Só no porto de Mariel, a quantia já se aproxima de 3 bilhões de reais. Mas o governo tornou secretos os documentos que tratam de financiamentos brasileiros lá.
Desde que assumiu o poder, em 2006, Raúl
Castro abriu Cuba a investimentos estrangeiros a fim de melhorar
setores como transporte, agricultura e habitação. A abertura ocorreu
após a queda do turismo na ilha e dos preços do níquel, o que prejudicou
muito a economia do país. Antes dessa reorganização de investimentos,
China e Venezuela já eram grandes parceiros econômicos de Cuba, mas após
2007 o Brasil passou a ser bastante solícito com relação às
necessidades da ilha.
Em visita a Fidel Castro em janeiro de
2008, o então presidente Lula, após afirmar que a relação com Cuba
“politicamente sempre foi excelente, mas talvez tivesse menos substância
econômica”, anunciou US$ 1 bilhão em financiamentos brasileiros
para setores como construção de rodovias, empreendimentos hoteleiros,
produção de medicamentos e vacinas e importação de alimentos.
Mais tarde, em 2010, o Brasil já havia
se tornado o segundo sócio comercial de Cuba na América Latina, e no fim
do terceiro trimestre daquele ano o fluxo comercial bilateral entre os países alcançou 300 milhões de dólares. Lula tentou justificar os investimentos:
“Trabalhamos com a perspectiva de que o bloqueio a Cuba não faz mais nenhum sentido e que em algum momento ele pode cair. Portanto, Cuba terá uma capacidade extraordinária de transitar no comércio internacional. Por isso que o Brasil está entusiasmado em fazer o financiamento para que empresas brasileiras possam trabalhar aqui e ajudar no desenvolvimento do País.”
(Lula, em fevereiro de 2010)
Em 2011, o site oficial do governo brasileiro anunciou investimento de US$ 200 milhões entre
2012 e 2015 para ajudar na produção agrícola de Cuba, e o país já havia
adiantado um crédito de US$ 70 milhões. No início de 2012, assinou convênio para a criação de uma fábrica de medicamentos com recursos brasileiros e tecnologia cubana e já em 2013 concedeu US$ 176 milhões para a modernização de cinco aeroportos.
A obra mais escandalosa, no entanto, é a modernização do porto de Mariel, localizado a 50km de Havana. Inicialmente, o governo brasileiro havia destinado US$ 433 milhões de um total de US$ 800 milhões necessários para a reforma. Em 2012, soube-se que o país financiaria 85% das obras por meio do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas ontem, após a inauguração, Dilma afirmou que o Banco financiou na verdade US$ 802 milhões (quase 2 bilhões de reais) só na primeira fase do projeto.
Em pronunciamento, a presidente disse que “o Brasil acredita e aposta no potencial humano e econômico de Cuba“,
e anunciou ainda que o país cederá mais US$ 290 milhões (ou mais de R$
700 milhões) para a segunda etapa da obra. Para fins comparativos, o
investimento total do BNDES em todos os portos brasileiros entre 2014 e
2017 será de US$ 16 bilhões, o que dá uma média de R$ 260 milhões por porto.
Com tantos investimentos, o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, chegou a tornar secretos os documentos que tratam de financiamentos do Brasil aos governos de Cuba e Angola (um dos países mais corruptos do mundo) sob a justificativa de que foi uma solicitação deles.
Não são as únicas nações a receber investimentos do BNDES – foram ao
menos 15 em 2012 – mas as únicas a ter o financiamento colocados em
sigilo até 2027 pelo governo petista.
Mais médicos, mais bilhões
Em agosto de 2013, foi anunciado que a primeira leva de 4 mil médicos cubanos custaria aos cofres públicos mais meio bilhão de reais somente até fevereiro de 2014, mesmo sendo necessários “apenas” R$ 280 milhões para arcar com os custos destes profissionais. Nada disso impediu que há dois dias o governo anunciasse a importação de mais 2 mil profissionais. A expectativa, no entanto, é que até a fase final do programa esse número chegue a 10 mil.
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