O excesso de demandas ao judiciário é índice de retardo mental social em escala. Coluna de Luiz Felipe Pondé, via FSP:
Às vezes tenho dó dos juízes e juízas (para que não digam que não
reconheço o sexo na magistratura). Logo terão de decidir se um casal em
“conchinha na cama”, e ela se esfregando de costas no cara, se ela
queria ou não transar. É evidente que logo surgirão centenas de casos
envolvendo cães, gatos, passarinhos, larvas de estimação e afins. O
mundo segue sua trajetória irrevogável em direção a infantilização.
Quem tem o direito de decidir o lugar da escova de dentes na pia do
banheiro? Como decidir quem deve decidir a marca da pasta de dente? Com a
emancipação masculina em curso, os homens portadores da nova
masculinidade (ou deveria dizer novas masculinidades, já que existe uma
masculinidade para cada homem?), seguramente exigirão o direito de
decidir a marca da pasta de dente.
As mulheres, por sua vez, já há décadas nessa estrada da maioridade
ou emancipação, se queixarão da suposição de que escolher a marca da
pasta de dente seria “função do gênero feminino” —“@s juízes” decidirão?
Na verdade, marchamos para uma situação em que pessoas exigirão o
direito, enquanto cidadãos, de ter um juiz para cada uma delas. Um juiz
do trabalho, cível, criminal, e por aí vai.
Claro que deverá ser um algoritmo. No futuro próximo, terão acesso a
um juiz app para baixar no celular e decidir quem tem o direito de
escolher o vinho no restaurante e se você tem ou não direito de comer
carne numa mesa ao lado de um vegano. Cometer esse ato poderá ser
considerado irresponsabilidade afetiva para com as emoções do cidadão da
mesa ao lado, que se sentirá ofendido com a indiferença alimentícia
praticada pelo carnívoro boçal.
Há pouco dias me contaram que numa muito importante universidade dos
Estados Unidos, mandar um email num grupo de pesquisa virou um inferno. A
questão é: como usar a gramática diante do fato de que você poderá
ofender a um transgênero caso haja um (ou uma?) na equipe que recebe o
email?
Quem ainda acha que o politicamente correto é “necessário” é porque
ganha dinheiro com ele ou porque não percebeu ainda que essa prática é
uma forma de censura destruidora da capacidade de pensar, agir, escrever
e falar. A desarticulação que o politicamente correto causa na
educação, na ciência, na publicidade, na política é indicativo de que
ele se transformou num mercado em si.
Pela primeira vez na história uma forma de censura se fez mercado: o
politicamente correto é uma forma de inquisição ao portador. E o
linchamento constante típico das redes sociais torna o politicamente
correto uma arma contra patrocinadores, profissionais do esporte, da
arte (esses, normalmente, já vendidos ao politicamente correto), da
mídia, da política, do Poder Judiciário, enfim, toda forma de atividade
pública.
O mercado jurídico cresce para advogados que adoram esse inferninho.
Se você pode ser processado por respirar para o lado errado, os
advogados adoram. Já os juízes, não sei. Trabalhar como juiz numa
sociedade de retardados mentais sociais não me parece a coisa mais fácil
do mundo.
As pessoas se recusam ao uso da autonomia ou do senso comum e
decidiram que precisam de um “juiz para chamar de seu”. Ninguém assume
nada, apenas terceirizam. Já terceirizavam filhos, idosos, animais,
agora vão terceirizar o ato de decidir questões cotidianas. O excesso de
demandas ao judiciário é índice de retardo mental social. Os advogados
ganharão mais dinheiro com esse retardo mental social.
A própria gestão da cidade cede a infantilização do convívio social.
Exemplo: na região da praça Panamericana, na zona oeste da cidade de São
Paulo, numa das esquinas de maior trânsito do local acima citado, uma
daquelas empresas que investem no “brincar de Amsterdã” instalou suas
bicicletas para riquinhos usarem, fechando uma faixa inteira da rua.
Em vez de simplesmente proibir as pessoas de pararem o caro ali, como
paravam, e assim, desafogar o acesso complicado à praça Panamericana
nos horários de pico, a gestão pública investiu no “brincar de
Amsterdã”. Qual seria a causa de ato tão regredido em nome das modinhas
de comportamento?
Uma hipótese possível é o puro e simples retardo mental social como
fenômeno crescente nas sociedades ocidentais. Talvez como forma
decorrente do consumismo e do individualismo. Se sou poderoso como
consumidor, serei como cidadão que só quer o mundo aos seus pés.
Consumir a condição infantojuvenil como parte dos direitos civis. Um
parque temático de retardados descolados.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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