BLOG ORLANDO TAMBOSI
Fugas virais de laboratórios não são fenômenos incomuns. O Sars1 já vazou de laboratórios de Cingapura, Taiwan, e mais de uma vez do Instituto Nacional de Virologia de Pequim. Flavio Gordon via Gazeta do Povo:
“Qualquer
um que tiver vacina, eu sou capaz de deitar no chão e deixar que pisem
em cima de mim, para que tragam vacina” (senadora Kátia Abreu, 18 de
maio de 2021)
Começamos
o artigo da semana passada mencionando o vasto e intrincado lobby
pró-ditadura chinesa que, mediante censura, ameaça, desinformação,
assassinato de reputação e outros expedientes típicos de regimes
totalitários, pretende banir do debate público a hipótese de o
Sars-CoV-2 ter escapado de um laboratório chinês. Pois bem. Bastou-me
compartilhar o link do artigo nas redes sociais para eu mesmo entrar na
alça de mira dos filoditadores: pela ousadia de abordar a possível
origem laboratorial do novo coronavírus, ganhei um novo gancho (perdi
até a conta de quantos já foram) de 30 dias do Facebook. Munidos com
suas canecas coloridas cheias de leite de soja, os censores por um mundo
melhor decidiram que minha publicação consistia em “desinformação
relacionada à Covid-19” e “boatos virais que foram desmentidos
repetidamente”.
Por
uma dessas ironias do destino, no dia mesmo em que recebi dos meus
censores esse benevolente comunicado – que, afinal, só tinha por
objetivo libertar-me do reino de ignorância e ódio no qual jazemos todos
os que não somos eles, e que espero retribuir à altura no fórum
apropriado, a Justiça –, os tais “boatos virais desmentidos
repetidamente” eram veiculados por outros atores, bem mais relevantes
que este escriba. Em carta publicada na Science, 18 cientistas pediam
que a hipótese de origem laboratorial do novo coronavírus continuasse a
ser investigada, e criticavam abertamente o relatório conjunto da OMS e
da China por descartá-la precocemente. “Tanto a teoria de liberação
acidental de um laboratório quanto a de transbordamento zoonótico
permanecem viáveis” – lê-se na carta. “Saber como a Covid-19 surgiu é
fundamental para orientar as estratégias globais de mitigação do risco
de surtos futuros”.
Como
se nota, pelo jeito os “boatos” não foram “desmentidos” com a veemência
necessária, que satisfaria os camaradas do Partido Comunista Chinês. O
que hão de fazer agora os papa-soja da censura e tietes da ditadura
chinesa? Cancelar a Science? Suspender as contas dos autores do
documento? Morder a testa? Chorar em posição fetal agarrados a ursos de
pelúcia? Mastigar seus tênis All-Star com estampa de bolinhas?
Realmente
não sei. E, a bem da verdade, não ligo. O que sei, e devo compartilhar
com os leitores da Gazeta (um dos poucos jornais tradicionais em que
esse tipo de informação pode ser veiculada), é o seguinte: dentre os
signatários da carta da Science, merece destaque Ralph Baric, da
Universidade da Carolina do Norte, um dos maiores especialistas mundiais
em coronavírus, e que tem estudos em parceria com ninguém menos que Shi
Zhang-li, a “Mulher Morcego”, líder das pesquisas com coronavírus de
morcegos no Instituto de Virologia de Wuhan.
De
um lado, temos então esse homem – expert não apenas em estudar, mas,
justamente, também em fabricar novos coronavírus em laboratório –
subscrevendo um documento que pede investigação sobre uma possível
origem laboratorial do Sars-CoV-2. De outro, os funcionários do
departamento de censura do Facebook, o coletivo de sobrinhos espirituais
de Xi Jinping, experts em lacrar e jogar Tetris. Cabe ao público
decidir quem ouvir.
Dissemos
que Baric é um dos cientistas cujo metiê é fabricar novos coronavírus
em laboratório. E o leitor pode estar se perguntando por que alguém
faria isso. No artigo anterior, prometemos examinar esse ponto a partir
do ótimo artigo do jornalista de ciência Nicholas Wade, que discute em
detalhes a hipótese de origem laboratorial do Sars-CoV-2. É o que
faremos agora. Apertem os cintos.
A
modalidade de pesquisas conduzidas por virologistas como Baric e
Zhang-li é tecnicamente batizada com o eufemismo “experimentos de ganho
de função”. Basicamente, trata-se de aprimorar geneticamente um vírus de
origem animal para que se torne plenamente adaptável ao organismo
humano. A justificativa científica é que, simulando um salto zoonótico
natural, adquirimos maior compreensão do potencial patológico do vírus,
permitindo antecipar e evitar epidemias futuras. Foi assim, por exemplo,
que cientistas recriaram o vírus da gripe espanhola, sintetizaram o
quase extinto vírus da poliomielite com base em sua sequência de DNA, e
inseriram o gene da varíola em um vírus afim.
No
caso dos coronavírus, a atenção dos virologistas dirigiu-se
particularmente às chamadas proteínas de espícula, que recobrem a
superfície do vírus e lhe dão sua forma característica, de coroa (donde o
nome coronavírus, ou “vírus em forma de coroa”). O modo como as
espículas são estruturadas determinam em qual espécie animal o vírus irá
se “encaixar” melhor. No ano 2000, por exemplo, uma experiência
conduzida por cientistas holandeses consistiu em manipular geneticamente
a proteína de espícula de um coronavírus de rato, fazendo com que
passasse a infectar apenas gatos.
Por
ocasião das epidemias de Sars1 e Mers, os cientistas intensificaram os
estudos com coronavírus de morcegos, para compreender as mutações que as
proteínas de espícula deviam sofrer de modo a infectar os seres
humanos. Nesse contexto, Shi Zhang-li e sua equipe do Instituto de
Virologia de Wuhan fizeram sucessivas expedições às cavernas de Yunnan,
no sul da China, terminando por coletar mais de 100 espécies diferentes
de coronavírus de morcegos.
Em
parceria com o já citado Baric, o trabalho da “Mulher Morcego” e equipe
consistiu basicamente em tornar os coronavírus de morcego plenamente
capazes de infectar humanos. Foi assim que, em novembro de 2015,
conseguiram fabricar um novo vírus, tomando por base a estrutura do
Sars1-coronavírus e substituindo sua proteína de espícula por uma do
vírus de morcego batizado de SHC014-CoV. Constatou-se finalmente que
essa quimera viral – SHCo14-CoV/SARS1 – era capaz de infectar células
das vias aéreas humanas, pelo menos in vitro. Quanta coincidência, não?
Como escreve Nicholas Wade em seu artigo: “Se o vírus Sars2 tiver sido
cozinhado no laboratório da dra. Shi, então o seu protótipo direto teria
sido a quimera viral SHC014-CoV/Sars1, cujo perigo em potencial
preocupou muitos observadores e provocou debates intensos”.
Observadores
como, por exemplo, Richard H. Elbright, biólogo molecular da
Universidade Rutgers e especialista de ponta em biossegurança. Em suas
palavras, citadas por Wade: “Está claro que o Instituto de Virologia de
Wuhan estava construindo sistematicamente novos coronavírus quiméricos e
avaliando a capacidade deles de infectar células humanas e roedores que
expressam o ACE2 humano” [o ACE2 – inserido via engenharia genética nas
células de roedores, que passam então a ser considerados “humanizados”
para fins de pesquisa – é uma proteína que recobre a superfície das
células das vias aéreas humanas e que permite o “encaixe” da proteína de
espícula do coronavírus]. Também está claro que, a depender dos
contextos genômicos constantes escolhidos para análise, essa linha de
pesquisa poderia ter produzido o Sars-CoV-2 ou um progenitor próximo do
Sars-CoV-2”.
Fugas
virais de laboratórios não são fenômenos incomuns. Nas décadas de 1960 e
1970, por exemplo, o vírus da varíola escapou três vezes de
laboratórios britânicos, causando 80 infecções e três mortes. Desde
então, outros vírus perigosos estudados têm escapado quase que
anualmente. Dentre eles, justamente o Sars1, que vazou de laboratórios
de Cingapura, Taiwan, e mais de uma vez do Instituto Nacional de
Virologia de Pequim.
Um
fator agravante para o risco já inerente ao tipo de pesquisa conduzida
por Shi Zhang-li diz respeito ao baixo nível de segurança dos
laboratórios do Instituto de Virologia de Wuhan. Em primeiro lugar, não
havia vacinas disponíveis para proteger os funcionários do laboratório
que lidavam com coronavírus. Mas ainda mais grave é o fato de que boa
parte do trabalho da “Mulher Morcego” com coronavírus foi realizado no
segundo nível mais baixo existente de biossegurança em laboratórios.
Há
quatro graus de controle, definidos do BSL1 ao BSL4, sendo este último o
nível mais restritivo, indicado para patógenos letais tais como o vírus
Ebola. Em Wuhan, a maioria das pesquisas com coronavírus tem sido
conduzida em laboratórios com nível BSL2, cujas exigências são bastante
básicas (usar luvas, jaleco etc.), correspondentes à segurança sanitária
de um consultório odontológico comum. Nessas condições, por óbvio, o
risco de infecção dos funcionários com vírus similares ao Sars-CoV-2
(quando não com o próprio) pode ser considerado alto. E, com efeito,
segundo relatório emitido pelo Departamento de Estado americano em 15 de
janeiro de 2021: “O governo dos EUA tem motivos para acreditar que
vários pesquisadores dentro do Instituto de Virologia de Wuhan adoeceram
no outono de 2019, antes do primeiro caso identificado do surto, com
sintomas consistentes tanto com a Covid-19 quanto com doenças sazonais
comuns”. Daí que, na opinião de Elbright, “esse trabalho nunca deveria
ter sido financiado e nunca deveria ter sido executado”.
Sim,
decerto não deveria. Mas foi. E, escandalosamente, como revela Wade,
foi financiado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas
(Niaid), que integra os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados
Unidos. O Niaid, convém lembrar, é dirigido por ninguém menos que
Anthony Fauci, líder do combate à Covid-19 nos EUA, duramente criticado
pelo então presidente Donald Trump e, por isso mesmo – tal como ocorreu
com o nosso Mandetta –, queridinho da imprensa.
A
verba proveniente do Niaid foi destinada ao contratante principal, um
personagem já nosso conhecido, sobre o qual falamos no artigo anterior:
Peter Daszak – presidente da EcoHealth Alliance, que subcontratou
Zhang-li e idealizou a carta na Lancet atribuindo à hipótese de origem
laboratorial do Sars-CoV-2 a pecha de “teoria da conspiração”. Em
dezembro de 2019, todavia, quando a eclosão da pandemia ainda não era
amplamente conhecida, Daszak concedeu uma entrevista na qual falava com
entusiasmo dos procedimentos experimentais que financiava, notadamente
os do Instituto de Virologia de Wuhan. Seguem alguns trechos:
“E
agora descobrimos, sabe, depois de seis ou sete anos fazendo isso, mais
de 100 novos coronavírus aparentados ao Sars, bem próximos ao Sars...
Alguns deles entram em células humanas no laboratório, alguns podem
causar doença Sars em camundongos humanizados modelos e são intratáveis
com anticorpos monoclonais terapêuticos, e não dá para se vacinar contra
eles com uma vacina. Então, eles são um perigo claro e presente... Os
coronavírus – você pode manipulá-los no laboratório bem facilmente. A
proteína de espícula conduz muito do que acontece com os coronavírus, no
risco zoonótico. Então, você pode pegar a sequência, pode construir a
proteína, e trabalhamos muito com Ralph Baric da UNC para fazer isso.
Insere-se [a proteína] no alicerce de outro vírus e faz-se um pouco de
trabalho no laboratório.”
Ocorre
que esse “um pouco de trabalho no laboratório”, com financiamento do
Niaid, bem pode ter sido a origem da Covid-19. Mais grave ainda, como
mostra Wade, é o fato de Fauci ter feito lobby para burlar uma moratória
da agência que impedia o financiamento de quaisquer pesquisas de “ganho
de função” que aumentassem a patogenicidade da gripe, da Sars1 e da
Mers. Explorando uma brecha da moratória – uma nota de rodapé que abria
exceção para o impedimento no caso de ficar provado que a pesquisa em
tela “era urgentemente necessária para proteger a saúde pública ou a
segurança nacional” –, é muito provável que Fauci e Francis Collins
(diretor dos NIH) tenham conseguido manter o fluxo de dinheiro que
irrigou as pesquisas da “Mulher Morcego”. E, obviamente, também para
eles interessa que a hipótese da origem laboratorial da pandemia
permaneça sendo estigmatizada como “teoria da conspiração”.
Nicholas
Wade resume a questão da seguinte forma: “Está documentado que os
pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan estavam fazendo
experimentos de ganho de função projetados para fazer os coronavírus
infectarem células humanas e camundongos humanizados. Este é exatamente o
tipo de experimento do qual um vírus como o Sars2 poderia emergir. Os
pesquisadores não estavam vacinados contra os vírus em estudo, e estavam
trabalhando nas condições de segurança mínimas de um laboratório BSL2.
