Em negócio de família, tradicionais boleiras cativam clientes pelo paladar.
Produção artesanal de guloseimas movimenta economia informal em AL.
Assim como no passado a economia de Alagoas continua sendo cunhada em
torno do açúcar. Ingrediente que cativa paladares e que é responsável
pela socialização e geração de renda em diversas comunidades do estado. É
assim em Riacho Doce, bairro do litoral norte de Maceió,
conhecido pela presença das tradicionais boleiras, mulheres que
fabricam de forma artesanal diversos quitutes sob fornos de barros
abastecidos a lenha.
Como o nome do bairro já indica, Riacho Doce é um lugar de sabores moldados aos costumes populares. As receitas das guloseimas, que são produzidas e comercializadas à beira da rodovia AL-101, foram passados oralmente entre as mulheres do lugar, que detém as receitas, mas que não tem a menor ideia de como a tradição da gastronomia popular começou.
Nos cestos e tabuleiro destas alagoanas que transformam ingredientes da
culinária popular em guloseimas estão: bolos de milho e macaxeira,
suspiros, tapiocas, pé de moleque, beijus e brasileiras. Tudo a preço
popular com unidades e porções que variam entre R$ 2 e R$ 3.
Negócio de família
Os fornos artesanais de quitutes estão espalhados por todo o bairro. Localizados nos quintais das residências familiares e até mesmo a beira-mar, a tradição da culinária popular resiste conquistando o paladar de alagoanos e turistas, e movimentando a economia local. A fabricação das guloseimas é sinônimo de satisfação e renda para famílias inteiras que criaram, mesmo sem saber, uma cadeia produtiva que sustenta a economia popular do bairro da periferia de Maceió.
Uma das cozinhas tradicionais para o preparo das delícias de Riacho Doce é de Cristina dos Santos, 44, que trabalha sob o chão da areia de praia, teto de palha e frescor da brisa do mar, ao lado da amiga Valéria Góes dos Santos, 46, na fabricação dos quitutes.
“Desde criança vi minha mãe trabalhando em forno de lenha preparando
bolos. Ela sustentou a família por anos com esse trabalho. Aprendi todas
as receitas com ela, que aprendeu com minha vó. Ninguém sabe como esse
costume começou ou as receitas foram criadas. Isso é algo que vem sendo
produzido há anos”, conta Cristina ao relatar que todos os produtos para
fabricação das guloseimas são adquiridos no comércio alagoano.
“Todos os produtos para fabricação são daqui de Alagoas mesmo. Um fornecedor traz o coco, o outro a farinha de mandioca, a manteiga e o açúcar, outro a lenha e as palhas de bananeiras que embrulham o grude e o pé de moleque no cozimento. Quem só vê os bolos e as tapiocas prontos não sabem o trabalho que dá para fazer e quantas pessoas estão envolvidas no processo”, completa.
O mesmo acontece na casa de Ana Abel, 47, que com outras quatro mulheres da família fabricam os 'bolos de Riacho Doce' para vender em cestos e tabuleiros que são expostos na porta de casa. “Trabalham as irmãs todas juntas. Cada uma faz uma etapa do preparo, rala o coco, prepara a massa e cuida do forno. Apreendemos com a nossa mãe, Dona Persiana - que faleceu há pouco tempo e que foi considerada patrimônio imaterial de Alagoas diante da habilidade gastronômica – o preparo dos bolos. Aqui, mesmo com toda produção artesanal prezamos pela qualidade e o sabor, mesmo que o lucro nas vendas seja baixo”, conta Ana Abel.
Quem aprova a tradição das boleiras de Riacho Doce é a carioca Sandra Leite. “Quando viajo gosto bastante de apreciar comidas locais. Conheci Riacho Doce na minha primeira viagem que fiz à Maceió em 2003. Um amigo alagoano me trouxe e sempre que venho a Alagoas volto aqui. Fiquei encantada com o lugar e adorei a brasileira (espécie de bolo com coco) e o pé-de-moleque que são feitos aqui. Eles tem um sabor especial e são muito baratos além de tudo”, diz Sandra.
