MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 28 de dezembro de 2013

Samba do brasileiro doido


Encastelados no trono, passaram a falsificar a história.

Orwell já disse que “quem controla o futuro controla o presente, e quem controla o presente controla o passado”. Os ditadores comunistas especializaram-se nisso, apagando das fotos todos os poderosos que caíram em desgraça. Recentemente pudemos ver este mecanismo em ação na Coreia do Norte, onde o tio do ditador vem sendo apagado da memória oficial.

É mais ou menos a mesma coisa que vem acontecendo com a história recente de nosso país. Tivemos, de 1964 até 1985, um governo desenvolvimentista autoritário, combatido na maior parte do tempo por grupelhos de guerrilha maoísta, stalinista e trotskista que – ao contrário do governo – não dispunham de absolutamente nenhum apoio popular para seus planos de estabelecer uma “ditadura do proletariado” semelhante às de Cuba ou da Coreia. Uma pequeníssima parcela da classe média urbana os apoiava, mas só. Sua ação, para piorar as coisas, levou a um recrudescimento ditatorial do autoritarismo já reinante, atrasando a redemocratização do país em pelo menos 15 anos.
Após o fim da ditadura, usando como escada a esquerda moderada que os governos militares não só toleravam, mas incentivavam, membros desses grupelhos chegaram ao poder, presenteando-se com pensões milionárias, isentas de Imposto de Renda. Até aí, nada de novo; o patrimonialismo que faz dos bens públicos prêmios a amigos do governo é uma antiquíssima tradição brasileira.
Encastelados no trono, contudo, passaram a falsificar a história. Escolas nomeadas em homenagem a presidentes militares passaram a homenagear terroristas assassinos, procurados com razão pela polícia durante os governos militares. O cadáver do pobre Jango, um presidente fraco que se deixou levar pelo que de pior havia na esquerda de então, foi desenterrado e cutucado sem que nada de errado fosse encontrado. Mesmo assim, na hora de devolvê-lo ao campo santo, fez-se uma farsa ao dar-lhe honras militares, seguidas pela devolução simbólica da Presidência ao cadáver. É a reescrita farsesca da história. Com JK, então, a coisa é ainda mais delirante: inventou-se – contrariamente ao discernido pela perícia e ao bom senso – que ele foi assassinado, provavelmente por um atirador saído de algum filme americano, capaz de acertar a cabeça de um motorista no meio de uma curva movimentada na Via Dutra. Pudera que os parentes do motorista considerem toda essa movimentação uma piada macabra.
Ninguém na história é santo: nem os militares, nem os terroristas ora no poder. Esta farsa, contudo, já está ficando ridícula.


Publicado no jornal Gazeta do Povo.

Carlos Ramalhete é professor.

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