Então governador de Pernambuco, ele se recusou a apoiar o regime.
Cerimônia aconteceu no Instituto Miguel Arraes, na capital pernambucana.
Ato no Instituto Miguel Arraes lembrou os 50 anos do golpe militar e da deposição de Arraes(Foto: Katherine Coutinho/G1)
Ivan Rodrigues estava no Palácio do Campo das Princesasquando Arraes foi deposto. (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Coube ao coronel informar ao governador que ele estava deposto. O respeito do militar a Arraes é algo que Rodrigues carrega na memória, assim como a resposta dada pelo governador ao ser deposto. “Arraes respondeu: ‘O senhor não tem autoridade para me depor. Sou governador do estado, eleito pelo povo de Pernambuco e somente ele pode me depor. Ou então, o senhor quis dizer que estou preso e isso o senhor pode fazer pela força’”, conta o advogado.
Entre os momentos da deposição que também marcam Rodrigues está a despedida de Arraes, após ser informado que somente a família poderia permanecer no Palácio. O governador ficou na frente do elevador do primeiro andar, fazendo questão de cumprimentar e se despedir de todos os funcionários e amigos.
Fotos do acervo do Instituto reproduziam marcos da história do ex-governador. (Foto: Katherine Coutinho/G1)A baixa adesão popular à reedição da Marcha da Família, este ano, é um sinal de que, hoje, as pessoas não mais aprovam a ideia do regime e começam a ter uma visão crítica sobre ele, aponta o presidente da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, Fernando Coelho, que também participou da cerimônia desta quinta-feira (27). “O golpe de 1º de abril de 1964 precisa ser entendido como um episódio da Guerra Fria. Não foi um fato isolado”, destaca.
Amparo Araújo destacou a importância da memória.(Foto: Katherine Coutinho/G1)
A importância do trabalho da sociedade civil na luta por seus direitos, pela memória, é essencial para a construção da democracia, defende o coordenador do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Rodrigo Dedodato. “Nesse 1º de abril de 1964, dois jovens foram assassinados aqui no Recife, Jonas José e Ivan Albuquerque, onde hoje fica a Avenida Dantas Barreto. Há uma marca de memória exatamente naquele lugar. Isso é importante ser lembrado, pois esses jovens foram os primeiros mortos pela ditadura militar de 1964”, afirma Deodato, citando ainda as famílias que até hoje não tem respostas sobre o paradeiro de filhos e parentes.
Antônio Campos, neto de Miguel Arraes, recordou ocasamento da mãe. (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Neto de Miguel Arraes e diretor do Instituto, o escritor Antônio Campos relembrou os momentos que marcaram a família, como o casamento da mãe, ocorrido em uma capela militar cercada por soldados. Arraes já estava preso e foi levado escoltado pelo Exército.
“Naquele dia, dizem que só quem não chorou, infelizmente, foi o capelão. Logo depois, ele foi a Dom Hélder Câmara e disse: ‘Dom Hélder, incrível, celebrei o casamento da filha da Arraes e só não chorou acho que eu’. [...] Dom Hélder disse: ‘oh, meu filho, que pena que você não chorou. O Cristo nos ensinou que devemos chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram”, conta Campos.
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