiany
Canal tem 22 anos e cursa Engenharia Química na Universidade. Ela
define as condições estruturais da UFRRJ como “precárias” e defende:
“Não estamos lutando por coisas absurdas”. Para Thaiany, as
reivindicações não são apenas justas, mas também básicas. “Queremos uma
rede elétrica decente, água potável e esgoto tratado. Além disso, o
calor aqui na UFRRJ é insuportável. O ar condicionado está comprado há
alguns anos, mas estão todos parados porque até hoje a reitoria não
cumpriu com o prometido do ano de 2010, que foi o ajuste na rede
elétrica. Os professores saem da sala de aula pingando e os alunos
passam mal. Para se ter uma ideia, nas salas, passa dos 45°C em dias
quentes. Fora os ventiladores que, quando funcionam, são ruins”,
denuncia. Melina Cardilo, 21 anos, é estudante do curso de Farmácia.
Ela conta que as tentativas de negociação com a reitoria não alcançaram os
resultados desejados. “Houve um grande distanciamento entre alunos e reitoria
nessa atual gestão. É um descaso total”, conta a aluna. A mesma opinião é compartilhada por Felipe
Duriguetto, 22 anos. O estudante de Administração denuncia: “Houve alguns
protestos, mas infelizmente sem solução por parte da reitoria. A infraestrutura
da faculdade é crítica. Já ouvi relatos de garotas que foram estupradas,
pessoas que foram assaltadas e até tentativas de sequestro. A reitoria não se
importa com os problemas da Universidade”.
Falta de manutenção nas estradas que cortam o campus já causaram acidentes e machucaram alunosDiante das condições precárias da instituição, professores
foram obrigados a suspender as aulas. Leonardo Defanti, 22 anos, estuda
Engenharia Química e conta que seu instituto está paralisado. “Os professores
se cansaram de ministrar aulas em situações tão absurdas. Os problemas vão
desde a infraestrutura até a falta de segurança, falta de material para aulas
práticas e por aí vai. Nem um banheiro descente nós possuímos”, conta. Alojamentos A situação dos alojamentos não é diferente do restante da
faculdade. Muitos alunos optam por morar nos quartos da universidade devido a
dificuldades financeiras. Aqueles que alugam apartamentos fora das dependências
da UFRRJ precisam pagar não apenas o aluguel, mas as passagens de ônibus que,
em alguns casos, pode chegar a 30 reais, dada a distância do campus. O tempo de
viagem é outro fator que leva estudantes a se mudarem para os alojamentos. Roseane Farias, 22 anos, é estudante de Medicina Veterinária
e mora em um dos alojamentos da faculdade. “Não temos nem tanque para lavar as
roupas, lavamos em um balde dentro do banheiro, agachadas. Também não tem
bebedouro com água potável, dependemos de um funcionário para nos trazer água
dentro de um galão. Não existe um guarda para ficar no hall do alojamento e
controlar a entrada de pessoas estranhas. As portas do alojamento não têm
segurança”, relata. Alan Azevedo, 24 anos, cursa Engenharia Química e também
reclama das condições do alojamento da UFRRJ. “Falta de água, falta de luz,
falta de respeito, falta de coleta de lixo regular, falta de estrutura, falta
de banheiros,falta de chuveiros... o mundo precisa ver o que está acontecendo
por aqui, pois parece que, por ser mais afastada do centro, a UFRRJ ficou
abandonada. Qualquer um que venha ao campus poderá notar o estado em que
vivemos por aqui”, denuncia Alan. Manifestação As condições da universidade causaram a revolta dos alunos,
que resolveram protestar. Ligía Miguel, 25 anos, é estudante de Comunicação
Social e faz parte do Diretório Central dos Estudantes (DCE) – Gestão por todos
os Cantos. Ela conta que a reitoria prometeu realocar as turmas em institutos,
mas na segunda semana de aula, as atividades continuam suspensas. Lígia também reclama da “situação deplorável” de alguns
departamentos da universidade. “Com todos esses problemas, que não são
recentes, pois a precariedade dos prédios citados já é antiga, os alunos, com a
participação de alguns professores se uniram para reivindicar um posicionamento
da reitoria em relação ao descaso com a infraestrutura da UFRRJ”, explica
Lígia. Nathan Carlo, um dos organizadores da manifestação, conta que
os diretórios estão cobrando da Administração Central medidas efetivas e prazos
para solucionar os problemas da universidade: “Vários memorandos foram enviados
cobrando uma atitude da reitoria, mas os prazos para respostas nunca foram
cumpridos. Assim, os diretórios dos dois prédios se reuniram e mobilizaram,
juntamente com os professores, um ‘aulão’ manifestação, como forma de protesto
ao atual descaso da reitoria”, explica. Ele conta que os alunos contam como o
apoio da Associação dos Docentes da Universidade Rural. “A reitora recebeu nosso movimento no ‘aulão’, que contou
com cerca de 350 alunos, e tivemos uma avaliação positiva de todo o movimento.
Alguns professores deram aulas pelo gramado, enquanto outros faziam intervenção
junto com alunos na porta da sala de reuniões, onde acontecia uma sessão do
Conselho Superior. Esperamos que a resposta seja satisfatória, afinal o período
começou dia26 de março e já temos 13 dias sem aula no instituto”, avaliou. Resposta da
Universidade Em nota, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro se
manifestou sobre a suspensão das aulas. Leia a nota: “A reitoria da UFRRJ informa que as solicitações coletivas
de professores do Departamento de Química desta Universidade, feitas há cerca
de uma semana, já estão sendo analisadas e, até o dia 14 de abril, como já
havia sido acordado com os referidos docentes, haverá um posicionamento oficial
por parte da Administração Central. É importante observar que o conjunto arquitetônico no qual
as aulas, em sua maioria, são ministradas é antigo, da década de 40, tombado, e
necessita de atenção especial. Algumas das demandas expostas pelos docentes já
estão sendo atendidas, como obras emergenciais nos banheiros e a manutenção do
telhado, danificado por um vendaval, ocorrido há cerca de dois meses. A UFRRJ está dando andamento a processos de manutenção que
atenderão não só as solicitações dos professores do Departamento de Química,
mas a universidade como um todo. As áreas de abastecimento de água e de energia
elétrica são alguns exemplos. Como instituição pública, no entanto, necessita
seguir protocolos que demandam algum tempo”. * Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil
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