Holandês Arthur Japin e brasileiro Guto Lacaz falaram do 'inventor do avião'.
Escritor critica brasileiros que veem Dumont assexuado e não homossexual.
Mesa
Encontro da arte com a ciência' (a partir da esquerda): o mediador
Alexandre Vidal Porto, o holandês Arthur Japin e o brasileiro Guto Lacaz
(Foto: Walter Craveiro/Divulgação Flip)
A defesa da homossexualidade do Santos Dumont e uma espécie de aula de
história da aviação (com momentos dignos de "Professor Pardal") marcaram
a mesa "Encontro da arte com a ciência" na tarde deste sábado (2) na
14ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).Os debatedores foram o escritor holandês Arthur Japin e o artista plástico, arquiteto e desinger brasileiro Guto Lacaz. Em comum, eles têm a admiração pelo homem chamado por aqui de "o inventor do avião". O diplomata e escritor Alexandre Vidal Porto mediou a conversa.
Japin, que tem 59 anos, está lançando no Brasil o romance "O Homem com asas" (Planeta), inspirado em um caso tão real quanto absurdo: o roubo do coração de Alberto Santos Dumond pelo legista que o embalsamou.
Durante uma de suas falas, o holandês foi bem aplaudido ao falar sobre a vida amorosa do inventor, a quem chamou de "herói". "Citei no livro que ele ele teve relacionamento com homem. Eu não fiz de propósito, é só a vida da pessoa", justificou Japin. Disse que fica magoado com a a dificuldade dos brasileiros em admitir que Dumont era homossexual. Ou, mais especificamente, por preferirem tratar o inventor como "assexuado" a considerá-lo gay
"Sei que há pessoas que não acreditam que ele era gay, acho isso chocante. De alguma forma, as pessoas não conseguem acreditar que um homem destemido pudesse voltar para casa e bordar e tricotar, porque é isso que ele fazia. Usava joias de ouro, pulseiras, não havia a menor dúvida de que ele era gay."
'Uma pessoa ama uma pessoa'
Japin, no entanto, descarta este como tema central do livro: "Espero que não leiam especialmente sobre a vida sexual dele, não fui explícito porque não me importa. Essa batalha já foi lutada, já tivemos muitos óbitos, não precisamos mais travar essa batalha, uma pessoa é só uma pessoa e ela ama uma pessoa". Aí vieram as palmas.
O holandês contou que escolhe seus personagens, geralmente pessoas deslocadas que realmente existiram, também por idenficação. No caso de Santos Dumont, espeficificamente, isso tem a ver com a dificuldade no convívio social. Lembrou que o inventor só conseguia de fato se conectar às pessoas quando estava voando acima delas e acenando com lenços brancos.
"Sou essas pessoas. Dou meu trabalho para vocês, depois venho aqui e tenho a sensação de que vocês estão comigo. E é exatamente esse amor que vocês estão me dando agora. Você dá uma coisa, acena, e as pessoas cenam de volta." Em seguida, duas mulheres na primeira fila da plateia começaram a balançar lenços. Japin se empolgou: "Oh, meu deus, que bom que eu vim! Graças ao avião, por sinal!.
O estranho mundo de Guto
Chamando Santos Dumont de "primeiro designer de produto" do Brasil e reconhecendo que ele foi "o primeiro homem a voar" mas não o inventor do avião, Guto Lacaz ocupou a maior parte do tempo dando uma aula de história a respeito dos projetos que resultaram no 14-bis. Usou, inclusive, os telões da Tenda dos Autores para projetar filmes e slides.
Também fez demonstrações curiosas de aerodinâmica. Numa delas, usou um secador de caelo para manter suspensa no ar uma bola de isopor, mesmo princípio dos balões tripulados criados por Santos Dumont.
As explicações de Lacaz se alongaram mais do que previsto, a ponto de o mediador apressá-lo. Mas no fim tudo deu certo, quando o artista plástico circulou pelo palco de braços abertos e balançando lenços brancos, como fazia Santos Dumont.
Lacaz, que também é inventor, foi perguntado sobre que tipo de produtos gostaria de criar para os dias de hoje. E respondeu: "Uma cápsula para os moradores de rua dormirem".
Veja, abaixo, a programação restante da Flip 2016:
Mesa 16 – Encontro com Svetlana Aleksiévitch, às 17h15
Mesa 17 – "O falcão e a fênix", às 19h30
Com Helen Macdonald e Maria Esther Maciel
Mesa 18 – "O palco é a página", às 21h30
Com Kate Tempest e Ramon Nunes Mello
Domingo, 3 de julho
Mesa 19 – "Síria mon amour", às 10h
Com Abud Said e Patrícia Campos Mello
Mesa 20 – Mesa 21 – "Sessão de encerramento: Luvas de pelica", às 12h
Com Sérgio Alcides e Vilma Arêas
Mesa 21 – Livro de cabeceira, às 14h15
Autores convidados leem trechos de seus livros favoritos
Ingressos
A partir desta quarta-feira (29) de junho, é possível comprar apenas na bilheteria da Flip, em Paraty, que fica na Tenda dos Autores e vai funcionar de quarta a sábado das 9h às 22h e no domingo das 9h às 15h.
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