. porque roubava dos pobres Veja - 16/12/2015
Líder
de movimento dos sem-teto é preso em Brasília. Ele morava em um
apartamento confortável, tinha carro do ano e extorquia os associadosHá
cinco anos, Edson Francisco da Silva recebeu a missão de montar em
Brasília uma célula do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) — uma
versão urbana dos baderneiros do MST.A
exemplo da sede, a sucursal da organização faz seu proselitismo usando a
boa-fé de pessoas humildes. Em l9 de dezembro, Edson e seis
companheiros de luta foram presos pela Polícia Civil do Distrito Federal
acusados de integrar uma quadrilha responsável por diversos crimes.
Edson não era o que parecia.Não
era sequer um sem-teto. À noite, ele e a família deixavam os imóveis
invadidos — normalmente desprovidos de água e luz — e iam descansar num
confortável apartamento alugado de dois quartos, a bordo de um carro do
ano avaliado em 80 000 reais.
Edson não era apenas um farsante.
Para ingressar nos quadros do movimento, ele cobrava do interessado
uma mensalidade. O governo de Brasília paga 600 reais por mês de
auxílio-aluguel para famílias ligadas ao grupo. O "líder" ficava com a
metade do dinheiro. Edson não era apenas um espertalhão.
Quem não pagava as taxas, além de perder os benefícios que o grupo
conseguia, era perseguido e ameaçado. O líder do movimento mantinha uma
turma de capangas treinados para intimidar os inadimplentes.
A matriz do MTST descobriu que Edson da Silva roubava os pobres e
decidiu expulsá-lo em maio deste ano. Nada que abalasse os negócios. Ato
contínuo, ele fundou o Movimento de Resistência Popular (MRP) e passou a
executar ações ainda mais ousadas.
A principal delas foi a invasão do hotel Saint Peter, no centro da
capital. Em setembro, manifestantes ocuparam boa parte dos quartos do
hotel durante dias. Além de depredarem as instalações, como de costume,
eles furtaram televisões, objetos de decoração e bebidas.
O que os bandidos não sabiam é que a polícia já estava monitorando o
grupo. Na casa de um dos líderes, os agentes encontraram
eletrodomésticos, taças e vinhos que tinham sumido da adega do hotel.
VEJA teve acesso ao material coletado durante as investigações. Nele,
fica evidente que os "sem-teto" se comportavam como máfia.
Edson tinha um informante no coração do governo. O suspeito da
polícia é Acilino Ribeiro, subsecretário de Movimentos Sociais e
Participação Popular do governador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF). Dias
antes da prisão do grupo, Ilka Conceição, mulher de Edson, em uma
conversa telefônica interceptada, informou ao marido que a polícia havia
instalado escutas em um dos prédios invadidos pelo movimento:
"(Acilino) disse que tem escuta aí. Vou chegar aí, eu vou falar
"Acilino, então vamos queimar Rollemberg e você agora"".
O currículo de Acilino é curioso: ele é um ex-guerrilheiro que
trabalhou como segurança do ditador líbio Muamar Kadafi na década de 70.
"Ela deve ter lido isso no meu livro Estratégia e Tática da Luta
Revolucionária. Escrevi que, aonde os movimentos sociais forem, a
polícia sempre vai usar agentes de inteligência para acompanhar",
garante Acilino Ribeiro.
Fonte: Veja, 16/12/2015
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