José Carlos Teixeira conta como foi a sessão que oficializou o golpe militar.
‘Eu falei que o golpe não era o caminho para uma democracia’, diz.
Ex-deputado sergipano lembra dos momentos da ditadura e do Golpe Militar (Foto: Marina Fontenele/G1)
José Carlos Teixeira, 77 anos, foi deputado federal de Sergipe por
quatro vezes consecutivas e acompanhou de perto toda a agonia do período
da ditadura no país. Nesta segunda-feira (31) ele relembrou o golpe
militar há exatos 50 anos e contou como foi a sessão do dia 2 de abril
de 1964 no Congresso Nacional, quando foi declarada aberta a vacância da
presidência da república, vaga até então ocupada por João Goulart, o
Jango, que ainda estava em território brasileiro. A sessão
extraordinária foi convocada às pressas ainda durante a madrugada e
marcou a história do Brasil ao oficializar golpe político. Teixeira
também já foi prefeito de Aracaju e vice-governador do estado.“Foi um momento traumático e difícil e eu estava ali para defender a democracia. A sessão iniciou, os microfones foram abertos e nós difundimos as nossas ideias. Eu falei que o golpe não era o caminho para uma democracia e que eles estavam cometendo um absurdo, um erro injustificável. Estávamos todos perplexos, sem rumo, sem saber como iria ser dali para frente”, lembra José Carlos.
(ESPECIAL "50 ANOS DO GOLPE MILITAR": a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, desencadeou uma série de fatos que culminaram em um golpe de estado em 31 de março de 1964. O sucessor, João Goulart, foi deposto pelos militares com apoio de setores da sociedade, que temiam que ele desse um golpe de esquerda, coisa que seus partidários negam até hoje. O ambiente político se radicalizou, porque Jango prometia fazer as chamadas reformas de base na "lei ou na marra", com ajuda de sindicatos e de membros das Forças Armadas. Os militares prometiam entregar logo o poder aos civis, mas o país viveu uma ditadura que durou 21 anos, terminando em 1985. Saiba mais)
"Minha presença na vida pública é para cuidar do desenvolvimento do estado", diz Teixeira
(Foto: Marina Fontenele/G1)
Dias antes dessa sessão emblemática os parlamentares já se preocupavam e
discutiam sobre os rumos que o Brasil. “O voto ali era mais de
contestação ao absurdo que estavam praticando. A gente tem pensamento
firme e decidido para expor as nossas ideias que representam a opinião
pública. Evidentemente que tinha uma turma do ‘deixa para lá para ver
como é que fica’ e ‘do não vamos dar murro em ponta de faca’, mas eu
continuei firme contra toda e qualquer influência externa de
parlamentares que não tinham compromisso com a verdade naquela hora
difícil. Eu disse a eles para não perdessem tempo comigo tentando me
corromper”, afirma Teixeira.(Foto: Marina Fontenele/G1)
O parlamentar sergipano prestou solidariedade ao então presidente do Brasil. “Pedi ao deputado Pedro Simão que me representasse junto a João Goulart dando ele a minha solidariedade e que ele não tivesse dúvida que meu voto seria contra o golpe militar, mas que lamentavelmente não pudemos evitar porque foi tudo muito rápido”.
A repressão a várias categorias e a violência consequência dela não foram suficientes para intimidar José Carlos. “Nós já esperávamos algum ato de violência contra detentores do mandato na oposição, mas fomos cumprir com o nosso dever, mas em nenhum momento tive medo. Não hesitei em nenhum instante porque não faço concessões a atos que não sejam pró-democracia. Minha presença na vida pública é para cuidar do desenvolvimento de Sergipe e não para atender a chamados para interesses pessoais”, finaliza.
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