A vida na cadeia é complicada para quem está preso e ainda mais para os familiares que estão do lado de fora. Os filhos são criados sem pais, as mulheres sem maridos. Além de roupas, material de higiene e comida, a família carrega a vergonha pelos abusos praticados na revista. A visita expõe mulheres e crianças a revistas vexatórias. A prática é condenada, mas ainda acontece no Rio de Janeiro e em muitos estados do Brasil. A revista da genitália feminina, uma forma de violência contra a mulher que é revistada nua e submetida a inspeções em cavidades corporais e obrigada a fazer esforços físicos independentemente da idade e da saúde. Tudo isso com a pergunta do filho: “mãe, cadê o papai? A gente vai ver ele?”.
Por outro lado, vemos uma justiça que continua sendo uma injustiça com o povo brasileiro: as prisões dos empresários e políticos envolvidos nos escândalos de corrupção: são presos, mas continuam milionários, vivendo em mansões, com contas no exterior, comendo, bebendo e desfrutando de tudo que há de melhor, com toda a mordomia. Que punição é essa?
Em entrevista com William de Oliveira, egresso do sistema carcerário e Conselheiro Estadual de Direitos Humanos- Coordenador da Comissão de Privação de Liberdade - podemos entender, com sua experiência, a desigualdade no sistema de justiça: "O Brasil é a quarta maior população carcerária do mundo. Caso haja a aprovação da redução da maioridade penal o país vai ocupar o segundo lugar nessa população. Nós ex-presidiários e os ainda presos conhecemos a prisão lava jato e a lava lento. A Lava Jato é representa o tratamento que todos os presos deveriam ter, com todos seus direitos respeitados. É o céu, mas o que nos oferecem é o inferno. Infelizmente, os presos não têm esse tratamento que a Policia Federal oferece. Eu mesmo fui tirado de dentro de casa, algemado na frente da minha família. Fui exposto internacionalmente sem ter nenhuma investigação que levasse à verdade, tudo por um vídeo montado que não era uma prova. Depois de toda exposição fui absolvido de todas as acusações. Como retirar essa imagem negativa exposta na televisão e em alguns jornais e como esquecer todo sofrimento vivido?", desabafou.
William ressaltou que só a cidade do Rio de Janeiro tem 45 mil presos, sendo que 25 mil são custodiados, ou seja, presos sem nenhuma sentença. Para ele, com toda essa superlotação não tem sistema de justiça que dê conta. E por isso muitos presos com cadeia vencida ainda continuam encarcerados, oferecendo custos ao Estado e danos incalculáveis ao detento e à sua família.
“Um preso para o estado custa 3 mil reais por mês. Eu, William de Oliveira, não custei nada, o estado só me ofereceu grade e parede, eu custei pra minha família. Imagina essa quantidade de preso no Rio de Janeiro multiplicada por 3 mil reais. A defensoria pública não consegue dar conta e fazer com que os direitos dos presos sejam respeitados, muitos já estão com cadeias vencidas, gerando custo pro estado sem necessidade. O sistema é viciado, superlotado e não faz ressocialização, pelo contrário, oferece graves problemas psicológicos e sociais. O preso quando sai não consegue trabalho, pois a sociedade criminaliza. A sociedade o obriga a voltar para o crime, pois fecham as portas. Muitas dessas empresas citadas no Lava Jato informavam com orgulho que não aceitavam empregados presidiários, agora esses mesmos presidentes são presos por roubo de dinheiro público”, diz William.
O contraste social na justiça é intenso: por um lado, o empresário, o politico é acusado por desvios bilionários, e esse tem direito a imunidades, prisão luxuosa em suas mansões. Enquanto isso, milhares de detentos precisam conviver com celas superlotadas, imundas, sem luz natural, com ratos e fezes espalhadas pelo chão e com toda a privação de direitos e da própria dignidade. Trata-se de duas faces da mesma moeda.Cadeia? Só para os pobres.
* Supervisor Administrativo NEAM/PUC-Rio; Mestrando em Design - DAD/PUC-Rio; Pesquisador Ladeh/PUC-Rio; Colunista Jornal do Brasil
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