Um leilão de carros antigos, neste fim de semana, numa cidadezinha dos Estados Unidos, está mexendo com o coração de colecionadores.
Cinquenta anos de história. De 1946 a 1996, Ray Lambrecht se tornou um vendedor imbatível de carros zero e um obstinado colecionador de carros usados. Nesse período, o país teve dez presidentes. John Kennedy foi assassinado, Richard Nixon renunciou. As mulheres foram às ruas para lutar por direitos iguais. O mundo viu soviéticos e americanos em lados opostos durante a guerra fria. Assistiu às guerras do Vietnã e do Golfo.
Duas décadas depois da aposentadoria, Ray Lambrecht, aos 95 anos de idade, voltou a fazer história. A revendedora, fechada há 17 anos, virou ponto turístico, com móveis e aparelhos da metade do século passado.
O canadense Jerel Fosberg percorreu 3,6 mil quilômetros para ver de perto o legado do americano. “É uma oportunidade única”, diz.
O comerciante Ray tinha um lema: só vender carros novos. Os usados, que aceitava como parte do negócio, guardava, pensando no futuro. Não abria exceção. Que o diga o amigo Don Zimmer.
“Só uma vez ele aceitou negociar um carro usado comigo. Mas pediu um preço absurdamente alto”, diz Zimmer.
E assim resistiu por cinco décadas. Ray decidiu que chegou mesmo a hora de se desfazer do tesouro que ficou tanto tempo com a família. As relíquias foram trazidas para um lugar que virou uma espécie de campo dos sonhos dos colecionadores. São 500 carros antigos, alguns com mais de 50 anos.
Foi a leiloeira Ivette Vanderbrick que, com paciência e determinação, conseguiu convencê-lo a vender a coleção. “Negociamos por mais de um ano, até ele aceitar assinar o contrato”, conta.
Muitos carros foram danificados pelos anos ao relento na fazenda de Ray. Sofreram com tempestades e ladrões de peças. Mas há clássicos que parecem ter saído da fábrica. É o caso do Cameo, 1960. Arrematado pelo equivalente a R$ 315 mil.
O esportivo Corvette é outro em ótimas condições. Foi leiloado por R$ 180 mil. As informações do fabricante ainda estão intactas. O carro foi fabricado em 1978.
O Belair é mais uma pérola da coleção. A porta está emperrada, mas também está novo. A chave está na ignição. Dá até vontade de sair dirigindo.
O xerife de Pierce lembra do dia em que levou Ray para ver os carros pela última vez. “Ele exclamou: ‘Meu Deus, meu Deus’”.
Rick diz que a cidade de 1.700 habitantes, que parece ter parado no tempo, vai ficar triste sem os carros. Mas se consola: “O dinheiro não pode comprar nossas memórias”.
JORNAL NACIONAL
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