Houve um tempo em que a droga
dobrava de preço porque a polícia tirava traficantes de circulação. O PT
conseguiu subir o preço do crack dando dinheiro para os viciados e
reclamando da repressão ao tráfico. Os traficantes agradecem. A matéria
abaixo é da Folha de São Paulo.
O preço da pedra de crack chegou a
dobrar já no primeiro dia de pagamento dos 302 usuários da cracolândia
que trabalham no programa Braços Abertos, da prefeitura de São Paulo. A
pedra, que custava R$ 10, sofreu variação de preço na tarde de ontem e
chegou a custar até R$ 20, segundo relatos de usuários à Folha no fluxo (local de venda e consumo).
De acordo com a prefeitura, 302 usuários receberam, em dinheiro, R$ 120 pela semana de trabalho na varrição de praças e ruas. O
pagamento também estimulou as vendas no comércio tradicional da região
--bolachas, salgadinhos, refrigerantes e outros produtos de consumo
rápido foram os mais procurados.
A circulação de dinheiro na
cracolândia também reforçou uma prática comum entre os usuários: a
compra e revenda de pedras de crack. No fim do dia, após o frenesi provocado pela circulação de dinheiro novo, a pedra já podia ser encontrada mais barata, a R$ 10. O pagamento resultou numa injeção de R$ 36.240 na economia da região.
'LUXO'
Isaacc e a mulher, com R$ 240 em
mãos, correram para garantir "um luxo" ao quarto do hotel. "É hoje, é
hoje que eu finalmente compro minha televisão [usada]", disse. Outros
aproveitaram para adquirir produtos de limpeza e de higiene. "Vou
comprar umas coisas com mais qualidade, não gostei do kit da
prefeitura", afirmou Clayton.
Adnan Rodrigues usou o dinheiro para
tentar evitar as recaídas. "Quero um pote de doce de leite, o doce me
ajuda a evitar abstinência", contou. O
preço da pedra na cracolândia é R$ 10 há pelo menos dez anos, diz Bruno
Ramos Gomes, presidente da ONG É de Lei, que atua na região, Ele não acredita que a inflação tenha sido causada pelo pagamento da prefeitura. "Talvez ela esteja relacionada com a dificuldade de chegar pedra na área, dada à repressão policial", diz.
Segundo Heron do Carmo, economista
da USP, o que ocorreu na cracolândia tem a ver com o princípio elementar
da inflação. "É a mesma coisa que ocorre com o preço dos hotéis no Rio
por causa da Copa", diz. Ele
afirma que o aumento também pode ser explicado pela concentração da
venda num só lugar, que restringe as opções: "Achei a experiência da
prefeitura interessante, mas é uma coisa para se levar em conta na
avaliação da política", diz. "O usuário precisa primeiro ter um plano de
vida. E só aí receber um salário", afirma Gomes.
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