Com
o tema “Inovação com propósito: educação em diálogo com as
transformações sociais”, a 29ª Bett Brasil teve início nesta terça-feira
(23) em São Paulo. Ocupando 44 mil metros quadrados e com mais de 300
marcas expositoras, o maior evento de Inovação e Tecnologia para
Educação na América Latina, segue até sexta-feira (26), no Expo Center
Norte, em São Paulo, e reúne
professores, gestores, autoridades e empresas do ensino básico ao
superior. A estimativa é de que mais de 35 mil pessoas visitem o
encontro.
Durante a cerimônia de abertura, a diretora da Bett Brasil, Claudia Valério,
enfatizou a importância do evento para a educação brasileira e
ressaltou a relevância da temática escolhida, mostrando sua
aplicabilidade durante a feira, assim como no dia a dia da comunidade
escolar.
“A
Bett Brasil é um momento de celebração de todas as iniciativas em prol
da educação pública e privada. E quando nós percebemos que conseguimos
unir toda a comunidade: escolas, professores, educadores, escolas,
gestores e as soluções educacionais, sabemos o quanto nosso trabalho tem
sentido e que estamos no caminho certo. A temática deste ano é inovação
com propósito e educação em diálogo com as transformações sociais,
centrado na educação inclusiva e de qualidade, buscando igualdade e
oportunidades de aprendizado ao longo da vida para todos”, disse.
A
executiva destacou também que o trabalho de todo um ano para fazer a
Bett Brasil acontecer possui um propósito ainda maior: “Os temas
apresentados no evento transpassam diversos outros assuntos, incluindo
inteligência artificial, conectividade e outras tecnologias
desenvolvidas para apoiar a educação brasileira. São quatro dias de
muito networking,
de oportunidades de negócio, oportunidades de falas, oportunidades de
conexões para que cada um aproveite esses dias de inspiração e
conhecimento podendo multiplicar o conhecimento adquirido aqui”,
salientou.
Estudante, professor, mercado e governo
Para
começar a edição de 2024 com chave de ouro, a Bett Brasil promoveu uma
roda de conversa com atores do universo da educação. Um dos convidados
especiais foi o professor Francisco Leitão Freitas,
que leciona história do Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de
Santa Maria (DF) para jovens que estão em cumprimento de medidas
socioeducativas. Leitão Freitas é um dos finalistas do Prêmio Educador Transformador,
com o projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo), uma
iniciativa que usa o hip hop como base para o estímulo à aprendizagem.
Durante
a conversa, o professor reforçou que inovação não é apenas tecnologia,
mas também é buscar novas formas de ensinar. “A abordagem também deve
ser inovadora. Temos o desafio de entender e estimular o jovem ao
aprendizado de múltiplas formas”, disse. Durante o encontro, Francisco
revelou que na juventude também teve problemas com o ambiente escolar.
“Eu não fui um aluno exemplar, eu reprovei duas vezes e fiquei afastado
da escola por alguns anos por não me sentir acolhido, eu era muito
tímido. Por isso, reforço que educadores e unidades de ensino devem
fazer um pacto: a escola deve acolher, afinal, o jovem não é um
problema; o jovem é uma potência”.
Uma escola inclusiva também é o desejo do estudante Lucas Coelho, de 14 anos. Ele faz parte do Projeto Juventude Bett e está no 1º ano do Ensino Médio da Escola Lourenço Castanho, em São Paulo, onde é bolsista.
O Projeto Juventude Bett
incentiva estudantes do Ensino Médio de escolas públicas e privadas a
explorarem tendências e inovações educacionais na Bett Brasil. A
iniciativa é uma colaboração da Bett Brasil com o Instituto Criar e
CESAR School para o suporte técnico e criativo. Na Bett, 24 estudantes
terão uma programação, nos quatro dias de evento, que inclui visitas a
estandes de expositores, participação em palestras e workshops
para a criação de conteúdos audiovisuais que traduzam as próprias
percepções do evento. Os estudantes terão acesso a uma sala de trabalho
equipada para desenvolver o projeto.
Filho
de uma professora da rede pública, Lucas foi convidado pela Bett Brasil
para dar sua visão sobre como seria a escola ideal. “Acredito que a
escola ideal deva ser primeiramente humana e inclusiva. Estimular o
pensamento crítico entre os alunos, utilizar a arte e a música como
instrumentos de aprendizado e também ser participativa, ter o aluno no
centro do debate educacional”, disse.
