Pedro Doria
O Globo
Parece ficção científica, mas por trás da briga entre o estúdio de videogames Epic e a Apple, o primeiro caso antitruste contra as Big Techs nas cortes americanas, está um conceito de como será a internet no futuro. É o metaverso. Não se trata de uma realidade próxima, mas também não é tão distante — coisa para daqui a 15 ou 20 anos.
É quando a internet se tornará um universo paralelo em que vamos transitar. Algo que lembra “Jornada nas estrelas: a nova geração”, o filme “Jogador número 1” ou, em sua forma distópica, “Matrix”.
PROCESSO REVELADOR – A Epic processa a Apple, pois quer oferecer a quem joga seu principal game, Fortnite, maneiras de pagar por recursos do jogo sem passar pela loja dos iPhones e iPads. Mas esse processo é só um lance numa partida bem mais complexa. A Epic quer se firmar como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo alguns lances à frente. E seu caminho é justamente o multiverso.
Chamamos hoje de ciberespaço este ambiente on-line em que nos encontramos cotidianamente. Com frequência, temos já a sensação de que levamos ali uma ou mais vidas paralelas entre fotos das férias com muito sorriso e nenhum mau humor, debates acalorados no Twitter, trocas de e-mail sisudas com o chefe, os Zooms que substituem o bar com os amigos. É como se tivéssemos inúmeras personas. Mas não há a sensação de que a internet é um espaço.
Uma das ideias por trás do que será o 6G é que ele terá a capacidade de operar realidade virtual. Essa rede, que em algum ponto dos anos 2030 começará a ser instalada, permitirá que o Zoom não se dê na frente de um monitor, e sim num ambiente em que, com um amigo em Tóquio, outro no México e um terceiro em Nairóbi, possamos juntos nos sentar num à beira-mar virtual com todo o jeito de ser real. Veremos as pessoas em três dimensões ricas.
NÃO É SÓ VISÃO 3D – A internet parecerá de fato um lugar. Num ambiente assim, as possibilidades são inúmeras. Não se trata, afinal, apenas da visão 3D. Luvas e outros utensílios acoplados ao corpo podem oferecer tato — e, assim, quando alguém aperta sua mão, o cumprimento é sentido com a pressão dada na origem, até com o calor.
Pode ser tão realista quanto quisermos, quanto também permitir que um perna de pau como cá este colunista se saia na partida tão brilhante como Zico. A pornografia ganhará outra dimensão, também o cinema e o teatro poderão se fundir e estaremos ali ao lado de Hamlet quando enfim ele cair morto. O resto é silêncio.
Esse é o conceito do metaverso. Quem o oferecer primeiro vai, naturalmente, fazer muito dinheiro.
REALIDADE VIRTUAL – Facebook, Google e Microsoft têm investimentos importantes e pesados em realidade virtual. A Apple já explora com suas câmeras de celular as possibilidades de mapear o espaço real em 3D para compreender sua profundidade e encaixar, ali, objetos virtuais para ser vistos, hoje, pela lente do celular. No futuro, com algum outro aparelho, na própria rua.
Uma maneira de enxergar o Fortnite é como um jogo em que comandamos personagens que, a cada rodada, saltam sobre uma ilha para disputar seu território. Armas as mais distintas, fantasias de super-heróis e alienígenas, tudo vale. Mas em Fortnite também se realizam, de tempos em tempos, concertos de música virtuais com artistas reais que estão de fato tocando. Lady Gaga e Ariana Grande estão programadas para tocar na ilha este ano. O rapper Travis Scott tocou para um público que ultrapassou 12 milhões de pessoas.
O metaverso existirá. A Epic trabalha para ser a primeira a oferecê-lo. Para isso, precisa passar por cima das grandes, hoje.
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