Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo, 30 de maio:
Mayra
Pinheiro, a “Capitã Cloroquina”, confirmou no depoimento à CPI que foi a
autora de um áudio postado nas redes sociais em que dizia que tudo na
Fiocruz, Fundação Instituto Oswaldo Cruz, “envolve LGBT”. Dizia também
que “eles têm um pênis na porta da Fiocruz”, que todos os tapetes das
portas mostravam imagens de Che Guevara e, nas salas, havia figurinhas
de “Lula Livre” e de “Marielle Vive”. Sua defesa: o áudio é antigo e na
época era assim. Não era. E o pênis imaginado por ela é o símbolo dos
120 anos da Fiocruz (https://istoe.com.br/penis-de-mayra-pinheiro-era-logo-da-fiocruz/)
Lembra
a história do Joãozinho? O terapeuta lhe mostrou vários borrões, em
todos eles Joãozinho viu cenas de sexo. E reclamou: “O sr. mostra para
todos os garotos esse livro pornográfico?”
*
Bolsonaro garantiu que é “imbrochável, imorrível, incomível”. Gente
morre, logo ele não se considera gente. Deus é imortal, mas nem os mais
radicais bolsonaristas ousariam comparar o capitão ao Senhor dos
Exércitos. O Demônio é imortal. O caro leitor se lembra de algum outro
ser imortal?
*
Bolsonaro não foi ao Amazonas quando lá morriam pessoas por falta de
oxigênio. Mas agora foi, com farta comitiva, para inaugurar uma ponte de
madeira de 18 metros por seis – no Interior, seria chamada de
“pinguela”. Lá gravou uma live defendendo a cloroquina, chamando-a de
“aquele remédio que ofereci à ema”.
Esqueceu de contar que a ema, indignada, o bicou.
Título estranho
E
por que o título fala em nióbio? Simples: antes de se eleger, Bolsonaro
cansou de dizer que o nióbio era a grande riqueza nacional
inaproveitada. E?
É um título bem bolsonarista: o nióbio é precioso, mas não quer dizer nada.
Pressão
O
presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, pediu à Procuradoria
Geral da República que investigue possíveis crimes cometidos por Eduardo
Pazuello e Bolsonaro. Na opinião de Freire, é “plausível cogitar” do
crime de prevaricação e da prática de atos de improbidade
administrativa. Atos de improbidade, algo como gastar mal as verbas
disponíveis; e prevaricação, não tomar as providências que cabem ao
ocupante do cargo.
Olho nele
Todo
mundo fala em André Mendonça para o Supremo e em Guilherme Aras como
outro nome possível. Mas não se surpreenda se, para a vaga do ministro
Marco Aurélio, surgir o advogado Arthur Weintraub.
É da confiança do presidente, é evangélico e concorda com Olavo de Carvalho.
Adeus para um grande homem
Jaime
Lerner foi três vezes prefeito de Curitiba, duas vezes governador do
Paraná; e jamais sofreu qualquer acusação. Poderia ter gasto bilhões
para construir um metrô em Curitiba, para o que teria amplo apoio
empreiteral. Gastou muito menos e montou um eficientíssimo sistema de
transporte por ônibus, estudado e aplicado em quase todo o mundo (menos
no Brasil, claro). Criou os calçadões, multiplicou os parques, criou a
notável Ópera de Arame, um teatro lindo e barato, com programas que
atraíram a população. Sua ideia básica era fazer a cidade funcionar,
para que os cidadãos vivessem melhor. Desenvolveu o conceito de
acupuntura urbana, pequenas intervenções de baixo custo e pouco
transtorno que resolvem problemas. Seu trabalho de urbanização de
favelas foi tão bom que favelados de outras cidades foram para Curitiba,
obrigando-o a restringir o programa a quem já morava lá.
Boa gente
Tive
poucos contatos com Lerner, levado por dois amigos curitibanos, os
jornalistas Aramis Millarch e Gerson Guelmann. Tinha um jeito próprio de
trabalhar: de manhã ficava em casa, com a família, conversando com
amigos arquitetos sobre problemas da cidade. Almoçava no centro (comigo,
numa feira, onde me ensinou uma bebida que eu não conhecia: caldo de
cana com pinga. Uma delícia. Quanta pinga? Depende. Para ele, e para
mim, meio cálice. Mas, como diz o papa Francisco, há quem prefira um
pouco mais). O povo passando pela rua, cumprimentando, numa boa: muito,
muito popular.
Com a morte de Jaime Lerner, perdemos o maior prefeito que o país já teve.
Más notícias
*
O desemprego no Brasil bateu o recorde: 14,7% - o que significa que há
14,8 milhões de desempregados no país. É pior do que parece:
desempregado é o cidadão que procura emprego e não consegue. Aqueles que
desistiram, por um ou outro motivo, não estão nessa conta.
*
O IGPM, índice normalmente usado para rever os aluguéis, subiu 37,4%
nos últimos doze meses – a maior alta em 26 anos. Aplicado a seco,
significa que quem paga R$ 1 mil pode ter o aluguel elevado para quase
R$ 1.400,00. O que os empresários do setor recomendam é que os
inquilinos conversem com os proprietários – que também não têm interesse
em ficar com imóveis vazios – em busca de uma solução menos traumática.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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