A maioria das boleiras de Riacho Doce comercializam os produtos em cestos e tabuleiros montados ao longo da rodovia AL-101 norte. O ponto de referência para o comércio informal da gastronomia popular é a praça principal do bairro. Lá basta parar o carro, apreciar as guloseimas e negociar o preço; ou seguir até um dos fornos artesanais para comprar os produtos ainda quente, feitos na hora. Para chegar até uma das boleiras basta perguntar a qualquer pessoa do bairro quem fabrica bolo em fornos artesanais.
No entanto, também é possível encontrar os tradicionais bolos de milho e macaxeira, suspiros, tapiocas, pé de moleque, beijus e brasileiras de Riacho Doce em outros bairros da capital alagoana, e até mesmo no calçadão do Centro de Maceió e na estação Ferroviária.
“Fazemos os bolos em uma escala maior e distribuímos por Maceió para pessoas que vendem em feiras livres e bancas montadas no centro da cidade. Há dias que chegamos a vender até 500 bolos dia”, conta Amaura que conta com ajuda de diversas pessoas da família para dar conta da produção em escala dos bolos artesanais.
Empreendedorismo popular
O “fazer acontecer” mesmo na economia informal e de forma despretensiosa das boleiras de Riacho Doce as colocam como pessoas empreendedoras. A afirmativa é do professor universitário, administrador e consultor em Empreendedorismo, Adriano César.
Segundo ele, o aglomerado de pessoas desempenhando uma mesma atividade em uma comunidade, a exemplo do que ocorre em Riacho Doce, ganha importância porque além de reforçar a economia local, alimentando uma cadeia produtiva, assegura a preservação da identidade cultural.
“É certo que muitas destas boleiras não tem nem sequer ideia que são empreendedoras e que estão inseridas em uma cadeia produtiva de sucesso. Muitas estão fazendo apenas o que sabem, o que apreenderam com a família, para ganhar dinheiro e sobreviver. Elas exercem uma vocação natural. No entanto, o potencial da atividade é visível e se mostra promissora para comunidade. Ainda mais, se elas entenderem que organizadas e formalizadas podem ter benefícios individuais e coletivos”, evidencia o consultor.
Fornos de barro artesanais aquecidos a lenha estão espalhados por todo bairro de Riacho Doce (Foto: Waldson Costa/G1)
Como o nome do bairro já indica, Riacho Doce é um lugar de sabores moldados aos costumes populares. As receitas das guloseimas, que são produzidas e comercializadas à beira da rodovia AL-101, foram passados oralmente entre as mulheres do lugar, que detém as receitas, mas que não tem a menor ideia de como a tradição da gastronomia popular começou.
Negócio de família
Os fornos artesanais de quitutes estão espalhados por todo o bairro. Localizados nos quintais das residências familiares e até mesmo a beira-mar, a tradição da culinária popular resiste conquistando o paladar de alagoanos e turistas, e movimentando a economia local. A fabricação das guloseimas é sinônimo de satisfação e renda para famílias inteiras que criaram, mesmo sem saber, uma cadeia produtiva que sustenta a economia popular do bairro da periferia de Maceió.
Uma das cozinhas tradicionais para o preparo das delícias de Riacho Doce é de Cristina dos Santos, 44, que trabalha sob o chão da areia de praia, teto de palha e frescor da brisa do mar, ao lado da amiga Valéria Góes dos Santos, 46, na fabricação dos quitutes.
Ninguém sabe como esse costume começou ou as receitas foram criadas. Isso é algo que vem sendo produzido há anos"
Cristina dos Santos, boleira
“Todos os produtos para fabricação são daqui de Alagoas mesmo. Um fornecedor traz o coco, o outro a farinha de mandioca, a manteiga e o açúcar, outro a lenha e as palhas de bananeiras que embrulham o grude e o pé de moleque no cozimento. Quem só vê os bolos e as tapiocas prontos não sabem o trabalho que dá para fazer e quantas pessoas estão envolvidas no processo”, completa.
O mesmo acontece na casa de Ana Abel, 47, que com outras quatro mulheres da família fabricam os 'bolos de Riacho Doce' para vender em cestos e tabuleiros que são expostos na porta de casa. “Trabalham as irmãs todas juntas. Cada uma faz uma etapa do preparo, rala o coco, prepara a massa e cuida do forno. Apreendemos com a nossa mãe, Dona Persiana - que faleceu há pouco tempo e que foi considerada patrimônio imaterial de Alagoas diante da habilidade gastronômica – o preparo dos bolos. Aqui, mesmo com toda produção artesanal prezamos pela qualidade e o sabor, mesmo que o lucro nas vendas seja baixo”, conta Ana Abel.
