CLEIDE SILVA - O Estado de S.Paulo
Após nove anos seguidos de crescimento nas vendas,
fabricantes de veículos já temem o primeiro recuo nos negócios com base
no fraco desempenho registrado em agosto. Até quinta-feira, faltando
portanto um dia útil a ser contabilizado no mês, as vendas acumuladas
desde janeiro apresentavam crescimento de apenas 0,75% em relação ao
mesmo período de 2012, com 2,449 milhões de unidades. Desde abril e maio, quando o crescimento acumulado estava próximo a 9%, os porcentuais estão caindo, passando a 4,8% em junho, 2,6% em julho e com chances de ficar entre 1% e 2% negativos neste mês, mesmo com o acréscimo dos licenciamentos de ontem.
"Esse cenário de não crescimento das vendas e de escalada de preços é bastante preocupante", diz o executivo de uma das grandes montadoras.
Ele cita a alta cambial - que encarece os preços de matérias-primas e componentes importados -, a obrigatoriedade de instalação de airbag e freios ABS em todos os carros a partir de janeiro, o fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) também em janeiro e pedidos de reajuste de preços por parte de fornecedores, como os de aço, que começam a pleitear alta de cerca de 8%.
"É um cenário que não aparecia no planejamento no início do ano", diz o executivo, ao justificar as previsões otimistas do setor, que apostava em novo recorde de vendas neste ano, com números próximos a 3,9 milhões de veículos.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) previa, desde o início do ano, um aumento de 3,5% a 4,5% nas vendas em relação às 3,8 milhões de unidades registradas em 2012. Na próxima semana, quando divulgar o balanço oficial do mês, a entidade vai rever a aposta para baixo.
A indústria esperava vender neste mês 335 mil veículos, mas, até quinta-feira, os licenciamentos somavam 307,9 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, uma alta de 1,26% em relação a igual período de julho, mas 12% inferior aos números do mesmo intervalo de agosto de 2012.
Estoques. O reflexo do desaquecimento é a elevação dos estoques. Segundo a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o item material de transporte, que tem como maior peso carros e autopeças, mostra que 26,8% das indústrias consultadas informaram ter estoques acima do normal. Em julho, esse porcentual era de 16,6%.
"O nível de estoques do segmento de material de transporte está alto principalmente por influência do segmento de automóveis, mas a evolução entre julho e agosto foi dada pelos caminhões e ônibus", diz o responsável pela pesquisa da FGV, Aloisio Campelo.
Um executivo do setor de caminhões informa que há uma demora na aprovação de crédito para financiamento por parte dos bancos, o que tem dificultado as vendas. "Além disso, o baixo desempenho da economia gera insegurança e o frotista prefere esperar".
A prazo para liberação de financiamento, que era de cinco dias, em média, está entre 20 e 30 dias, diz o executivo. Até quinta-feira, as vendas de caminhões apresentavam queda de 9% em relação a igual período de julho, com 12.458 unidades, mas alta de 30% ante agosto de 2012. As de automóveis e comerciais leves estavam 1,68% maiores ante julho, e 13,3% inferiores aos números de um ano atrás, somando 292,6 mil unidades.
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