O
estudante falou ainda sobre a importância e a marca que os bons
professores deixam em nossas vidas. “Jamais esquecerei da professora
Teka, que me incentivou a escrever meus poemas. Uma vez ela leu um texto
meu e o adicionou em uma prova. Depois disso, emoldurou e me deu. Foi
muito gratificante”.
Integrante
da roda de conversa, o conselheiro Fiscal do CONSED (Conselho Nacional
de Secretários de Educação) e secretário de Estado de Educação, Cultura e
Esportes do Acre, Aberson Carvalho, reforçou a importância da tecnologia na construção de uma educação ‘mais ideal’.
“A
educação pública do País passa por um processo de transformação. A
pandemia trouxe desafios que nos colocaram em um novo momento
educacional, da mudança de uma academia conservadora, do professor no
quadro, da lousa e do giz, para a inserção da tecnologia, não só com
laboratórios de informática, por exemplo, mas também com equipamentos
tecnológicos, como tablets,
entre outros itens que compõem essa relação. Tudo isso mostra que a
tecnologia é acessória à relação pedagógica e faz parte do processo de
aprendizagem”
Outro
ponto referendado pelo secretário é sobre a percepção e o respeito à
individualidade dos estudantes. “Hoje, quando falamos em equidade, o
grande desafio da educação é justamente de os docentes, as escolas e os
gestores escolares olharem para a perspectiva do aluno, sem a cultura de
que somos donos do conhecimento, que vem de cima para baixo. É preciso
ter essa relação do ensino-aprendizagem e não perder de vista que o ator
principal é o estudante”, reforçou.
Já a diretora da Edu-Skilling Microsoft Brasil, Vera Lucia Cabral,
falou sobre como a democratização da tecnologia é importante para que a
gente alcance alguns resultados. Falou também sobre a visão dela sobre
o que é inovação na educação.
“A
grande chave da discussão, e o que nos move, é a inovação. A gente vem
de um modelo de educação muito rígido, muito quadradinho, que não
contempla diferenças. A educação precisa ser humana e usar a tecnologia,
isso é muito importante”.
Entretanto,
Vera salientou que a tecnologia é uma ferramenta para ajudar na
democratização da educação. “A tecnologia não faz a educação, quem faz a
educação são os educadores e os estudantes. A tecnologia tem recursos
que magnificam significativamente todo esse movimento de inovação que
falamos. E, particularmente, agora que a gente tem esse desenvolvimento
da inteligência artificial generativa, é um momento muito importante
para a gente refletir sobre como essas tecnologias podem democratizar a
educação e transformar a educação além de torná-la muito mais equitativa
e fazer uma educação para todos, que inclua todos”.
Tecnologia
O uso da Inteligência Artificial no contexto educacional e social foi um dos temas que marcou o primeiro dia da Bett Brasil. Fabio Campos, educador e pesquisador na New York University (EUA), e Ivan Claudio Pereira Siqueira,
coordenador do bacharelado interdisciplinar em Humanidades da
Universidade Federal da Bahia, debateu como a Inteligência Artificial
pode estabelecer uma conexão com a inteligência humana e qual a melhor
forma de uso desta tecnologia. O painel foi mediado por José Brito,
diretor na Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).
Fabio Campos
iniciou o debate dizendo que existe uma tensão entre engenharia e
pedagogia que não deveria existir, fazendo alusão à resistência de
algumas instituições às novas tecnologias. “A melhor forma de introduzir
uma inovação de forma segura nas escolas é testando primeiro na sala
dos professores e depois na sala de aula. Feito isso, as vantagens são
muitas”, destacou.
A importância de saber perguntar
Durante o debate, Ivan Siqueira
reforçou a importância da pergunta às plataformas de Inteligência
Artificial bem elaboradas e qualificadas, para que estas não sejam
usadas meramente como chats
de perguntas e respostas simples. “Existe um estudo na Alemanha que diz
que o uso dessas ferramentas sem elaboração durante o período inicial
de formação educacional pode afetar o desenvolvimento cognitivo de
crianças. Por isso, o fato mais importante nesse universo é saber
perguntar. Pergunta precisa de elaboração, de análise e avaliação”.
Como dica de aprimoramento para esse processo, Fabio
destaca o uso da IA generativa de imagens. “Um ótimo recurso para
aprimorar o refinamento das perguntas pelos alunos são os programas de
geração de imagem por Inteligência Artificial. Ao tentar criar um
cenário, o aluno pode ir aprimorando sua cena com mais elementos, o que
acaba estimulando a busca pelas perguntas mais assertivas”.
