Mas o mais surpreendente neste achaque internacional com o Brasil do
tipo “O ar é de todos”, além do travozinho a neocolonialismo, é o óbvio
preconceito orgânico que ele encerra. Então está tudo tão preocupado com
a qualidade do ar e com a Amazónia, está tudo tão inquieto com o
alegado pulmão do mundo e não sobra nem um bocadinho de histeria para o
hipotético esfíncter do planeta, responsável por 30% do dióxido de
carbono libertado para a atmosfera, de seu nome China? Curioso. Artigo
de Tiago Dores, para o Observador:
De entre os líderes internacionais irados com Bolsonaro a bicicleta
vai para Emmanuel Macron. Perante a suposta passividade do governo
brasileiro face à destruição do “pulmão do mundo que produz 20% do
oxigénio do planeta” o presidente francês não escondeu a sua indignação.
Já o verdadeiro motivo da indignação o estadista ocultou bem ocultado. E
a revolta tem a ver de facto com oxigénio, mas apenas na medida em que
Macron receia que o Brasil de Bolsonaro, tendo mais área para produzir
fruta tropical da bem docinha e podendo exportá-la para a Europa,
sufoque a indústria das desenxabidas pêras e maçãs gaulesas. Como
sempre, são as grandes questões geopolítico-hortifrutícolas que definem o
destino das nações. “Sim, pá, mas o Bolsonaro é um grunho!” É, mas as
duas questões não são mutuamente exclusivas.
Além de que mesmo a ser verdade que a Amazónia produz 20% do oxigénio
do planeta — não quero estragar a surpresa a quem ainda não googlou,
mas sim, trata-se de um barrete de todo o tamanho — e se esse oxigénio
desaparecesse todo por culpa do Bolsonaro qual era o drama? Não só não
era um problema como até era bom para a saúde. Por exemplo, para uma
pessoa com uma pulsação de 80 batimentos por minuto bastava treinar um
bocadinho e baixar esse valor em 20% para as 64 pulsações por minuto. E
pronto, gastávamos menos oxigénio, andávamos mais relaxados e ainda
corríamos menos riscos de contrair problemas cardíacos. “Tudo bem, agora
o Bolsonaro é uma besta, pá!” Certo, mas de que forma isso invalida o
meu sagaz argumento?
Mas o mais surpreendente neste achaque internacional com o Brasil do
tipo “O ar é de todos”, além do travozinho a neocolonialismo, é o óbvio
preconceito orgânico que ele encerra. Então está tudo tão preocupado com
a qualidade do ar e com a Amazónia, está tudo tão inquieto com o
alegado pulmão do mundo e não sobra nem um bocadinho de histeria para o
hipotético esfíncter do planeta, responsável por 30% do dióxido de
carbono libertado para a atmosfera, de seu nome China? Curioso.
Talvez por ser mais seguro fazer bullying ao miúdo que ainda é primo
afastado do que ao puto desconhecido que é especialista a passar
indivíduos a ferro com um tanque no Grand Theft Auto Tiananmen e para
quem Hong Kong significa Porrada Neles. “Eh pá, mas o que é inegável é
que o Bolsonaro é um bronco!” Sem dúvida, embora isso em nada
desvalorize este importante ponto.
Enfim, saudade para os governos de Lula da Silva. Com o Lula os fogos
na Amazónia eram estupendos fogos. Eram fogos fecundos que geravam
habitats com ainda mais diversidade de espécies ao permitirem que os
nutrientes das plantas voltassem ao solo onde, graças ao calor gerado
pelo lume, germinavam novos tipos de sementes criando assim condições
benéficas para que a vida selvagem prosperasse. “Sim, sim, pá, só que o
Lula é um corrupto de todo o tamanho!” Pois, lá isso é verdade.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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