Marcos Campos/New Holland/Divulgação
Os grandes produtores de grãos são os que têm mais adotado máquinas modernas
A falta de chuvas começa a revelar prejuízos no setor do agronegócio
brasileiro. Segundo disse nesta sexta-feira (30) à Agência Brasil o
presidente da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Monteiro
Lobato e Região, José Augusto Rosa Santos, são muitos os efeitos da
escassez de chuvas sobre a produção local de hortaliças. Também a
pecuária vem sentindo impactos da crise hídrica, mencionou. “Em todo o
estado de São Paulo, a situação está complicada”, disse Santos.
O diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Helio Sirimarco,
analisou que em algumas áreas agrícolas brasileiras “já tem indicação de
perdas, de quebra de safra e de produtividade”. Explicou à Agência
Brasil que a situação é mais séria em Goiás, onde a estimativa da
Federação de Agricultura e Pecuária é que pelo menos 15% da produção
total do estado, o que equivale a 1,4 milhão de toneladas de soja,
estaria perdido devido à seca. Caso esta perda se confirme, Sirimarco
disse que o prejuízo financeiro poderá atingir R$ 1,2 bilhão.
No estado de Mato Grosso, há indícios de problemas localizados,
decorrentes mais de queda de produtividade. “No restante do país, por
enquanto, nada mais sério”, disse Sirimarco. No Sudeste, as culturas
mais afetadas até o momento são café e cana. Assegurou, porém, que soja e
milho são os plantios que mais preocupam. Explicou que já foram
colhidos entre 5% e 6% da safra de soja em Goiás, mas que ainda está
cedo para ter uma visão mais clara do que vai ocorrer em nível nacional.
O diretor da SNA Sirimarco acredita que as chuvas anunciadas pelo
serviço de meteorologia devem aliviar a parte de café e cana no Sudeste e
a de grãos, no Centro-Oeste.
Acentuou que os produtores têm duas alternativas para enfrentar a
situação. Uma é rezar para que caia água. A segunda é adotar o modelo de
seguro praticado nos Estados Unidos para proteger a produção. “Nós
precisamos ter uma legislação que assegure mecanismos de seguro agrícola
eficazes. O modelo norte-americano funciona muito bem”. Disse que ele
poderia ser adotado no Brasil, com adaptações. A forma atual em vigor no
país não protege na extensão que deveria. Informou que em Goiás, no ano
passado, apenas 14% da área plantada, ou o equivalente a 825 mil
hectares, foram segurados. Estimou que nos demais estados, não ocorreu
coisa muito diferente.
O coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio
Vargas (GV Agro), ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues,
analisou que há dois tipos de problema que estão sendo observados. O
primeiro é a falta de chuva nas culturas de verão. “Algumas regiões do
país foram duramente afetadas, o Sudeste particularmente, nas áreas de
milho e soja”. Isso ocorre no sul de Minas e no Triângulo Mineiro, em
São Paulo, no oeste da Bahia, apontou. “Tem perdas já significativas em
algumas áreas. No oeste da Bahia é muito grave, porque é o quarto ano de
seca”, disse à Agência Brasil.
Outro problema que ainda não está contabilizado se refere a culturas
como que dependem de irrigação, a algumas áreas que só produzem feijão
irrigado em períodos de seca, em que ainda não há clareza sobre o
tamanho dos prejuízos, sem falar no preço da água e na própria falta de
água. Isso pode representar uma perda significativa de volume de
produção, com aumento no preço dos produtos. “Mas isso não está
calculado, porque não temos informação sobre qual vai ser o tamanho da
falta d'água”.
Rodrigues estimou que somente no final de março, quando se encerra o
período chuvoso, o panorama ficará mais visível. Destacou, entretanto,
que a safra de cana já está comprometida. Se chover, pode haver uma
recuperação, mas os canaviais devido à seca em janeiro, não se
desenvolveram. “Eu estou muito preocupado com a oferta de cana este
ano”. Outros dois produtos, que são laranja e café, também dependem de
água e apresentam um agravante, que é o fato de suas flores se
ressentirem do calor intenso e mostrarem perda das floradas iniciais.
“Vamos ter também queda de produção nestes produtos”.
O coordenador do GV Agro ressaltou, ainda, que haverá problemas sérios
na oferta de pastagens na Região Sudeste, em especial em São Paulo e
Minas Gerais, que pode levar os pecuaristas a vender gado mais cedo.
“Não é um cenário catastrófico, mas não é simpático também”, concluiu.
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