José Casado comenta, em sua coluna no jornal O Globo, os "segredos e susurros na República grampeada":
Sobra inquietação em Brasília. Confirmam-se 976 linhas telefônicas
grampeadas em três estados. É grande o número de vítimas, entre elas o
presidente, juízes do Supremo e do STJ, líderes do Congresso, ministros,
desembargadores, procuradores e policiais.
Mantém-se segredo sobre o conteúdo das mensagens roubadas. Fraudados
de maneira tosca na precária segurança das redes nacionais de
comunicações, todos agora estão com a sua correspondência privada sob
manejo da Polícia Federal.
Pior: cópias desse acervo íntimo da cúpula da República estão com
“fiéis depositários”, advertiram advogados de um dos acusados da rapina.
Curiosamente, até agora só uma preocupação foi exposta: a destruição
de conteúdo sobre a Lava-Jato. A polícia exorcizou essa aflição
partidária, remetendo a decisão à Justiça.
A investigação é sigilosa, mas já vazou. Nomes de alguns furtados
foram sussurrados ao Ministério da Justiça, que nega ter violado
segredos. Ninguém falou em investigar.
Silenciou-se, também, sobre as “fragilidades” —definição da perícia —
das redes nacionais de comunicações. Elas confirmam o Brasil como área
livre à espionagem, sem proteção da infraestrutura e das pessoas.
Contam-se as vítimas aos milhões, diariamente. Há registros de
vazamentos recentes da base de clientes de Uber, Banco Inter e Netshoes
(nesta, 17 milhões), e sobre uso de dados de crianças no Google/YouTube.
Tem-se um livre comércio de cadastros de 150 milhões subtraídos da
Receita, do INSS, dos sistemas financeiro, de telefonia e de saúde.
Em 2013, comprovou-se a coleta de dados no Brasil por agências
americanas de espionagem. Brasília se queixou, Washington retrucou com
irônica oferta de “proteção” do pré-sal e da Petrobras contra
bisbilhotagem chinesa, britânica e russa.
Anunciou-se, então, uma ampla revisão da segurança nas comunicações. O
plano, se existiu, nunca chegou às 35 chefias de 15 ministérios e aos
mais de 300 órgãos envolvidos.
Nada mudou nesse faroeste político-digital brasileiro. Só o número de vítimas — sempre crescente.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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