BLOG ORLANDO TAMBOSI
O dr. Montenegro, em teoria o líder da oposição, na prática não quer incomodar. Principalmente não parece querer governar. De resto, tem sido o primeiro a inventariar as situações em que não governará. A crônica semanal de Alberto Gonçalves para o Observador, surrupiada neste blog há anos, como presente para seus sisudos leitores:
Figura triste:
Marcelo Rebelo de Sousa. Recentemente, Sua Excelência, o Presidente da
República informou a nação que, segundo uma sondagem, a sua popularidade
se mantém intacta. O alívio da população ouviu-se à distância. Muito
mais do que, sei lá, o pandemónio na saúde pública ou a penúria em que
progressivamente afocinham, o que afligia os portugueses era, sobretudo,
a possibilidade de o prof. Marcelo ter caído em desgraça, no caso com o
caso das gémeas brasileiras. Curiosamente, era também essa a única
preocupação do próprio prof. Marcelo desde que entrou em Belém. O homem
nunca quis ser presidente, tarefa para que aliás mostrou vasta
impreparação e desconhecimento: o homem quis, e quer, ser popular. Logo
em 2016 ficou claro que ali não há a sombra de um estadista, e sim um
artista de variedades emocionalmente dependente dos humores da
audiência. Em 2023, deixou sair o dr. Costa quando imaginou que o apoio
ao governo poderia beliscá-lo (a ele, o prof. Marcelo) – isto depois de
amparar o governo em toda a sorte de loucuras, algumas
inconstitucionais, porque calculara que isso o beneficiaria (a ele, o
prof. Marcelo). O prof. Marcelo é o assunto exclusivo do prof. Marcelo.
Indecente e má figura:
António Costa. Sou dos que acham absurdo o dr. Costa se ter demitido em
2023 por causa de um comunicado da PGR, suspeitas de tráfico de
influências e 75 mil euros em notas no gabinete ao lado do seu. Nos oito
anos anteriores houvera razões de sobra para o sujeito cair
(metaforicamente, vá lá), desde a tragédia de Pedrógão, em 2017, à
gestão primitiva e autoritária da Covid, em 2020 e 2021, para não falar
da TAP, do SNS, da Justiça, da Educação e, por exemplo, dos srs. Galamba
e Cabrita. E isto descontando a trapaça que o levou ao poder em 2015 e,
para os menos atentos, lhe definiu o carácter. Em debate de 2014,
António José Seguro já o definira. Não serviu de aviso. Para muitos
eleitores, a julgar pelas eleições subsequentes, até serviu de estímulo:
por cá, a ausência de escrúpulos e de vergonha parece dar votos. Um
dia, o dr. Costa congratulou-se pelo aumento de famílias necessitadas de
“prestações sociais” (leia-se o aumento da pobreza) e nem uma alminha
protestou seriamente a afronta. O país mereceu-o.
Figura de corpo presente:
Luís Montenegro. Há exactamente um ano, estava o governo a esfarelar-se
em demissões e demais vergonhas típicas da Bolívia, o dr. Montenegro
aparecia às vezes a pedir contenção e, raramente, uma ou duas
remodelações. Mas não aparecia muito. O dr. Montenegro, em teoria o
líder da oposição, na prática não quer incomodar. Principalmente não
parece querer governar. De resto, ele tem sido o primeiro a inventariar
as situações em que não governará. São várias e as únicas possíveis: o
dr. Montenegro não aceita ser primeiro-ministro se perder as eleições e,
mesmo que as vença, se precisar do Chega para a maioria parlamentar. Ou
seja, o dr. Montenegro só será primeiro-ministro se houver um milagre.
Lembro que o adversário do dr. Montenegro nas “legislativas” é alguém
desejoso de se aliar a apoiantes da Venezuela, da Rússia e do Hamas,
além de que não enjeitaria um pacto de incidência parlamentar com os
canibais da ilha Sentinela. Pelo menos no que toca à ambição, a luta é
desigual.
Figurinha:
Pedro Nuno Santos. Esta sumidade terminou 2022 a demitir-se do governo
por se esquecer de indemnizações que aprovara através do WhatsApp e
termina 2023 como secretário-geral do PS e candidato plausível a
primeiro-ministro. O que aconteceu entretanto? Nada de especial, apenas a
proverbial reciclagem de um irresponsável que em países normais estaria
escondido num bunker ou exibido na barra do tribunal. Em Portugal, foi
contratado por um canal televisivo a título de comentador, retornou ao
parlamento e começou a ser vendido enquanto “carismático”, essa
qualidade difusa com que se tenta disfarçar a falta das restantes. Numa
entrevista televisiva, provou desconhecer o valor do salário mínimo cujo
aumento aprovou. Após a estreia da fita “O Neto do Sapateiro”, “biopic”
na tradição de “A Filha do Mineiro”, o dr. Santos passou a
apresentar-se como o homem que salvou a TAP, a troco de meros milhares
de milhões sonegados ao contribuinte. Antes de 10 de Março, irá a tempo
de confessar que inventou o avião, a ferrovia e a trotineta. O dr.
Santos é uma piada involuntária, e por isso mesmo um perigo.
Figura de urso:
o português médio. Quase 70% dos trabalhadores portugueses ganham menos
de mil (1000) euros. O fisco directo e indirecto consome boa parte dos
rendimentos dos poucos que ganham acima disso. O nosso poder de compra
já desceu abaixo do romeno. Apenas quando adoece, a metade pobre do povo
precisa de um SNS que os socialistas conseguiram arruinar enquanto lhe
despejavam mais dinheiro em cima. Há anos que aqui se morre em excesso e
se vive por defeito. A quantidade de sem-abrigo cresce sem parança. Os
que ainda têm abrigo desunham-se mensalmente para pagar a respectiva
prestação ou contam com o abrigo paterno. A fim de resolver o problema
da habitação, o governo decidiu enxotar o investimento em habitação e,
de caminho, rebentar com os pequenos empresários do alojamento local e
ameaçar o turismo. Os crimes violentos sobem com firmeza. O regime
presta-se a implodir por descrédito e ridículo. Os dados do PISA e os
resultados das provas de aferição demonstraram que as novas gerações são
de facto as mais preparadas de sempre para dependerem de subsídios à
existência. Os que escapam à miséria educativa aproveitam para escapar
do país. Os estrangeiros sem dinheiro são bem-vindos, os estrangeiros
com dinheiro são escorraçados. Portugal, portanto, vai benzinho. Não
admira que o PS lidere as sondagens.
Figura de estilo: todas as pessoas que, perante o acima exposto, desejam ao semelhante um feliz 2024. Ou são do PS ou são malucas. Ou acumulam.
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