Então governador de Pernambuco, ele se recusou a apoiar o regime.
Cerimônia aconteceu no Instituto Miguel Arraes, na capital pernambucana.
Ato no Instituto Miguel Arraes lembrou os 50 anos do golpe militar e da deposição de Arraes
(Foto: Katherine Coutinho/G1)
As memórias do ano de 1964 marcam o advogado Ivan Rodrigues. Amigo do
então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, Rodrigues estava no
Palácio do Campo das Princesas, sede do governo, quando os militares
informaram que Arraes estava deposto. O advogado compartilhou a
lembrança nesta quinta (27), no ato que rememorou os 50 anos do golpe
militar de 1964 e a deposição de Arraes, na sede do Instituto Miguel
Arraes, no Poço da Panela, Zona Norte do Recife.(Foto: Katherine Coutinho/G1)
Ivan Rodrigues estava no Palácio do Campo das Princesas
quando Arraes foi deposto. (Foto: Katherine Coutinho/G1)
O advogado recordou a grande movimentação de militares no entorno do
Palácio do Campo das Princesas, localizado na Praça da República, região
central da capital. Arraes se recusara a apoiar o regime
declaradamente, como lhe fora exigido para permanecer no poder. “A certa
altura, aproxima-se pelo terraço dos fundos o coronel Dutra de
Castilho. Doutor Arraes desce do primeiro andar e vai ao encontro do
coronel, no limite do terraço”, recorda.quando Arraes foi deposto. (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Coube ao coronel informar ao governador que ele estava deposto. O respeito do militar a Arraes é algo que Rodrigues carrega na memória, assim como a resposta dada pelo governador ao ser deposto. “Arraes respondeu: ‘O senhor não tem autoridade para me depor. Sou governador do estado, eleito pelo povo de Pernambuco e somente ele pode me depor. Ou então, o senhor quis dizer que estou preso e isso o senhor pode fazer pela força’”, conta o advogado.
Entre os momentos da deposição que também marcam Rodrigues está a despedida de Arraes, após ser informado que somente a família poderia permanecer no Palácio. O governador ficou na frente do elevador do primeiro andar, fazendo questão de cumprimentar e se despedir de todos os funcionários e amigos.
Fotos do acervo do Instituto reproduziam marcos da história do ex-governador. (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Contexto políticoA baixa adesão popular à reedição da Marcha da Família, este ano, é um sinal de que, hoje, as pessoas não mais aprovam a ideia do regime e começam a ter uma visão crítica sobre ele, aponta o presidente da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, Fernando Coelho, que também participou da cerimônia desta quinta-feira (27). “O golpe de 1º de abril de 1964 precisa ser entendido como um episódio da Guerra Fria. Não foi um fato isolado”, destaca.
Amparo Araújo destacou a importância da memória.
(Foto: Katherine Coutinho/G1)
Tendo participado da luta armada contra o regime, a militante Amparo
Araújo, ex-presidente do Movimento Tortura Nunca Mais em Pernambuco,
ressalta que lembrar os fatos de 1964 não é uma comemoração, mas sim um
ato para preservar a memória. “Um país que não tem memória não tem
futuro. É preciso que nossos netos assumam as bandeiras de defesa do
nosso país”, aponta, destacando que espaços como o Instituto auxiliam
para que as violações de direitos não sejam esquecidas.(Foto: Katherine Coutinho/G1)
A importância do trabalho da sociedade civil na luta por seus direitos, pela memória, é essencial para a construção da democracia, defende o coordenador do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Rodrigo Dedodato. “Nesse 1º de abril de 1964, dois jovens foram assassinados aqui no Recife, Jonas José e Ivan Albuquerque, onde hoje fica a Avenida Dantas Barreto. Há uma marca de memória exatamente naquele lugar. Isso é importante ser lembrado, pois esses jovens foram os primeiros mortos pela ditadura militar de 1964”, afirma Deodato, citando ainda as famílias que até hoje não tem respostas sobre o paradeiro de filhos e parentes.
Antônio Campos, neto de Miguel Arraes, recordou o
casamento da mãe. (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Memórias de famíliacasamento da mãe. (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Neto de Miguel Arraes e diretor do Instituto, o escritor Antônio Campos relembrou os momentos que marcaram a família, como o casamento da mãe, ocorrido em uma capela militar cercada por soldados. Arraes já estava preso e foi levado escoltado pelo Exército.
“Naquele dia, dizem que só quem não chorou, infelizmente, foi o capelão. Logo depois, ele foi a Dom Hélder Câmara e disse: ‘Dom Hélder, incrível, celebrei o casamento da filha da Arraes e só não chorou acho que eu’. [...] Dom Hélder disse: ‘oh, meu filho, que pena que você não chorou. O Cristo nos ensinou que devemos chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram”, conta Campos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário