BLOG ORLANDO TAMBOSI
Vencemos pela força das instituições aqueles que desejavam suplantar o voto pelo militarismo. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
O
ano que vai se encerrando começou sob a sombra de uma quartelada. A
ameaça pairava no ar, alimentada pelo silêncio de um ex-presidente que
nunca admitiu a derrota e que passou quatro anos a escarnecer o processo
eleitoral. Enquanto militantes se concentravam em frente aos quarteis
clamando por uma intervenção das Forças Armadas, auxiliares de Jair
Bolsonaro se moviam nos bastidores de maneira a buscar uma justificativa
legal qualquer que desse ao ato ares de legitimidade.
A delação de Mauro Cid
traz detalhes dessa trama. Uma patuscada perigosa, mas condenada ao
fracasso. O ato derradeiro e desesperado foi a depredação da sede dos
Três Poderes, quando a súcia alimentada pelo conspiracionismo resolveu
botar para quebrar. Nunca foi um “passeio no parque”, e sim uma
tentativa explícita de impedir o exercício do poder de quem havia tomado
posse poucos dias antes.
É
um feito e tanto que o país tenha atravessado tal período de
instabilidade institucional para chegar em dezembro com um ato
congressual reunindo Legislativo e Executivo na promulgação da tão
debatida e adiada Reforma Tributária. Nem os mais otimistas poderiam
prever. Uma reforma incompleta e imperfeita, por óbvio. Mas a possível,
dadas as circunstâncias. Um texto que não apara todas as arestas e nem
pacifica todos os conflitos, mas que também não nos leva ao comunismo.
Pelo contrário, ajudou a melhorar a nota do país pelas agências de
classificação de risco.
Além
dos golpistas, também os catastrofistas perderam. Estes não investiram
contra a democracia, mas trataram de espalhar o mau agouro na forma de
terra arrasada. Os Beatos Salus do fim do mundo econômico. Lula
governaria, mas isso tornaria o país ingovernável economicamente. Como
se o paraíso da austeridade fosse o governo que furou não uma, mas seis
vezes o teto de gastos, sendo a mais recente na véspera do processo
eleitoral.
Na
última semana, Roberto Campos Neto, insuspeito de heterodoxia e
esquerdismo, tratou de condenar as visões pessimistas. “É difícil falar
em 2024 sem pelo menos colocar em perspectiva que as análises econômicas
têm errado muito ultimamente. Têm errado o crescimento, têm errado um
pouco a inflação, têm errado muito emprego, têm errado os números de
crédito”, disse em entrevista para a jornalista Miriam Leitão na Globo
News. Ninguém poderá se surpreender se agora passar a ser chamado de
tucano ou de qualquer outro rótulo cretino e vigarista que sirva para
expurgá-lo.
O
que se desenha à frente é desafiador, e o próprio Banco Central
ressalta o necessário cuidado que se deverá ter com a meta fiscal. Até
mesmo para viabilizar a queda nos juros. A continuidade do crescimento
depende de produtividade, não de expansão fiscal induzida pelo Estado,
como defendem os áulicos da contabilidade criativa. Uma receita que,
prudentemente, o ministro Fernando Haddad tratou de afastar,
contrariando as alas mais sectárias do petismo.
Certa
vez, Paulo Guedes chegou a dizer que o Brasil poderia se tornar a
Argentina em seis meses e a Venezuela e um ano e meio. Falou com aquela
ligeireza típica de quem parece deter a verdade universal. Fez a análise
com o fígado e não com o cérebro. Longe da Argentina, diminuímos a
distância para o grau de investimento. E ainda mais longe da Venezuela,
vencemos pela força das instituições aqueles que desejavam suplantar o
voto pelo militarismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário