Candidato do governo distribui um dinheiro que o país não tem para reforçar suas chances de disputar a final com Javier Milei. Vilma Gryzinski:
“Patricia
já era. Não tem para onde ir. Não tem discurso. Milei é a direita e a
mudança, nós somos o governismo que pode propor estabilidade”.
A
análise, feita por uma fonte da campanha de Sergio Massa para o
Infobae, tem um tanto de expressão de desejos e outro tanto de
realidade. Na arrancada para o primeiro turno, em 22 de outubro, Massa, o
candidato do governo e ministro da Economia, uma combinação
simplesmente surreal que nem provoca mais do que um dar de ombros na
Argentina, parece ter ultrapassado Patricia Bullrich, do Juntos pela
Mudança.
Para
melhorar suas chances, ele está distribuindo dinheiro a aposentados e a
trabalhadores. Pequenas e médias empresas também ganharão uma forcinha.
É uma pura, simples e cínica compra de votos. Em nome de arrefecer os
efeitos da inflação, põe dinheiro no bolso dos desesperados pela
desvalorização de 22%, a mais recente facada pela frente levada pelos
argentinos. “A inflação vai comer tudo”, resumiu Patricia Bullrich. Ou
então os beneficiados simplesmente irão ignorar o propósito eleitoral do
dinheirinho extra — como aconteceu no Brasil.
Se
Massa chegar ao segundo turno, conta ter a seu favor, além da massa
peronista, as forças do sistema apavoradas com as ideias ultra-radicais
de Javier Milei e seu “plano motosserra”, que já diz muito sobre seu
teor maximalista, a começar pela dolarização, uma ideia com pouquíssimos
seguidores.
Números
que chegam à campanha massista: Milei leva de 35% a 38% dos votos em 22
de outubro, Massa fica com 30% a 33% e Patricia Bullrich não passa da
faixa de 19% a 23%. No segundo turno, o jogo é praticamente zerado.
Outras pesquisas convencionais dão o mesmo panorama, com a exceção de
uma, pela qual Patricia ainda está no jogo.
Que
um peronista, pelo menos da boca para fora, seja visto como o ator
racional e confiável, o nome do sistema contra uma ameaça nada menos que
tectônica, já diz praticamente tudo sobre a Argentina. Mas diz também
sobre Massa: entre todas as horripilantes opções que havia para ministro
da Economia e candidato a presidente, ele foi o menos pior. Tem
autoridade, liderança e pose. Também é evidente que ele está juntando
cacife para, docemente ou seja lá como for, enterrar o kirchnerismo.
A
aposentadoria real de Cristina Kirchner coincidiria com uma implosão da
frente oposicionista montada por Mauricio Macri, fortemente sacudida
pela irrupção de Javier Milei. Os dois grandes antagonistas da última
década sairiam de campo.
O governo brasileiro sob a atual administração está fazendo tudo para Massa ganhar — faz parte do jogo, caso os empréstimos do BNDES e outras bondades passem pelo teste da legalidade e da impessoalidade.
Javier
Milei evidentemente está vendo o mesmo quadro que os peronistas e faz o
seu jogo, apresentando uma imagem muito menos extremista e até
humanizada: em vez de declarações de amor aos cachorros, desmancha-se
pela nova namorada, a humorista e imitadora Fátima Flórez.
“A
casta espera Milei com os braços abertos”, ironizou o comentarista
Carlos Pagni, do La Nación, usando o termo para definir o sistema, de
todas as cores políticas, que turbinou o estonteante sucesso do
anarco-capitalista.
Sobre
a bonificação “compra votos”: é de 60 mil pesos, em duas etapas. Daria
uns 500 reais se fosse possível converter uma moeda de volatilidade tão
extrema que já estão enterrados no passado os tempos em que o dólar
passar dos 700 pesos era considerado uma catástrofe.
Poderia o administrador desse desastre ser eleito presidente?
Como em muitos outros casos, seu grande eleitor seria Javier Milei, uma fenomenal ironia.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi

Nenhum comentário:
Postar um comentário