Por causa da legislação, sindicatos se tornaram uma maneira legalizada de espoliar o trabalhador. Luan Sperandio e Leandro Roque para o Instituto Mises:
Nota do editor
O
artigo abaixo foi originalmente publicado em outubro de 2016. Pouco
menos de um ano após sua publicação, o imposto sindical foi abolido no governo Temer (por obra do deputado Paulo Eduardo Martins, convertido à causa libertária por este Instituto).
Para surpresa de ninguém, no entanto, os parasitas se recusam a morrer, e a PEC 196/2019 quer insidiosamente ressuscitar a estrovenga.
Em 2023, o debate sobre a volta do imposto sindical ganhou novo capítulo.
Confira o que está em jogo.
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Os
sindicatos se dizem organizações preocupadas em promover os interesses
dos trabalhadores. Quando destituída de toda a retórica marxista, tal
afirmação não é de todo inverossímil: em alguns casos, os trabalhadores
de fato possuem interesses em comum, cuja defesa pode ser delegada a um
agente especializado (os sindicatos).
Por
exemplo, dentro de uma mesma empresa, os empregados podem se coligar
para melhorar marginalmente suas condições de trabalho ou para
influenciar em como serão cumpridos alguns dos direitos acordados em
contrato com o empregador (calendário laboral, jornadas, forma de
alimentação oferecida, turnos de descanso etc.).
No
entanto, para resolver esses detalhes -- que são de cunho estritamente
localizado, peculiares a cada empresa e que variam para cada equipe de
trabalho --, não é necessário recorrer a megacorporações sindicais,
estilo CUT, Força Sindical e UGT. Basta ter representantes
especializados e independentes, os quais, inclusive, podem ser
escolhidos entre os próprios integrantes da equipe de trabalho que está
sendo representada. Afinal, cada equipe de trabalho é algo muito bem
definido, e não uma irreal "classe social".
O motivo de existirem megaburocracias sindicais -- só a CUT controla 2.319 sindicatos, ao passo que a Força Sindical e a UGT controlam, respectivamente, 1.615 e 1.277 sindicatos
-- tem muito pouco a ver com a defesa dos trabalhadores e muito a ver
com a necessidade de adquirir influência junto a políticos para
arrebatar privilégios concedidos pelo estado.
Perante
a casta governante, uma central sindical que represente, de maneira
realmente eficaz, algumas poucas dezenas de trabalhadores não tem a
mesma importância que outra central sindical que represente, mesmo que
de maneira torpe, centenas de milhares de empregados. Vale mais a
quantidade do que a qualidade.
O sindicalismo brasileiro
No
Brasil, os grandes sindicatos já se converteram naquilo que a
literatura econômica classifica como "rentistas" ou "caçadores de renda"
(rent-seekers): seu verdadeiro propósito de existir não é representar
os trabalhadores (essa é apenas sua desculpa instrumental), mas sim se
beneficiar das prebendas regulatórias e monetárias garantidas pelo
estado, com as quais alimentam sua própria burocracia interna.
O modelo de organização sindical vigente no Brasil tem raízes na Carta Constitucional de 1937,
a qual tinha o objetivo explícito de fazer com que os sindicatos dessem
sustentação ao governo, ignorando os interesses dos trabalhadores
afiliados.
Esse
arranjo se mantém intacto até hoje. Sindicatos servem aos interesses
de seus líderes e do governo que os apóia, e não aos interesses de seus
membros.
Sendo assim, a pergunta inevitável é: por que os sindicatos prosperam se seus líderes são meros politiqueiros?
E
a resposta é: por causa dos privilégios que as entidades sindicais
usufruem. Além de serem verdadeiros monopólios protegidos pelo estado,
graças à unicidade sindical, eles são financiados compulsoriamente com
dinheiro público, a chamada Contribuição Social Sindical -- popularmente
chamado de Imposto Sindical.
Vale
ressaltar: embora ninguém seja obrigado a se filiar a um sindicato,
todos os trabalhadores são obrigados a contribuir anualmente com o
imposto sindical.
A
lei estabelece uma contribuição obrigatória equivalente a um dia de
trabalho de quem tem carteira assinada ao sindicato de sua categoria.
Isto é, há o desconto em folha do trabalhador, mesmo que ele não seja
filiado, tampouco se sinta representado por seu sindicato de classe.
Os valores movimentados pelo Imposto Sindical chegam a R$ 3 bilhões por ano. Trata-se de uma mamata para os sindicalistas. E, se há mamata, jamais faltará demanda por ela.
Consequentemente, apenas nos últimos oito anos, houve uma média de mais de 250 sindicatos criados por ano. Já há mais de 15 mil sindicatos operando no Brasil, com mais outros 2 mil esperando o registro.
Por
uma questão de lógica, não é difícil concluir que criar um sindicato se
tornou um grande negócio. Hoje, sindicatos são criados visando apenas a
arrecadar a "contribuição obrigatória".
As fraudes, obviamente, só se avolumam. Há desde entidades que são somente um meio para que dirigentes se perpetuem em cargos com altos salários até organizações fantasmas.
Trata-se de uma verdadeira caixa-preta, tendo em conta que, apesar de financiados com recursos públicos, não há qualquer prestação de contas e transparência. Por tudo isso, é comum os sindicatos brasileiros serem considerados irrelevantes.
O que fazer
Por
causa desta renda compulsória e garantida, criada pelo estado, os
sindicatos foram completamente desvirtuados: de representantes dos
trabalhadores, se transformaram em caçadores da renda destes mesmos trabalhadores.
Na
prática, são meros parasitas do dinheiro público. Criar um sindicato,
hoje, é uma maneira legal de se enriquecer à custa dos mesmos
trabalhadores que esses sindicalistas dizem defender.
Obviamente,
não deveria ser assim. A questão é simples: o trabalhador não pode ter
descontos em seu salário se ele não apóia a luta daquele sindicato.
Mais: ele não pode ter descontos em seu salário se ele nem mesmo apóia a
própria existência daquele sindicato.
Por
isso, o certo seria o empregado assinar uma declaração manifestando se
deseja ou não contribuir para o seu sindicato, podendo, é claro,
reconsiderar sua decisão posteriormente.
O ordenamento jurídico brasileiro atual contraria a Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho,
que prevê liberdade de escolher e contribuir para o sindicato que o
trabalhador preferir. O fim do imposto sindical e o estabelecimento de
doações voluntárias dos empregados aos sindicatos gerariam a necessidade
de sindicalistas apresentarem um trabalho de fato representativo, a fim
de justificar doações e conquistar mais filiados.
Trata-se
de algo tão óbvio que nem sequer deveria ser mencionado: sindicatos e
as centrais sindicais devem viver do dinheiro pago voluntariamente por
seus associados, e não dos repasses compulsórios dos trabalhadores que
não são filiados.
Conclusão
Na
prática, o comportamento dos sindicatos de hoje em nada se distingue do
das máfias clássicas, com a diferença de que os sindicatos atuam com o
apoio do governo. Cobram uma "contribuição compulsória" de todos os
trabalhadores e visam apenas ao interesse de sua própria hierarquia.
Uma
verdadeira defesa aos interesses dos trabalhadores está no fim da
contribuição sindical, uma imposição legislativa que beneficia
sindicalistas que não representam ninguém e prejudicam, principalmente,
os trabalhadores mais pobres.
Se
isso acontecer, veremos quão realmente demandados são os serviços
sindicais. Enquanto isso não ocorre, continuamos com a dicotomia 'sindicalismo rico, trabalhador desesperado'.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi

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