Por Folhapress | Fotos: Reprodução
Na tentativa de destravar seu acordo com a
Lava Jato, parado desde o fim do ano passado, o marqueteiro João
Santana afirmou, em roteiro para sua delação premiada, que ele e a
mulher, Mônica Moura, receberam recado da então presidente Dilma
Rousseff de que seriam presos. Em fevereiro de 2016, quando foram alvo
da 23ª fase da Lava Jato, Santana e Mônica estavam na República
Dominicana, onde comandavam a campanha presidencial para a reeleição de
Danilo Medina.
Após receberem o mandado judicial,
embarcaram para o Brasil e se entregaram na sede da Polícia Federal em
Curitiba, onde passaram quase seis meses presos. Segundo
a reportagem apurou, o publicitário baiano resolveu incluir o relato
que implica Dilma no plano de sua delação como uma espécie de trunfo, já
que os procuradores da Lava Jato travaram as negociações com seus
advogados.
Pessoas com acesso às investigações
afirmaram à reportagem que Santana diz ter sido avisado de sua prisão
por um aliado de Dilma, a pedido da então presidente, com quem o
publicitário tinha uma relação de amizade.
Santana e Mônica saíram da prisão no
início de agosto, após pagarem fiança de mais de R$ 31 milhões. Ainda na
carceragem, começaram a negociar um acordo com a força-tarefa, temendo
permanecerem presos após uma possível condenação. Procuradores ouvidos
reservadamente relataram que, até o momento, os fatos contados pelo
marqueteiro e sua mulher não despertaram interesse da Procuradoria-Geral
da República e da força-tarefa de Curitiba.
Os investigadores alegam que os detalhes
dos pagamentos feitos pela Odebrecht no exterior para o casal, por
exemplo, já foram esclarecidos em depoimentos de executivos da
empreiteira e, portanto, esperam que a delação do marqueteiro e de sua
mulher sejam mais abrangentes, com inclusão de fatos novos. Desde
o início deste ano a defesa de Santana e Mônica não conseguiu agendar
audiências com integrantes do Ministério Público Federal para tentar
retomar as negociações. Ex-integrantes
do governo da petista dizem que, caso Dilma tenha realmente alertado
Santana sobre sua prisão, o fez com base em "boatos" que, segundo eles,
"estavam fortes na época".
OUTRO LADO
Procurado, José Eduardo Cardozo, advogado
de Dilma e ministro da Justiça na época da prisão de Santana e Mônica,
afirmou que nem ele nem a então presidente tinham "informações
privilegiadas sobre as investigações" e que, portanto, o relato "não
procede". Já os advogados de Santana e Mônica não quiseram se manifestar
sobre o tema.
A PRISÃO
Em 12 de fevereiro de 2016, a Folha de
S.Paulo revelou que a Lava Jato investigava indícios de pagamentos
feitos pela Odebrecht em contas de Santana na Suíça e, uma semana
depois, o juiz Sergio Moro negou aos advogados do marqueteiro acesso aos
autos que faziam referência e ele.
De acordo com petistas, o ato de Moro
"levantou a tese" de que Santana estava mesmo sendo investigado e que,
portanto, poderia ser preso.
A prisão do casal, responsável pelas campanhas presidenciais do PT em 2006 (Lula), 2010 e 2014 (Dilma) veio 11 dias depois.
A principal acusação era que Santana e
Mônica receberam US$ 7,5 milhões no exterior de Zwi Skornicki, lobista
de um estaleiro que tem negócios com a Petrobras, e de offshores ligadas
à Odebrecht. Segundo Moro, Mônica sabia que os recursos recebidos eram
de origem ilícita.
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