Assim, o vazamento de um vírus não seria grande surpresa. Em toda a
China, a pandemia eclodiu justamente à porta do instituto de Wuhan. O
vírus já estava bem adaptado a humanos, como esperado para um vírus
cultivado em roedores humanizados... Quantas evidências mais se poderia
querer, além dos ainda inalcançáveis registros laboratoriais
documentando a criação do Sars2? Se o caso da origem laboratorial do
Sars2 é tão substancial, por que é que mais pessoas não sabem disso?
Como pode já estar evidente agora, há muitas pessoas que têm motivos
para não tocar no assunto”.
Como
já dissemos, a reportagem investigativa de Nicholas Wade é
extraordinária, uma das mais aprofundadas já escritas sobre o tema. Há,
todavia, um aspecto do problema não contemplado pelo autor, e que
precisamos examinar. Ele pode ser resumido da seguinte forma: na
República Popular da China, não há diferença entre centros de pesquisa
civis e militares. Dito de outro modo, inexiste na China comunista o
conceito de pesquisa científica pura ou desinteressada. Ali, atrás da
Grande Muralha, todo cientista ou é membro do Partido ou, no mínimo,
está sempre sob severa supervisão de seus inspetores.
Essa
concepção está claramente manifesta no Capítulo 78 do 13.º Plano
Quinquenal (2016-2020) do Partido Comunista Chinês, intitulado
“Integração do Desenvolvimento Civil e Militar”, e que descreve uma
fusão entre pesquisas civis e militares, inclusive na área estratégica
da “biologia sintética”. Portanto, a possibilidade de aproveitamento
militar de novos vírus sintetizados em laboratório para fins
declaradamente terapêuticos – incluindo aí as quimeras virais fabricadas
no Instituto de Virologia de Wuhan e alhures – é inerente à própria
organização social, política e cultural da China contemporânea, bem como
ao pensamento de seus dirigentes e estrategistas militares.
Ciente
disso – e de como são tratados pelo regime os cientistas tidos por
“inúteis” ou insubmissos –, não fiquei surpreso quando, no último dia 9,
a rede de televisão australiana Sky News Australia pôs no ar mais uma
edição de Sharri, programa apresentado pela premiada jornalista
investigativa Sharri Markson, que está finalizando um livro intitulado
What really happened in Wuhan (com lançamento previsto para setembro de
2021 pela HarperCollins). Nessa edição, Markson decidiu compartilhar com
os telespectadores algo do material explosivo contido na obra. A
jornalista descobriu um documento de 2015 produzido por cientistas e
sanitaristas chineses ligados ao Exército de Libertação Popular (ELP),
no qual se discute abertamente, cinco anos antes do início da pandemia, a
transformação do Sars coronavírus em arma biológica. Foi justamente em
2015, recorde-se, que a “Mulher Morcego” e sua equipe do Instituto de
Virologia de Wuhan fabricaram a quimera viral SHCo14-CoV/SARS1,
habilitada a infectar seres humanos.
Com
o título em chinês A origem não natural do Sars e as novas espécies de
vírus de fabricação humana enquanto armas genéticas, o documento foi
editado por Xu Dezhong (professor veterano da universidade médica da
Força Aérea chinesa e chefe do grupo de especialistas que lidou com a
Sars1) e Li Feng (ex-vice-diretor do Escritório de Prevenção de
Epidemias da China), e descrevia os Sars coronavírus como capazes de
instaurar “uma nova era de armas genéticas”, pela relativa facilidade
com que podiam ser “artificialmente manipulados em agentes patogênicos
para humanos, convertidos em armas e lançados de um modo nunca antes
visto”. O documento dizia também: “Acompanhando os desenvolvimentos de
outros campos da ciência, houve grandes avanços na operacionalização de
agentes biológicos. Por exemplo, a recém-descoberta capacidade de
congelar microrganismos a seco tornou possível armazenar agentes
biológicos e os aerolisar durante ataques”.
De
acordo com Markson, há no documento uma seção especialmente dedicada a
explorar as condições ideais para se lançar um ataque biológico. Segundo
os autores, ao provocar um súbito aumento de pacientes necessitando
internação hospitalar, ataques biológicos podem “causar o colapso do
sistema de saúde do inimigo” (sic). “Para além das perdas humanas,
ataques biológicos em larga escala podem causar muitas consequências
indiretas” – continua o documento. “Entre elas, está a sobrecarga do
sistema de saúde”.
