Winston Churchill — que foi repetidamente citado no Encontro do Estoril —
enfatizou inúmeras vezes a importância crucial de manter a unidade
entre as democracias ocidentais. Artigo do professor João Carlos Espada,
publicado pelo Observador:
Na semana passada, entre segunda e quarta-feira, decorreu no Hotel
Palácio do Estoril a 27ª edição do Estoril Political Forum, promovido
pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.
Mais de 700 pessoas (entre as quais cerca de 100 estrangeiros)
participaram no encontro, que é por sinal o maior encontro anual de
Estudos Políticos que tem lugar entre nós há quase 27 anos.
Não creio, no entanto, que o número de participantes e a antiguidade
tenham sido os aspectos mais marcantes do Estoril Political Forum. Julgo
que o aspecto mais decisivo terá sido a re-união em clima civilizado ( e
com um estrito dress code) de académicos e analistas das mais
diferentes inclinações políticas — que raramente dialogam directamente
entre si hoje em dia.
Havia conservadores, democratas-cristãos, liberais, libertários,
sociais-democratas e socialistas democráticos (mas não havia comunistas
nem fascistas). Havia apoiantes e críticos de Donald Trump, apoiantes e
críticos do Brexit, defensores e críticos do federalismo europeu. Houve
um jantar britânico (Jantar Winston Churchill, com o Embaixador
britânico e sua mulher), um almoço francês (almoço Raymond Aron), um
jantar americano (Jantar George Washington, com Embaixador americano e
sua mulher), um almoço italiano (Almoço Luigi Einaudi, em que o
Embaixador italiano não pôde estar, mas fez questão de enviar excelentes
vinhos italianos) e um jantar alemão (Jantar Konrad Adenauer, com
Chargé d’Affaires da Embaixada da Alemanha, devido ao recente final de
mandato do Embaixador).
O que é que terá levado esta variedade de participantes a aceitar
encontrarem-se no mesmo espaço, nalguns casos durante três dias? Um
factor decisivo foi certamente o Hotel Palácio do Estoril — o hotel dos
Aliados anglo-americanos durante a II Guerra Mundial, onde Ian Fleming
criou a personagem de James Bond. Permanece um lugar de clássica
compostura e boas maneiras — num mundo crescentemente dominado pela
ideologia vulgar dos chinelos, sapatos de ténis, ausência de gravata, e
barba por fazer.
Um possível factor adicional poderá ter sido o tema central do
Encontro: “A Aliança Transatlântica: 75 anos depois do D-Day; 70 anos
depois da fundação da NATO; 30 anos depois de Tiananmen; 30 anos depois
da queda do Muro de Berlim”. Por outras palavras, todos os participantes
— com diferentes pontos de vista — subscreviam os valores da democracia
liberal que define o Ocidente.
Como foi sublinhado aos longo do Encontro, estes são valores perenes,
que não dependem de quem dirige temporariamente cada uma das
democracias ocidentais. Seria muito desagradável, por exemplo, confundir
o legítimo desconforto com o Presidente Trump com o afastamento da
crucial aliança euro-americana. Seria também muito desagradável
confundir o voto britânico pela saída da União Europeia com o
afastamento estratégico entre a UE e o Reino Unido.
Winston Churchill — que foi repetidamente citado no Encontro do
Estoril — enfatizou inúmeras vezes a importância crucial de manter a
unidade entre as democracias ocidentais. No célebre discurso em que
denunciou pela primeira vez a “Cortina de Ferro” soviética (proferido a 5
de Março de 1946, no Westminster College, em Fulton, Missouri, na
presença do Presidente Truman), Churchill disse:
“Se as democracias ocidentais agirem em conjunto em estrita aderência aos princípios da Carta das Nações Unidas, a sua influência na promoção desses princípio será imensa e ninguém ousará molestá-las. Se, pelo contrário, as democracias se deixarem dividir e ou se fraquejarem no cumprimento do seu dever e se estes anos cruciais forem desaproveitados, então de facto uma catástrofe pode cair sobre nós.”
Falando cinquenta anos depois no mesmo Westminster College, Margaret
Thatcher reafirmou a mesma preocupação com a unidade do Ocidente:
“O Ocidente não é apenas uma construção da guerra fria, destituída de significado no nosso mundo actual, mais livre e mais fluido. O Ocidente assenta em distintivos valores e virtudes, ideias e ideais, e sobretudo sobre uma comum experiência de liberdade ordeira. […] Para defender e sustentar estes valores, a relação política atlântica deve ser constantemente alimentada e renovada.”
Apesar da vincada variedade de preferências políticas dos inúmeros
participantes do Estoril Political Forum, todos subscreveram estes
apelos de Churchill e Thatcher à unidade do Ocidente.
BÇOG ORLANDO TAMBOSI
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