MEDIÇÃO DE TERRA

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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Brasil precisa vencer resistência e superar problemas de infraestrutura para receber a Copa em 2014


Zero Hora ouviu especialistas sobre o evento que será teste para afirmar o país como referência

ZERO HORA
Brasil precisa vencer resistência e superar problemas de infraestrutura para receber a Copa em 2014 Montagem sobre fotos AFP, Ronaldo Bernardi e Félix Zucco/
Foto: Montagem sobre fotos AFP, Ronaldo Bernardi e Félix Zucco
Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. Não será fácil.
No ano em que terá os olhares do mundo voltados para si, o Brasil vai precisar vencer resistências internas à realização da Copa do Mundo, superar uma série de problemas de infraestrutura e lidar com o risco de novas manifestações durante o período da competição. A perspectiva de especialistas ouvidos por Zero Hora é de que passaremos raspando naquele que será o grande teste para afirmar o país como referência às grandes potências do planeta.
– Há um estereótipo de país tropical, com cultura aberta a diferenças e grandes valores musicais, que é vendido e construído pela mídia e pelo setor de turismo. É uma importância simbólica o Brasil se apresentar como desenvolvimentista – reflete Fabiano Mielniczuk, diretor da Audiplo, empresa de relações internacionais, e professor da UniRitter.
Se tudo sair como planejado pelo governo federal e pela Fifa (ou pelo menos próximo do projetado), o país terá a sua imagem de nação em franca ascensão reforçada. Se problemas que estão à espreita se sobressaírem, será um passo atrás na autoestima da sociedade brasileira e no moral da nação no Exterior. Professor do departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da USP, Nicolau Gualda afirma que a solução para atrasos na execução dos projetos de mobilidade previstos inicialmente para o Mundial será o famoso jeitinho brasileiro: feriados e ponto facultativo para que aeroportos e avenidas não fiquem abarrotados em dias de jogos.
– Quando foi anunciado que o Brasil  era o escolhido, em 2007, um jornalista me ligou e perguntou: e daí, o que o senhor acha que vai acontecer? Muito pouco, respondi. E disse que teria dinheiro, acabariam fazendo na última hora, custaria muito mais caro e fariam muito menos do que poderiam. Isso faz seis anos. E foi o que aconteceu –  resume Gualda.
A previsão atual de investimentos em infraestrutura (o que inclui obras de mobilidade, aeroportos e portos, estádios, telecomunicações e turismo) é de quase R$ 26 bilhões. Desse total, o valor destinado aos novos estádios ultrapassou o total destinado aos projetos de mobilidade. Para receber uma previsão oficial de 600 mil turistas estrangeiros e acomodar os cerca de 3 milhões de brasileiros que viajarão pelo país durante a Copa serão investidos R$ 180 milhões, além de uma linha exclusiva de financiamento para hospedagem que passa de R$ 1 bilhão – o número de turistas de fora do país é contestado por especialistas, que acreditam que serão, no máximo, 300 mil.

Segurança é alvo de críticas e novos protestos são aguardadosMas, independente da quantidade de turistas que virão para cá, estarão (e estaremos todos) seguros durante o evento?
– Será um clima de celebração e festa. Estaremos empenhados para que todos, não só os estrangeiros, tenham a confiança de que estarão em um ambiente pacífico – garante o delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, secretário extraordinário de Segurança para Grandes Eventos, que vai coordenar as ações de segurança pública durante a Copa.
A avaliação de Rodrigues é bem diferente do que pensa o coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo e professor do Centro de Altos Estudos da PM de São Paulo José Vicente da Silva Filho. Especialista em segurança, Tavares critica o planejamento na área:
– Estamos com um esboço em um grande improviso. Quando chega no nível do detalhe, onde o diabo costuma se esconder, se percebe que não é um sistema funcional. A polícia confia que na hora se dá um jeito, o famoso jeitão brasileiro. E geralmente se dá bem, à exceção das manifestações deste ano, que colocaram isso em xeque.
E é nas manifestações que residem grandes incógnitas de 2014: qual será o tamanho da mobilização, como será a reação policial e de que forma repercutirão no Exterior?
– Lógico que haverá setores mais críticos em relação à Copa e, principalmente, à Fifa. O governo e grande parte da população não estavam preparados para protestos da magnitude dos de junho. Como ocorreram com essa antecedência, o governo agora tem como se organizar. E me parece que estará mais preparado para dar conta – afirma  Maria do Socorro Souza Braga, cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos.
Para o cientista político e professor da Unicamp Valeriano Costa, o Brasil deve seguir o exemplo de países que conseguiram passar por problemas e fizeram verdadeiros "milagres" ao sediar grandes eventos, caso da Espanha em 1982 e da África do Sul, em 2010.
– Acho que o país vai sair mais relaxado, vai respirar. Começou com um entusiasmo terrível, quase infantil, um sentimento ufanista que foi se decompondo de 2007 até agora. Se não ganharmos haverá reflexão maior, mas não será uma conclusão negativa ou lamentável. O saldo final, tendo a ver como positivo.
3 GRANDES DESAFIOS:
Segurança
Com integração quase nula entre diferentes forças policiais e órgãos, o país terá de dar um passo enorme para conseguir transmitir ao mundo (e garantir àqueles que estiverem aqui, sejam estrangeiros ou brasileiros) a sensação de que tudo estará sob controle durante a competição. Será preciso um trabalho de troca de informações constante com autoridades de segurança de outros países para monitorar arruaceiros que virão de fora e um diagnóstico preciso de situações de risco no entorno dos estádios. O calcanhar de Aquiles deve ser a reedição dos protestos que marcaram o período da Copa das Confederações. A saída às ruas deve ocorrer em proporção menor do que visto em junho de 2013, mas as autoridades trabalham para prevenir ações violentas.
InfraestruturaDois países estarão expostos durante a Copa: um moderno e emergente, capaz de dar conta de um grande evento, e outro da vida real, com obras inconclusas, improvisação em aeroportos e feriados nas cidades-sede para evitar congestionamentos.

- O desafio logístico, a gente tende a superar com alguns percalços. Até porque não acredito nos 600 mil turistas estrangeiros apregoados pelo governo - afirma o economista e sócio-diretor da Pluri Consultoria, Fernando Ferreira.
Parte do investimento de R$ 25 bilhões em infraestrutura não deve ficar pronto a tempo, além do que era inicialmente previsto para o Mundial e já deixou de ser considerado obra da Copa.
- Felizmente veio a Copa e uma série de medidas, como as concessões de aeroportos e algumas intervenções de transporte público urbano. Estão atrasadas e muitas não vão ser feitas. Mas se não fosse o Mundial, não sairiam. Só que poderia ser um legado muito maior - comemora e, ao mesmo tempo, lamenta o professor Nicolau Gualda, do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da USP.
EnvolvimentoPara a cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos Maria do Socorro Souza Braga, o forte apelo (e a dimensão) de um evento como o Mundial deve gerar um ambiente diferente do visto durante a Copa das Confederações. Ainda que as reações da sociedade brasileira durante a competição possam ser influenciadas pelo clima de eleições a presidente e governador, o também cientista político e professor da Unicamp Valeriano Costa entende que o saldo deve ser positivo entre a sociedade brasileira.
- A sociedade está preparada (para receber o evento). Não sei quanto ao Estado e aos responsáveis pela administração. Do ponto de vista da população, tem vários setores que vão se beneficiar com um evento como esse. Para as sedes, por mais que tenha incômodos com obras, o retorno financeiro é muito grande. Isso eleva o otimismo e a autoestima - afirma Maria do Socorro.

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