Svetlana Alexievich participou de mesa da festa em Paraty no sábado (2).
Jornalista bielo-russa diz buscar 'a verdade do ser humano' não a de jornais.
A Prêmio Nobel Svetlana Alexievich, que participou de mesa na Flip neste sábado (Foto: Walter Craveiro/Flip)
No mundo que parece a cada dia mais cruel e com pessoas cada vez mais
encerradas em sua própria visão dos fatos, a jornalista que relatou
algumas das piores tragédias da humanidade expressou que "a única saída é
o amor" e que "é preciso procurar o ser humano dentro do ser humano".
Svetlana Alexievich, vencedora do Prêmio Nobel de 2015, foi a grande
estrela da Flip neste sábado. A Tenda dos Autores ficou lotada e 1.800
pessoas, segundo o evento, ouviram a bielo-russa por um telão, do lado
de fora.Alexievich, de 68 anos, ficou particularmente conhecida pelo livro "Vozes de Tchernóbil", que reúne histórias de vítimas do maior acidente nuclear da história, lançado recentemente no Brasil. Também ouviu soldados soviéticos que foram à Guerra do Afeganistão e pessoas que tentaram o suicídio após o fim da União Soviética.
Em "Vozes", a história que abre o livro narra uma tentativa desesperada de uma mulher para salvar o marido, contaminado pela radiação da usina nuclear, e coloca o amor por ele acima de qualquer medida de segurança. Um desastre que desafiou a compreensão das pessoas pela falta de uma referência no passado.
"Você quer entrar na água, mas não pode. Você quer colher uma flor, mas não pode. A terra era a mesma, mas tudo havia mudado. Não se consegue colocar um nome nisso. Eu queria compreender o que havia acontecido conosco", diz a jornalista, que transmite um jeito afável na conversa em Paraty.
A usina de Tchernóbil ficava numa área na Ucrânia nas proximidades de Belarus, o que trouxe consequências ao povo bielorrusso.
Amor além da tragédia
"A vida tem muitas tragédias, mas tem o amor, tem o pôr-do-sol. Essa beleza da vida eu tento que passar nos meus livros. Então eu falo do amor dessas pessoas que vivenciam tragédias, mulheres que amavam e que demonstraram força. As heroínas do meu livro tiveram atos acima de tudo que eu tinha encontrado antes na literatura", disse Alexievich em mesa mediada pelo jornalista Paulo Roberto Pires.
"A única saída é o amor. O amor cura. O mundo não vai ser salvo pelo homem racional, mas sim pelo homem que tiver uma visão ampla das coisas, que não vise só o progresso. Não o homem cujo objetivo seja apenas produzir e consumir. Acredito que em alguns séculos vão nos considerar seres primitivos."
Alexievich falou que seu estilo de narrativa se opõe às limitações da profissão. "No jornalismo você transmite informações banais. Sempre me senti muito limitada por isso, sempre há algum segredo que temos que buscar nas pessoas", diz. "Eu cresci numa aldeia na Bielorrússia, e ouvia o que as mulheres falavam e achava que o que elas contavam muito mais interessante."
"[O entrevistado] É um ser pequeno igual a mim, que fala coisas simples, mas que com o tempo se torna algo maior", declara. "Você tem que achar o ser humano dentro do ser humano e não perder em si essas qualidades."
Mesa 17 – "O falcão e a fênix", às 19h30
Com Helen Macdonald e Maria Esther Maciel
Mesa 18 – "O palco é a página", às 21h30
Com Kate Tempest e Ramon Nunes Mello
Domingo, 3 de julho
Mesa 19 – "Síria mon amour", às 10h
Com Abud Said e Patrícia Campos Mello
Mesa 20 – Mesa 21 – "Sessão de encerramento: Luvas de pelica", às 12h
Com Sérgio Alcides e Vilma Arêas
Mesa 21 – Livro de cabeceira, às 14h15
Autores convidados leem trechos de seus livros favoritos
Ingressos
A partir desta quarta-feira (29) de junho, é possível comprar apenas na bilheteria da Flip, em Paraty, que fica na Tenda dos Autores e vai funcionar de quarta a sábado das 9h às 22h e no domingo das 9h às 15h.
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