Quem aprova a tradição das boleiras de Riacho Doce é a carioca Sandra Leite. “Quando viajo gosto bastante de apreciar comidas locais. Conheci Riacho Doce na minha primeira viagem que fiz à Maceió em 2003. Um amigo alagoano me trouxe e sempre que venho a Alagoas volto aqui. Fiquei encantada com o lugar e adorei a brasileira (espécie de bolo com coco) e o pé-de-moleque que são feitos aqui. Eles tem um sabor especial e são muito baratos além de tudo”, diz Sandra.
Culinarista faz o corte do bolo para montar no tabuleiro de venda (Foto: Waldson Costa/G1)
Venda em escalaA maioria das boleiras de Riacho Doce comercializam os produtos em cestos e tabuleiros montados ao longo da rodovia AL-101 norte. O ponto de referência para o comércio informal da gastronomia popular é a praça principal do bairro. Lá basta parar o carro, apreciar as guloseimas e negociar o preço; ou seguir até um dos fornos artesanais para comprar os produtos ainda quente, feitos na hora. Para chegar até uma das boleiras basta perguntar a qualquer pessoa do bairro quem fabrica bolo em fornos artesanais.
No entanto, também é possível encontrar os tradicionais bolos de milho e macaxeira, suspiros, tapiocas, pé de moleque, beijus e brasileiras de Riacho Doce em outros bairros da capital alagoana, e até mesmo no calçadão do Centro de Maceió e na estação Ferroviária.
A tradicional brasileira, guloseima feita com coco
pelas boleiras (Foto: Waldson Costa/G1)
A logística de expandir o comércio das guloseimas por Maceió é obra da
família da boleira Amaura dos Santos e dos proprietários de diversos
outros fornos de Riacho Doce. Ao contrário das famílias que produzem os
bolos apenas em dias determinados para vender na rodovia, este outro
grupo fornece os cestos cheios para diversos vendedores da cidade.pelas boleiras (Foto: Waldson Costa/G1)
“Fazemos os bolos em uma escala maior e distribuímos por Maceió para pessoas que vendem em feiras livres e bancas montadas no centro da cidade. Há dias que chegamos a vender até 500 bolos dia”, conta Amaura que conta com ajuda de diversas pessoas da família para dar conta da produção em escala dos bolos artesanais.
Empreendedorismo popular
O “fazer acontecer” mesmo na economia informal e de forma despretensiosa das boleiras de Riacho Doce as colocam como pessoas empreendedoras. A afirmativa é do professor universitário, administrador e consultor em Empreendedorismo, Adriano César.
Segundo ele, o aglomerado de pessoas desempenhando uma mesma atividade em uma comunidade, a exemplo do que ocorre em Riacho Doce, ganha importância porque além de reforçar a economia local, alimentando uma cadeia produtiva, assegura a preservação da identidade cultural.
“É certo que muitas destas boleiras não tem nem sequer ideia que são empreendedoras e que estão inseridas em uma cadeia produtiva de sucesso. Muitas estão fazendo apenas o que sabem, o que apreenderam com a família, para ganhar dinheiro e sobreviver. Elas exercem uma vocação natural. No entanto, o potencial da atividade é visível e se mostra promissora para comunidade. Ainda mais, se elas entenderem que organizadas e formalizadas podem ter benefícios individuais e coletivos”, evidencia o consultor.
Fornos artesanais de barros para fabricação das guloseimas estão espalhados pelo bairro de Riacho Doce (Foto: Waldson Costa/G1)
Com a fabricação e comercialização de bolos artesanais de milho e
macaxeira, suspiros, tapiocas, pé de moleque, beijus e brasileiras, as
boleiras de Riacho Doce chegam a ganhar até R$ 600 por mês; valor que
chega a aumentar no verão com a maior circulação de turistas no bairro
litorâneo que é passagem para quem segue para diversas outras praias do
litoral norte alagoano.
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