Os
painelistas debateram ainda a necessidade de desenvolvimento no ensino
nacional frente aos países em desenvolvimento e a regulamentação do uso
das redes sociais e da Inteligência Artificial para melhor estabilidade
da saúde mental de crianças e adolescentes, além de mais controle sobre
informações verídicas e checadas.
Cidadania
O jornalista Milton Jung
esteve na Bett Brasil para falar sobre seu último livro ‘É proibido
calar! Precisamos falar sobre Ética e Cidadania com nossos filhos’. A
publicação traz uma reflexão sobre a importância do diálogo
intergeracional com base na experiência do próprio jornalista como pai e
cidadão.
Jung
reforçou a necessidade de nós, enquanto indivíduos, convivermos com
pessoas que pensam e agem de formas diferentes, pois, somente assim,
alcançaremos o desenvolvimento e a evolução. “A diversidade é uma
necessidade para quem busca a criatividade. Nós não evoluímos quando
estamos com pessoas que pensam como nós. Quando ninguém mais aceita
ouvir o outro, cria-se o vazio, e isso é um problema, pois impede o desenvolvimento e a cidadania”, disse durante o painel.
Em
seu livro, Jung destaca a importância de combater quatro lugares comuns
para a sociedade, que são frases e argumentos utilizados com frequência
para definir ou lidar com a juventude. São eles: “Adolescente é tudo
igual”; “No meu tempo…”; “Ele só tem que estudar” e “Filho meu não leva
desaforo para casa”.
Segundo
o autor, tais afirmações mostram resistência à mudança e não respeitam o
individualismo e as necessidades do outro, especialmente dos jovens.
“Esses são lugares comuns que devem ser fortemente combatidos, tanto em
casa, quanto na escola, como na sociedade. Nós, enquanto pais, devemos
ser melhores do que os nossos pais foram para nós, bem como um professor
não pode lecionar 30 anos da mesma forma”, e completa: “Se eu tiver a
mesma opinião que tinha há 40 anos, é sinal de que eu não evolui nada”.
Fórum de Gestores: visões estratégicas em debate
No
primeiro dia da Bett 2024, o Fórum de Gestores, ambiente na Bett Brasil
dedicado à geração de ideias e soluções em gestão educacional, teve
como destaque a palestra Educação Inclusiva: desafios, direitos e
deveres.
A coordenadora
geral de Estruturação do Sistema Educacional Inclusivo da Diretoria de
Políticas de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (DIPEPI / SECADI
/ MEC), Liliane Garcez,
discorreu sobre o trabalho que a Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), do Ministério da
Educação (MEC), vem fazendo nos últimos dois anos para garantir a
universalização do acesso a estudantes com necessidades especiais.
“Damos prioridade absoluta para a educação infantil e atenção para quem
nunca teve: quilombolas e indígenas. O sistema ainda é muito desigual, e
temos que combater as desigualdades de olho nas transformações
sociais”, comentou.
A outra debatedora do painel, Luciana Winck Correa,
vice-diretora Educacional do Colégio Marista João Paulo II, de
Brasília, destacou que o painel foi fundamental para compartilhar
olhares diversos sobre inclusão. “A ideia não é trazer soluções prontas,
embora elas até existam. É preciso o gestor estar convencido e
mobilizado para encontrar as melhores soluções de inclusão em conjunto
com os professores. Sozinho, o professor não tem condições de fazer
acontecer”.
O
Fórum de Gestores abriu espaço também para o tema Estratégias Dinâmicas
para Engajamento das Famílias na Escola e na Aprendizagem dos filhos.
Em sua participação, a especialista na relação de família e escola e
cofundadora do SOS Educação, Roberta Bento,
avaliou que debates como o proposto no fórum são fundamentais.
“Especialmente hoje, porque está muito difícil para a escola enfrentar
sozinha os desafios que se apresentam na educação dos nativos digitais. A
família também está vivendo esses desafios em casa. E o caminho para
educar esses nativos digitais para darem conta dos desafios que eles
terão passa pela parceria família-escola. A solução é família e escola
juntos, de mãos dadas”, concluiu.
Educação Pública: novo auditório na Bett
Pela
primeira vez a Bett Brasil teve um auditório exclusivo para o debate em
torno da educação pública no Brasil. No primeiro dia do evento, um dos
temas de destaque foi a palestra "A experiência e a prática: como o
Paraná ensina computação a mais de 530 mil estudantes”.
Foi apresentado o case de ensino público do estado do Paraná, que despertou o interesse dos alunos do Ensino Fundamental por programação de softwares.
Os estudantes que participaram da experiência relataram em vídeo o
quanto o programa foi desafiador e melhorou o interesse, o raciocínio e o
desempenho deles.
