Em seu primeiro discurso como vice-presidente, Kamala Harris disse ao povo da Guatemala o que estava inserido nas políticas tão criticadas de Trump: 'Não venham para os EUA'. Ana Paula Henkel para a Oeste:
Em novembro do ano passado, logo após as eleições presidenciais norte-americanas, publiquei um artigo aqui na Oeste
mostrando quem era, de fato, a vice de Joe Biden. Kamala Harris, uma
velha conhecida dos californianos, foi procuradora-geral da Califórnia
e, mais tarde, senadora pelo Estado.
No
caminho da histórica eleição de 2020, um pleito confuso e ainda com
muitas perguntas sem resposta, ficou nítido que o único objetivo dos
democratas era o poder da Casa Branca. Sem políticas nem propostas, o
jeito foi esconder o candidato no porão e maquiar, de forma
hollywoodiana, a vazia candidata a vice, que pelo menos atendia ao
politicamente correto: mulher, negra, asiática, filha de imigrantes…,
mas que carregava também um defeito difícil de ser escondido por muito
tempo, a incompetência.
Diante
de um crescimento significativo de votos de latinos no Partido
Republicano desde a eleição de Donald Trump, em 2016, a mensagem da
campanha presidencial dos democratas aos imigrantes ilegais, seguida
logo após por uma ordem executiva do presidente eleito Joe Biden, sempre
foi clara: as políticas de fronteira do ex-presidente Donald Trump
seriam suspensas, a construção do muro entre o México e os Estados
Unidos interrompida e a concessão de green cards a imigrantes ilegais
expandida. Esse movimento gerou uma enxurrada desenfreada de imigrantes
ilegais da América Central na fronteira e o país enfrenta hoje uma das
maiores crises humanitárias e sanitárias de sua história.
Depois
de passar a campanha presidencial escondido e ainda sem dar uma única
entrevista coletiva aberta, Joe Biden decidiu colocar sua vice, Kamala
Harris, à frente da crise migratória na fronteira sul. E o que era óbvio
para milhões de californianos tornou-se evidente até para eleitores
democratas. A cor de sua pele, sua etnia ou sua condição como mulher não
lhe dão automaticamente a capacidade de liderar ou governar.
Há
dois anos, ainda durante as primárias presidenciais democratas, Kamala
Harris fez uma aparição no canal CNN para explicar sua posição na
disputa. Naquele momento, ela havia acabado de ser humilhada em um
debate por Tulsi Gabbard, outra candidata nas primárias, que expôs toda a
incompetência da concorrente em sua vida pública na Califórnia. Harris
tentava explicar o que havia acontecido, dizendo que era normal o embate
porque ela era uma candidata de “primeira linha”.
Para
quem acompanhou todo o processo eleitoral desde as primárias
democratas, não foi difícil perceber que Kamala Harris nunca foi isso.
Nem mesmo no dia em que realmente anunciou sua candidatura. No papel,
ela parecia uma concorrente séria, era senadora pelo maior Estado do
país, ex-procuradora com apoio quase universal entre os repórteres
militantes de uma mídia que se tornou uma espécie de assessoria de
imprensa do Partido Democrata. Por algum tempo, a receita enganou muita
gente e parecia que o plano daria certo. O problema nunca foi a mídia de
pompom, mas os eleitores reais que sempre a consideraram detestável e
inepta. Quanto mais Kamala eles viam, mais enojados ficavam.
Para
se ter ideia da repulsa que Harris despertava, em dezembro de 2019 ela
estava perdendo em seu próprio Estado nas primárias democratas para o
quase desconhecido Andrew Yang. Numa pesquisa do partido, a maioria dos
democratas da Califórnia disse que queria que ela desistisse da corrida.
Harris estava sendo esmagada até mesmo no pequeno Estado de Iowa, onde
ela gastou praticamente todo o dinheiro arrecadado para a campanha. É
surpreendente que, mesmo para a política, um meio famoso por recompensar
a falsidade, Kamala Harris seja falsa demais para vencer.
Sua
sorte é que, no atual raso e árido cenário político, pouco se discute
sobre propostas, ideias ou soluções. No culto à cor da pele, ao gênero, à
etnia, à sexualidade, e a toda a parafernália do politicamente correto,
o que menos conta é a capacidade de governar. E Kamala, por preencher o
checklist dos sinalizadores de virtude, foi a escolhida para ser o
poste do poste da China. Sua primeira tarefa? A histórica crise
migratória na fronteira sul. O que poderia dar errado? Tudo.
Harris
fez sua primeira visita estrangeira à Guatemala e ao México nesta
semana para abordar as “causas profundas” da migração da América Central
para os Estados Unidos. Em seu primeiro discurso como vice-presidente,
ela disse ao povo da Guatemala, sem rodeios, o que estava inserido nas
políticas tão criticadas de Donald Trump: “Não venham para os EUA”,
afirmou, antes da reiteração. “Não venham para os Estados Unidos. Os
Estados Unidos continuarão a fazer cumprir nossas leis e a proteger
nossa fronteira. Se vier para a nossa fronteira, você será mandado de
volta.” Harris nazista, fascista, taxista, sambista, eletricista.
