Máquina da prefeitura de Maceió desobstruiu saída de galeria pluvial.
Canal que deveria conter apenas água da chuva acumula dejetos sólidos.
O registro, feito no dia 20 de setembro, trata-se da abertura de um canal na areia da praia para levar a água suja com dejetos sólidos proveniente de esgoto, que estava acumulada numa galeria pluvial, até o mar.
A naturalidade com que o operário trabalhava e com que os banhistas encaravam a cena na praia que é um dos cartões postais da capital alagoana chocou tanto o grupo, que várias pessoas filmaram o ato e divulgaram em redes sociais. Uma delas foi o jornalista Rafael Soriano, que destacou à reportagem do G1 o sentimento de indignação ao ver a cena.
“A gente pensou, inicialmente, que o trator estivesse limpando a praia, mas quando chegamos mais perto notamos que ele estava abrindo caminho para aquela água podre poder seguir até o mar. O cheiro era forte e horrível, parecia carniça”, contou.
O cheiro era forte e horrível, parecia carniça"
Rafael Soriano, jornalista
Procurado pela reportagem do G1, o infectologista Fernando Maia concorda que a situação é perigosa para banhistas e para a saúde do meio ambiente. “Em caso de contato com a água poluída, é muito comum a diarreia bacteriana devido aos coliformes fecais. Quanto maior a concentração, pior. Também tem a diarreia por causa da hepatite A. Nos locais que há cólera, que não é o caso de Alagoas, a doença também pode ser contraída. Se na água suja tiver a presença de produtos químicos, pode causar irritação na pele. E a contaminação por frutos do mar também pode ocorrer”.
Galeria pluvial acumula água com dejetos sólidos na Ponta Verde. (Foto: Jonathan Lins/G1)
Procedimento necessárioApós ter acesso ao vídeo registrado pelo grupo na Ponta Verde, a Slum analisou as imagens e afirmou, por meio de sua assessoria, que o órgão não é responsável pela operação e manutenção das galerias pluviais, apenas pela limpeza das praias, mas que o procedimento realizado pelo técnico da Slum no trator foi correto.
“A maré empurra a areia e obstrui a saída das galerias pluviais, então temos que fazer aquela abertura para que a água escorra. Pior é deixar ela acumulada ali, pois quando chovesse aquela galeria ia dar retorno e alagaria toda aquela região, ou seja, estaríamos permitindo uma situação de calamidade”, afirmou o superintendente da de Limpeza do Município, Gustavo Novaes.
“Teoricamente, as galerias pluviais deveriam conter apenas água das chuvas, que desaguariam no mar sem problemas, mas esses dejetos sólidos podem estar por duas situações: ligações clandestinas de esgoto em hotéis, prédios e pontos comerciais e uma falha na rede sanitária da casal, que estaria dando um retorno no sistema de esgoto”, apontou.
Ligações clandestinas e obstrução no sistema de
esgoto poluem água que vai para o mar.
(Foto: Jonathan Lins/G1)
De acordo com Novaes, os pontos mais críticos identificados pela Slum é
nas galerias pluviais nas praias de Pajuçara e Cruz das Almas. “Há
alguns anos houve uma reestruturação no sistema de esgotamento, onde a
prefeitura identificou e acabou com as ligações clandestinas, mas outras
novas podem ter surgido”.esgoto poluem água que vai para o mar.
(Foto: Jonathan Lins/G1)
Fiscalização e autuação
A situação não é nova e a prefeitura já vem trabalhando para que o problema se resolva, segundo o secretário do Meio Ambiente de Maceió, Rafael Wong. “Nós estamos trabalhando constantemente com um programa de fiscalização contra ligações clandestina, identificamos e autuamos prédios, hotéis, frigoríficos, entre outros”, disse.
A Companhia de Saneamento (Casal) e seu sistema de esgotamento na parte baixa da cidade está na mira da Sempma. De acordo com Wong, a secretária já autuou o órgão e vem dialogando para que o problema de retorno do esgoto seja sanado.
“Já tínhamos solicitado a limpeza do sistema de esgoto e foi feita, mas depois de alguns dias a rede principal do esgoto continuou vazando. O problema é crônico. Acredito que a rede da Casal está subdimensionada e se com a limpeza não resolver, pode ser que tenha que ser reestruturada devido ao crescimento da população na região. Venho conversando com o diretor da Casal e cobrando medidas para resolver o problema até o final do ano. Enquanto isso, as fiscalizações serão constantes”, disse.
Todo o problema no retorno do esgoto da Casal é devido a uma obstrução do interceptor que liga as estações da Praça Lions até a Praça 13 de Maio, entre os bairros da Pajuçara e Ponta Verde. O problema, segundo a companhia, já começou a ser sanado, mas o serviço de desobstrução deve durar até 120 dias.
"O interceptor é uma tubulação de 100 centímetros de diâmetro e está obstruído. O serviço é feito de noite, a partir da meia noite até as 4h. Na semana passada, a empresa contratada utilizou câmeras-robôs para filmar e identificar os pontos mais críticos de entupimento para, nos próximos dias, começar a execução do serviço", afirmou o coordenador técnico da unidade da Casal no Jaraguá, Cid Barros.
Enquanto o serviço não é concluído, a língua negra continuará recebendo o apoio de máquinas para correr até o mar. Na última semana, a água já estava acumulada novamente na saída da galeria pluvial da Ponta Verde.
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