Economist, NYT, El País, Deutsche Welle, BBC, CNN e tantos outros órgãos da imprensa internacional, quando tratam do país, abandonam qualquer lógica e objetividade. Qual a razão para essa atitude? Dagomir Marquezi para a revista Oeste:
A
prestigiada revista britânica The Economist publicou, no último dia 5,
uma suíte de artigos dedicados ao Brasil. E nos rebaixou às catacumbas
do Quarto Mundo. “Antes da pandemia, o Brasil estava sofrendo uma década
de doenças políticas e econômicas”, diz a matéria de abertura. “Com o
senhor Bolsonaro como médico, agora está em coma.”
O
que significa “coma” para quem escreveu esse texto? Você, leitor, você,
leitora, acha que seu país está em “coma”? O Brasil entrou em colapso? A
economia está em parafuso? Você tem visto saques nas ruas,
quebradeiras, violência, paralisia nas atividades? A pandemia nos
abateu, como ao resto do mundo. Mas, como país, estamos intubados numa
UTI?
“Bolsonaro
emprestou as táticas de Donald Trump em peso para ganhar a eleição de
2018: populismo, nacionalismo, chauvinismo e fake news”, prossegue a
matéria. […] “Um fã da ditadura militar de 1964 a 1985, ele costuma
posar com seus polegares e indicadores armados como se atirasse com uma
metralhadora. Uma vez no cargo, mirou direto nas instituições
democráticas do Brasil.” Você considera que as instituições democráticas
brasileiras estão ameaçadas pelo presidente da República? De que forma?
A
conclusão da Economist é dada num artigo chamado “Hora de partir”. A
ilustração mostra a camiseta de uma manifestante em que o rosto de
Bolsonaro se combina com o de Adolf Hitler. Segue-se o que parte da
imprensa nacional repete todos os dias: a política do governo (somente o
federal) causou “dezenas de milhares de mortes desnecessárias”. A
administração em Brasília virou uma “boca de fumo” de hidroxicloroquina.
“O Exército vai ter de escolher entre a democracia e mr. Bolsonaro.” A
infame coluna da Folha de S.Paulo com 185 insultos ao presidente é
tratada como “uma denúncia da censura”. Que censura?
Ainda
segundo a Economist, o STF seria uma resistência ao “autoritarismo de
Bolsonaro”. Que pode “ganhar a próxima eleição (pelos meios legais ou
sujos)”. Mais quatro anos com ele vão transformar a Amazônia numa
“savana”. Nas próximas eleições, o ex-presidente Lula deveria voltar ao
governo e mostrar como Bolsonaro presidiu o país “para sua família e não
pelo Brasil”.
A
Economist termina sua edição especial com uma lista de ordens aos
brasileiros. “É preciso mais do que manifestos. […] As cortes devem
combater a corrupção. E os empresários, ONGs e os brasileiros comuns
devem protestar em favor da Amazônia e da Constituição. Mas será difícil
mudar o curso do Brasil enquanto Bolsonaro for presidente. A mais
urgente prioridade é votar contra ele.”
Obviamente
a Economist tem o direito de dizer o que pensa sobre o Brasil. Mas de
novo: você, que mora aqui, que vive o dia a dia, reconhece esse país
descrito por eles? Precisa da orientação da revista para agir
politicamente?
Esse
retrato do Brasil foi criado artificialmente na redação da Economist.
Que está instalada no edifício Adelphi, no Embankment de Londres, com
vista para o Rio Tâmisa, a 8.800 quilômetros de Brasília. As fontes
foram escolhidas para repetir a mesma narrativa unilateral que já
conhecemos, por exemplo, do Jornal Nacional. Para a revista britânica,
não existe outro lado a ser ouvido. A narrativa é tudo. A realidade, só
um detalhe. Fomos deslocados do terreno da análise política para o da
demonologia. O Brasil, segundo a Economist, precisa de um bom exorcista.
Você
já ouviu falar de Vanessa Barbara? Vanessa é uma jornalista que se
tornou uma espécie de “voz do Brasil” para os leitores do New York
Times. Ela faz o papel da insider, que vive o dia a dia dos brasileiros e
transmite essa realidade para os leitores no Times. Espera-se dela que
traduza a complexidade de nosso país, que ajude os leitores
internacionais a desvendar os meandros de nossa vida, que ensine ao
mundo as sutilezas de ser brasileira.
Mas
o que Vanessa Barbara escreve em suas colunas para o New York Times não
é nada sutil. Ela defende a “beleza” dos atos violentos de black blocs
contra o aumento da tarifa dos ônibus. Homenageia continuamente a
vereadora Marielle Franco, que, segundo Vanessa, teria sido morta com o
envolvimento da família Bolsonaro no crime. Defende abertamente a
candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, que, de acordo com ela, foi
preso injustamente. Declara o desejo de votar em Guilherme Boulos para a
Presidência da República. Anexa na coluna um vídeo indignado do
revolucionário de grife Felipe Neto. Elogia a CPI de Renan Calheiros.
Declara aos leitores do jornal que o presidente Jair Bolsonaro é um
“supervilão” com plano para matar 1,4 milhão de brasileiros.
