Adriano Marreiros
Eu pedi a Deus: não às agências de “checagem” e aos arautos da censura
“Deus me proteja de mim”, diz a canção de Chico César e do saudoso Dominguinhos, que também diz que “Caminho se conhece andando e então vez em quando é bom se perder”.
Ouço isso enquanto vejo comentários sobre um tal documentário que tem buscado apavorar os usuários das redes sociais e que estaria fazendo que muitos estejam saindo delas. Não duvido que estejam. Muita gente acha que fulano é gente boa porque critica a corrupção. Que ciclano é gente boa porque quer evitar que nos enganem com “fake” news. A música prossegue pedindo mais a Deus: que me proteja “da maldade de gente boa”. Muito sábia: como é que vou andar pelo caminho e me perder, procurando o que é a verdade, se tem “gente boa” que quer me impedir de andar, se tem “gente boa” que quer cassar o meu direito de me perder: mas, principalmente, porque tem “gente boa” que quer evitar a todo custo que eu tenha o direito de me achar?
Mas como assim? Que isso? Eles querem o seu bem, o BEM MAIOR pra Sociedade. As agências de “checagem” e seu arautos (do establishment “progressista”) fazem isso por bondade, por amor a você e contra “discursos de ódio”, que é como se chama qualquer coisa que não considerem “progressista”. Na caixa de som, por bluetooth, a canção, por coincidência pede a Deus, desta vez, que me proteja também “da bondade de pessoa ruim”.
Sinceramente, não sou de criticar sem ver, mas não verei o tal documentário que pretende convencer que as redes trouxeram tudo de pior e que, por dedução, a imprensa tradicional e órgãos do Estado e do globalismo seriam os únicos confiáveis, os únicos que me iluminarão com a verdade... Ele pode até pretender me fazer achar um caminho seguro pra trilhar, mas eu prefiro mesmo, bailando ao som da sanfona de Dominguinhos, me perder, porque “Perdido fica perguntando, vai só procurando e acha sem saber”...
Há dois anos, na mudança, achei um caderno de crônicas e poesias em que o então Cadete Marreiros, de 20 anos (1991), comentava que chamavam de opinião pública a opinião publicada. Naquele tempo, só publicava quem os editores dos jornais, os editores das revistas, os editores da Sociedade permitiam. As redes sociais permitiram que qualquer um publique sem as autorizações desse governo oculto, ou dessa panelinha, ou dos poderosos ou como você queira chamar. Permitiu que se publicasse muita besteira e muita sabedoria. Muita coisa errada e muita coisa certa. Muita mentira e muita verdade. Mas a expressão mais exata é: permitiu publicar sem pedir licença ao poder, aos poderosos. É o que se chama LIBERDADE DE EXPRESSÃO. É o que se chama AUSÊNCIA DE CENSURA. É o que se chama DEMOCRACIA DE VERDADE: pois, pela primeira vez na História, ao menos desde a Grécia antiga, o povo não precisou de intermediários, de “iluministas” nem de “editores” para expressar sua opinião, pela primeira vez podemos realmente falar em opinião pública, pela primeira vez podemos exercer a cidadania desde o tempo da Ágora dos gregos.
Ah, mas esse excesso de liberdade é perigoso?! E as “fake” News? Tolinho, o problema da Liberdade de expressão, ao longo de toda a História, nunca foi com as notícias falsas. Você realmente acha que agora é? Que o perigo está na liberdade de buscar a verdade? Que está na verdade, nos fatos reais? E a voz anasalada do Chico Cezar, justo nessa hora, lembra que “Perigo é se encontrar perdido, Deixar sem ter sido, Não olhar, não ver”.
Muitos querem fazer você não olhar pra não ver o óbvio e, do jeito que as coisas andam, não sei como vai ser. Recorro à Fé e reitero a Deus, Nosso senhor, e não aos burocratas e censores de plantão, o pedido do poeta:
Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim...
Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas
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