“Armas
biológicas não apenas causam morticínio em massa, como induzem uma
notável pressão psicológica capaz de minar a efetividade combativa do
inimigo. (...) ataques com armas biológicas podem gerar problemas
mentais agudos e crônicos.”
Trecho
do documento “A origem não natural do Sars e as novas espécies de vírus
de fabricação humana enquanto armas genéticas”, escrito por cientistas
ligados ao Exército chinês.
Sublinhando
o fato de que armas biológicas produzem efeitos de muito mais longo
prazo que ataques convencionais, os cientistas-militares chineses, todos
altamente graduados no ELP e no PCCh, mencionam o terror psicológico
provocado por um ataque do tipo: “Armas biológicas não apenas causam
morticínio em massa, como induzem uma notável pressão psicológica capaz
de minar a efetividade combativa do inimigo. Assim como ocorre em outros
desastres, as pessoas passam a viver com medo durante um considerável
período de tempo após o ataque, resultando em danos psicológicos breves
ou, em alguns casos, permanentes. Em outras palavras, ataques com armas
biológicas podem gerar problemas mentais agudos e crônicos”.
Nada
do que foi descrito acima chega a ser propriamente novidade. Em
setembro de 2020, por exemplo, a virologista chinesa Li-Meng Yan, da
Universidade de Hong Kong, publicara um artigo intitulado
“Características incomuns do Genoma do Sars-CoV-2 indicando sofisticada
manipulação laboratorial antes que evolução natural e delineamento de
sua provável rota sintética”, no qual defendia a hipótese de o novo
coronavírus ter surgido em algum laboratório rigidamente supervisionado
pelo ELP. Também no fim de 2020, o ex-embaixador australiano na China
(lembrando que, corajosamente, a Austrália entrou de vez em rota de
colisão com o gigante asiático) abordou o tema em entrevista ao programa
60 Minutos. Se, portanto, o programa de Sherri Markson teve algum
mérito particular foi o de, enfrentando a virulenta guerra de informação
movida pela China em todo o globo, exibir num grande veículo de mídia
do Ocidente um documento de fonte primária que aborda frontalmente a
possibilidade de uso militar do Sars-CoV-2 por parte do governo chinês.
O
fato é que, seja nos EUA (onde o Congresso começa a investigar
formalmente a hipótese de origem laboratorial da Covid-19), na
Austrália, no Reino Unido ou na França, boa parte do mundo começa a
encarar o óbvio, a cobrar da China a conta pela pandemia e a se
preocupar com o seu agressivo projeto imperialista. Enquanto isso, no
Brasil, a imprensa corrupta acoberta todos esses fatos, apenas porque,
em sua imaginação tacanha e provinciana, eles podem dar alguma razão ao
presidente Bolsonaro. Na maioria dos estúdios e redações, a ordem unida
continua sendo a de tratar qualquer sugestão de culpa chinesa pela
pandemia com risinhos de deboche, como paranoia ideológica ou teoria da
conspiração.
Em
perfeita comunhão de propósitos e estratégias com essa imprensa, por
sua vez, a bancada pró-China no parlamento, frenética no picadeiro
montado por (segurem o riso ou as lágrimas) Renan Calheiros, age contra o
interesse pátrio, atacando um ex-chanceler que, mal ou bem, procurou
alinhar o Brasil com aquelas preocupações mundiais, e defendendo a
ditadura chinesa com unhas e dentes, ao custo da própria dignidade.
Propondo um alinhamento automático e aviltante com o PCCh, os
parlamentares fizeram de tudo para varrer para debaixo do tapete fatos
que lhe fossem incômodos. E, dentre esses parlamentares, ao menos uma
senadora elevou a bajulação a outro patamar, chegando a oferecer-se, ela
própria, como tapete da China.
Mas
que o leitor não seja maldoso de ver nesse ato de contrição, que
simboliza o espírito mesmo da assim chamada “CPI da Covid”, qualquer
hipótese de motivação pecuniária ou interesse próprio. Afinal, estamos
na arena dos apóstolos da ciência (ou “ciênça”, como pronunciam não
poucos deles) e do bem comum. Foi tudo, é claro, em nome da saúde do
povo brasileiro.
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