Em
2004, o então correspondente do New York Times Larry Rohter ousou
insinuar que o ex-presidente Lula bebia um pouco além da conta. Em
represália, o “democrático” Lula mandou cancelar o visto de residência
de Rohter. Em 2021, o “opressor fascista” Jair Bolsonaro nem deve saber
que Vanessa Barbara existe, embora seja pesadamente ofendido por ela a
cada coluna publicada no mais importante jornal do mundo.
Vanessa
Barbara tem todo o direito de expor sua visão rasa de simpatizante do
Psol nas páginas do NYT. E é obrigação de todo democrata garantir esse
direito. O que parece estranho é o New York Times dar essa oportunidade
apenas a pessoas como Vanessa (e Felipe Neto). O “outro lado” não
existe.
O
jornal espanhol El País criou uma sucursal brasileira que publica
artigos com títulos como “O plano bolsonarista de controle sobre os
militares, central para a ultradireita”; “Com Nise Yamaguchi, CPI
enfrenta o dilema de dar palco ao negacionismo da pandemia”; “O
‘terraplanismo econômico’ busca dominar a responsabilidade social”. O
site original em espanhol do El País mantém certa sobriedade
jornalística. Sua filial brasileira parece um boletim de centro
acadêmico.
O
mesmo nível de “jornalismo” se encontra no site em português da alemã
Deutsche Welle: “Governo Bolsonaro semeia medo e quer silenciamento
difuso”; “Em carta, judeus dizem que Bolsonaro tem ‘inclinações
fascistas’”; “Sem máscara, Bolsonaro gera aglomeração em protesto no
Rio”; “Bolsonaro parabeniza policiais por massacre do Jacarezinho”. O
site brasileiro da Deutsche Welle põe em destaque um vídeo intitulado
“Quem fica em silêncio é cúmplice desse regime fascista”. O vídeo é
estrelado por… Felipe Neto.
A
Economist, o New York Times, o El País, a Deutsche Welle, a BBC, a CNN e
tantos outros órgãos da imprensa internacional possuem qualidades que
ninguém pode pôr em dúvida. Mas, quando tratam do Brasil, abandonam
qualquer lógica e objetividade. Qual a razão para essa atitude? O que
faz diretores de redação se comportarem com a “imparcialidade” de um
comitê eleitoral? O que os faz usar uma pauta idêntica, o mesmo ponto de
vista, a mesma passionalidade descontrolada, as mesmas fontes?
Seria
até engraçado se não fosse prejudicial ao país. Exemplo disso é o
cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que no mês passado publicou na
influente revista Scientific American um artigo com o seguinte título
(em inglês): “A pandemia no Brasil é uma ‘Fukushima biológica’ que
ameaça o planeta inteiro”. Nicolelis descreve o país como um pária
amaldiçoado que deve ser rejeitado pelo resto do mundo. E põe toda a
culpa pelo suposto apocalipse made in Brazil em… você sabe quem. Se seu
objetivo era espantar os investidores internacionais, parece que o plano
não está dando muito certo.
Mas
nem tudo está perdido na grande mídia internacional. Em 2 de junho, o
Wall Street Journal colocou na primeira página de uma de suas edições
uma grande matéria sobre o Brasil assinada por Jeffrey T. Lewis e
Samantha Pearson. Título: “A economia brasileira volta aos níveis
pré-pandêmicos enquanto o vírus ainda se espalha”.
As
fotos mostravam lojistas montando uma vitrine e pessoas comuns de
máscara fazendo compras numa rua de São Paulo. A matéria citava como
possíveis razões para a retomada da economia as exportações agrícolas e a
ajuda emergencial do governo federal. Lewis e Pearson entrevistaram um
economista brasileiro que criticava o fato de as pessoas estarem lotando
bares e shoppings durante um estágio ainda delicado da pandemia. E
ressaltava que a economia precisava se diversificar mais para não
depender do agronegócio. Outro economista declarou que a situação atual
do Brasil o deixava muito otimista para 2022, se comparada com a de
outros países da América Latina. Mas que o segundo trimestre ainda pode
trazer uma retração por causa das medidas restritivas impostas por
prefeitos e governadores.
Ora,
ISSO é jornalismo. Chegamos a um ponto em que provoca alívio ler uma
simples reportagem equilibrada, informativa e honesta. Na matéria, os
leitores foram tratados como seres inteligentes, capazes de raciocinar a
partir dos dados oferecidos sobre o Brasil. Ouviram opiniões diferentes
e não fugiram de uma visão otimista de nosso futuro. O Wall Street
Journal obviamente não é perfeito, mas está sabendo honrar o bom nome do
jornalismo.
O
que faz com que uma revista com 177 anos de existência como a Economist
jogue seu prestígio no lixo para entrar de cabeça na histeria
antibolsonarista? O que faz o New York Times abandonar 169 anos de
equilíbrio para publicar panfletos pueris? Por que o Brasil de hoje os
perturba desse jeito? Quando se rasgam em ódio para se submeter a essa
obsessão doentia e autodestrutiva, conseguem transformar Jair Bolsonaro,
que era um político obscuro e eleito quase por acidente, num mito de
verdade.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
The Economist em 1843 |
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