Bolsonaro age para destruir e desmoralizar as instituições. Com seguidores extremistas, alimenta o fanatismo - que terminará em violência. Artigo do general Carlos Alberto dos Santos Cruz para o Estadão:
A resposta é simples: o sonho chavista de poder
do presidente que tenta usar o Exército em seu projeto pessoal. O
Brasil não é a terra do ídolo inspirador do presidente e não vai se
transformar em algo similar. Aqui, “EB” quer dizer Exército Brasileiro
e não “Exército Bolsonarista”. O Exército enfrenta o mesmo problema das
outras instituições brasileiras: o risco de erosão. Infelizmente, a
mentalidade anarquista do presidente age para destruir e desmoralizar as
instituições, e banalizar o desrespeito pessoal, funcional e
institucional. Junto com seguidores extremistas, alimenta um fanatismo
que certamente terminará em violência.
Para
aventuras políticas pessoais, instituições sólidas e funcionais são
sempre um imenso obstáculo. Projetos populistas e totalitários, não
importa seu matiz ideológico, não avançam sem subverter a ordem, sem
corromper as instituições. E uma das instituições mais sólidas é o
Exército (assim como a Marinha e a Força Aérea).
Ao invés de recuperação e aperfeiçoamento das instituições, assistimos
ao agravamento da situação existente e a erosão da Saúde, Justiça, Meio
Ambiente e Educação.
O
presidente tenta também desmoralizar o sistema eleitoral, mas não
apresenta as provas de fraude que diz possuir. Semeia dúvidas sobre o Tribunal de Contas da União, valendo-se de relatório e dados falsos. No orçamento da União, apresenta uma nova forma de “mensalão” – o chamado orçamento secreto. Nas Relações Exteriores, graças ao Senado, escapamos do vexame da quase nomeação de um embaixador esdrúxulo junto aos EUA, e agora temos à frente a investida demagógica de uma nomeação para a África do Sul. Oxalá o Senado poupe o Brasil de mais essa.
Esse
é o contexto em que se desenvolve mais uma tentativa de erosão de uma
das instituições de maior prestígio do Brasil – o Exército Brasileiro. O
caso do general no palanque, em mais um evento populista promovido pela
autoridade maior, é da alçada do comandante da Força, que decidiu
dentro das suas atribuições. Problemas disciplinares são resolvidos
diariamente por todos os comandantes, nos diversos níveis. Não é esse o
problema. O problema é muito maior e mais grave. É político. E tem um
responsável – o presidente. Para realizar seu projeto pessoal, ele vem
testando o Exército frequentemente. Isso é deliberado. É projeto de
poder. Não acontece só por despreparo, irresponsabilidade e
inconsequência. Isso é processo planejado, que vem sendo adotado e
tentado de forma sistemática. É também um processo covarde, pois as
consequências são sempre creditadas a outras pessoas e instituições.
Ocorre que a responsabilidade pessoal e funcional está muito bem
definida e o responsável maior deve arcar com as consequências.
É
covardia transferir essa conta ao Exército. E é totalmente inaceitável a
tentativa permanente de arrastar o Exército para o erro histórico de
assumir um protagonismo político em apoio a uma aventura pessoal
perseguida de forma paranoica. O Exército não é e não pode ser uma
ferramenta de uso pessoal, partidário ou de intimidação política. A
missão do Exército não é auxiliar uns e outros em disputas eleitorais e
em jogo de poder, dividindo os brasileiros. O Exército tem uma missão
constitucional definida.
O
Brasil precisa de paz, de união nacional, de governo que trabalhe e
promova o desenvolvimento socioeconômico com boa administração. O Brasil
precisa de políticas públicas sensatas, de combate à corrupção,
eliminação de privilégios e redução da desigualdade. Precisa de vacina e
emprego. É preciso que o voto da maioria sirva para governar para o bem
de todos e não para interesses pessoais, familiares ou de grupos. O
Brasil não merece uma polarização entre quem já teve oportunidade de
governar e se perdeu em demagogia e escândalos de corrupção e quem
mostra diariamente que tem como objetivo um projeto de poder semelhante,
apenas com sinal trocado.
O
País não pode ficar entre dois polos que se alimentam e se comportam
como cabos eleitorais um do outro. O Brasil não merece mais erosão em
suas instituições. Ao contrário, nossas instituições precisam de
melhorias e aperfeiçoamentos. A democracia depende do aperfeiçoamento
institucional constante. O Exército Brasileiro, assim como as outras
instituições que compõem a Nação, não pode continuar a ser covardemente
prejudicado por causa de um projeto de poder pessoal e populista.
*GENERAL DA RESERVA E EX-MINISTRO DA SECRETARIA DE GOVERNO
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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