Para o secretário de educação do Paraná e um dos debatedores do painel, Roni Miranda,
o auditório dedicado à educação pública é uma iniciativa da Bett que
merece parabéns. “Hoje a maioria dos estudantes é da rede pública e é
crucial compartilhar o que acontece na área. As secretarias estaduais e
municipais também estão se inserindo nesse processo de modernização. O case do Paraná insere uma experiência de trabalho e de ensino que é muito rica para compartilhar”.
Participante do painel, a psicanalista e pedagoga, Thais Pianucci, diretora-geral da plataforma Alura Start, comentou que o “letramento digital é a nova forma de inclusão”.
Outro
painel realizado no auditório dedicado à educação pública trouxe a
temática da violência no ambiente escolar, com o tema Escola Livre de
Ódio: saiba como combater o extremismo na sala de aula.
A
partir de estudo realizado pela Porvir -- plataforma de conteúdo em
educação --, debateu-se como enfrentar o crescente ambiente de ódio e o
extremismo nos últimos anos também em sala de aula.
O
estudo mostra que existe uma relação direta entre extremismo e
desinformação. Alunos e comunidade escolar são bombardeados por
desinformação no ambiente online. Os algoritmos referendam as preferências de suas atividades online, e passam a enviar mais e mais conteúdos que não submetem as pessoas ao contraditório.
Esse
ambiente contribui para o crescimento de ódio e de ataques nas escolas.
Esses fenômenos, antes observados apenas em outros países, tiveram
crescimento exponencial no Brasil nos últimos anos.
Os
alvos principais para os ataques de ódio são os vistos como diferentes:
mulheres, pessoas negras e indígenas e a comunidade LGBTQIA+.
O painel contou com a participação da professora da secretaria de educação do Distrito Federal há 24 anos, Margareth Alves, e do professor da Rede Pública Estadual de Sergipe e coordenador do Observa! Observatório de Fake News, Ronney Santos, que apresentaram suas experiências na conscientização da comunidade escolar sobre como enfrentar esse ambiente hostil.
“Desenvolver
respeito às diversidades e letramento midiático é um dos focos dos
projetos que desenvolvemos para que os alunos se sintam acolhidos”, diz
Margareth.
Já Ronney destacou os principais tipos de desinformação, baseados em estudos da universidade Harvard. “Criei um perfil fake
e acabei indo para dentro de bolhas nas quais os algoritmos trazem cada
vez mais desinformações, se utilizando de discursos que focam na
fragilidade das emoções das pessoas para captar adeptos. A partir da
experiência, desenvolvemos estratégias de como combatê-las”.
Fórum Ahead: Educação Superior e Profissional em foco na Bett Brasil
“A
Inteligência Artificial está proporcionando a maior transformação
positiva do setor Educação. O impacto é ainda mais expressivo que o
causado pela Internet nos anos 2000”, esse é o comentário do sócio e
diretor de Operações da Quero Educação, Bruno Passarelli.
Ele citou como exemplo o estudo do banco de investimento UBS (Union de
Banques Suisses) sobre a alta aceitação do público consumidor pelo
ChatGPT. Os dados do estudo indicaram que a rede social Instagram levou
30 meses para chegar à marca de 200 milhões de usuários ativos por mês, o
ChatGPT atingiu esse números em apenas 2 meses.
O
executivo participou do painel “Inteligência Artificial Aplicada na
Gestão de ponta a ponta: Potencializando a Retenção” no Fórum Ahead.
Também no painel, o líder do Quero Tutor, Marco Angioluci,
destacou a personalização de aulas com Inteligência Artificial (IA).
Ele destacou a plataforma Quero Tutor que oferece uma tutoria
personalizada e individual para os alunos, por meio de IA.
Angioluci
explicou que o diferencial da ferramenta é a moderação do conteúdo. “As
respostas são 100% verificadas por um professor. O que elimina o risco
de informações erradas para os alunos”, disse. A plataforma também
possibilita a gamificação do aprendizado, com o nível de engajamento dos
alunos bonificado com a soma de pontos. “Os alunos participam de uma
competição saudável, com prêmios de verdade. A IA é apenas o meio. Não
adianta entregar uma solução sem encapsular com opções que sejam
atrativas para os alunos”, finalizou.
Ainda no bate-papo, o head of Artificial Intelligence and Advanced Analytics da Cogna Educação, Tiagy Lima, abordou como ferramentas de IA e de machine learning
são eficazes para acompanhar o ciclo acadêmico de vida dos alunos. Ele
salientou que o uso de dados podem prever diversas situações durante a
jornada dos estudantes.
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