Biden,
aparentemente, enviou Harris para “liderar esforços com o México e o
Triângulo Norte com os países que vão precisar de ajuda para conter o
movimento de tantas pessoas, impedindo a migração para nossa fronteira
sul”. Ele também disse que ela era “a pessoa mais qualificada para
isso”. Porém, depois dessa viagem, o óbvio ficou mais claro que a luz do
dia. A incapacidade política e diplomática de Harris gerou críticas até
dentro do próprio partido. Harris chamou a linguagem usada em seu
discurso de imigração de “nova era” — o que vai contra a lei de asilo
defendida pelo presidente Joe Biden em campanha, e a promessa de
restaurar o sistema de processamento de asilo na fronteira, trazendo uma
reforma de imigração há muito esperada.
Mas
o desastre da vice não parou por aí. Em uma entrevista ao NBC Nightly
News, Harris exibiu alguns de seus muitos talentos, que incluem uma
inacreditável superficialidade e obstinada incapacidade de processar os
relatórios que o Departamento de Estado envia a ela. Um dos momentos
mais significativos deixaria nossa “presidenta” Dilma orgulhosa. Quando
Lester Holt, da NBC, fez a Harris a pergunta mais óbvia que ela
receberia sobre a crise da fronteira, a vice-presidente tentou desviar e
rir da pergunta.
“Por que não visitar a fronteira? Por que não ver o que os norte-americanos estão vendo nesta crise?”, Holt perguntou.
Harris,
demonstrando absoluto descontrole, responde agitando os braços: “Em
algum momento, você sabe, nós vamos para a fronteira. Estivemos na
fronteira. Então, toda essa coisa… essa coisa… sobre a fronteira…
Estivemos na fronteira. Estivemos na fronteira”.
O
repórter é incisivo: “VOCÊ não foi à fronteira”. Harris então responde
com uma gargalhada nervosa: “E eu não fui para a Europa! Quer dizer… eu
não estou entendendo o seu ponto”.
Kamala
Harris está no comando de um dos problemas atuais mais graves nos
Estados Unidos. E ri de uma pergunta sobre o motivo pelo qual ela não
foi até a fronteira para entender melhor o que está acontecendo. O
nervosismo, o aceno da mão, a risada inapropriada, as repetições
semelhantes às de um robô danificado são humilhantes. O fato é que
Harris não foi à fronteira. Nem Biden.
O
ex-presidente Donald Trump e sua administração se opuseram
veementemente à imigração ilegal e às caravanas de requerentes de asilo.
Trump se concentrou na construção do muro na fronteira e impôs uma
política de “Permanecer no México”, que obrigava a maioria dos
requerentes de asilo da América Central a esperar no país vizinho
enquanto os tribunais dos EUA revisavam suas reivindicações de
perseguição. Em contraste, o governo Joe Biden encerrou a construção do
muro e desmantelou a política de Trump. Em abril, entretanto, as
detenções na fronteira sul atingiram mais de 178.000 migrantes ilegais —
o maior número mensal em 21 anos, com milhares de menores
desacompanhados.
Tommy
Pigott, um dos diretores do Comitê Nacional Republicano, atesta que
muitos norte-americanos que vivem em comunidades fronteiriças estão com
medo de deixar sua casa e que contrabandistas vêm abandonando crianças
de até 5 anos de idade na fronteira. Em comunicado à imprensa, Pigott
disse que as apreensões de Fentanyl, um analgésico que se tornou uma das
drogas que mais matam por overdose nos EUA, estão aumentando em todo o
país. “Mesmo assim, Biden e Harris continuam decepcionando o povo
norte-americano”, afirmou.
Há
uma razão pela qual Kamala Harris nem mesmo chegou a Iowa no processo
das primárias democratas, apesar de um lançamento espalhafatoso e do
ímpeto baseado em identidade de gênero, etnia e cor da pele. Ela
simplesmente não é boa em política. É inautêntica, tem instintos ruins,
falta-lhe seriedade e irrita muita gente.
Mas
não é apenas sua incapacidade que chama atenção. Diante da implacável
realidade dos fatos, fora das supermaquiagens hollywoodianas para
travestir farsantes em políticos, não há outra maneira de finalizar esse
artigo a não ser com as palavras de um dos mais importantes personagens
da história norte-americana. Em março de 1770, John Adams, um dos Pais
Fundadores dos EUA, disse durante o julgamento dos soldados britânicos
envolvidos no chamado Massacre de Boston: “Fatos são coisas teimosas. E,
quaisquer que sejam nossos desejos, nossas inclinações ou os ditames de
nossas paixões, eles não podem alterar o estado dos fatos e as
evidências”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI


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