Chance de lucrar opõe parte da população a fechamento do comércio nesta.
Cenas de multidão no cemitério em 1976 não devem se repetir no 2º enterro.
Feriado não agradou Ivonete Figueiredo, dona de um ginásio em São Borja (Foto: Estêvão Pires/G1)Nas ruas do município, poucos moradores confirmaram à reportagem do G1 se iriam à cerimônia prevista para iniciar às 16h30 no Cemitério Jardim da Paz, onde há um mês, sob o olhar do país, ocorreu a exumação de Jango. Mesmo os que apoiam a realização do feriado.
A insatisfação maior com o feriado parte de comerciantes e empresários. Entre eles está Ivonete Figueiredo, de 38 anos, proprietária de um ginásio de esportes no Centro de São Borja. "Achei ruim porque nesta época do ano temos muito movimento. Vamos abrir no feriado, como sempre fazemos, mas muitos horários marcados nas quadras de futebol já foram cancelados. Muita gente também irá viajar por causa do feriado", reclamou.
Guilherme prometeu abrir o estabelecimentoapesar do decreto (Foto: Estêvão Pires/G1)
Desperdiçar a chance de faturar no fim de ano também é justificativa para a microempresária Michele Soares divergir da existência do feriado, em mais um dia no qual o Brasil volta a lembrar São Borja. "Tenho uma loja de confecções no Centro. Se abrir, poderei pagar uma multa. Mas sei que muitos clientes gostariam de aproveitar a sexta para gastar com as compras de Natal", disse ela.
"Isso é bobagem"
Guilherme Porto, empresário
Para o presidente do comitê municipal que apoia a Comissão Nacional da Verdade, o advogado Iberê Teixeira, a "insensibilidade" reflete a distância temporal dos fatos históricos. "Em São Borja há pouquíssimas pessoas ainda vivas que foram eleitores de Jango. Os que estão aí têm mais de 70 anos. E por isso, também acredito que o público não será grande no cemitério, assim como foi na exumação. Entendo que é natural", analisou.
É uma justa homenagem"
Jaime Munro, aposentado
Apesar da insatisfação de alguns, a rede hoteleira de São Borja não tem motivos para reclamar. Nos sete maiores hotéis do município, apenas dois ainda tinham escassas vagas até a manhã desta sexta, segundo levantamento do G1. A prefeitura informou que o feriado só terá validade neste ano, de acordo com o decreto.
Honras militares em São Borja
A chegada dos restos mortais de Jango está prevista para as 11h no Aeroporto de São Borja, onde militares irão cobrir o caixão com uma bandeira do Brasil, e saudarão o desembarque com tiros de fuzil. De lá, o esquife será levado em cortejo até a Igreja Matriz do município. No local, haverá visitação do público a partir as 12h e uma missa deve ocorrer entre 15h30 e 16h30.
| Programação | |
|---|---|
| 7h: saída dos restos mortais de Jango de Brasília | |
| 11h: chegada dos restos mortais a São Borja e traslado até a Igreja da Matriz | |
| 12h: abertura da igreja ao público | |
| 15h30: missa | |
| 16h30: traslado dos restos mortais ao Cemitério Jardim da Paz e segundo enterro |
Entre as autoridades que já têm presença confirmada estão a titular da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL) e Pedro Simon (PMDB), que era amigo de Jango e colaborador do trabalhismo na época da morte. Simon, Maria do Rosário, o prefeito de São Borja, Farelo Almeida (PDT), e João Vicente Goulart, um dos filhos de Jango, discursarão antes da devolução dos restos mortais ao jazigo da família.
Como o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, está na China para compromissos, o presidente da Assembleia Legislativa, Pedro Westphalen (PP), vai representar o Executivo gaúcho durante as cerimônias.
Morte no exílio
Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina.
Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas uma autópsia nunca foi realizada. Na última década, evidências levantaram a hipótese de que o ex-presidente tenha sido envenenado por agentes das ditaduras uruguaia e argentina, em colaboração com o governo brasileiro.
A principal delas foi o depoimento dado pelo ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro ao filho de Jango, João Vicente Goulart, em 2006. Preso por crimes comuns, ele cumpria pena em uma Penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul. Disse que espionava Jango e que participou de um complô para introduzir uma substância mortal nos medicamentos que o ex-presidente tomava.
Em 2007, a família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).
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