Loja de artesanato revela talento de presidiários; renda ajuda as famílias
Cofrinhos enfeitados com glíter,
porta-caneta feito com papel ofício, pequenas esculturas, enfim, todo
tipo de souvenir comum que se vê por aí. Mas, por aqui, nada é tão comum
assim. Não é a Avenida Sete, muito menos a Feira dos Caxixis. Estamos
num ambiente controlado, recluso, que pouca gente tem acesso: é a
Artfreedoom, lojinha que tem na sua linha de produção e na administração
detentos da Penitenciária Lemos Brito (PLB), na Mata Escura.
Reaberta em 2010, a butique de artesanato é uma atração à parte no local, com preços que variam de R$ 5 a R$ 250.
Cadeira começa a tomar forma na linha de produção da Artfreedom, loja de artesanato dentro da prisão (Foto: Marina Silva)
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RECOMEÇO
A
história da loja começou na década de 1980, quando a primeira unidade
foi aberta longe dali, no Mercado Modelo, para qualquer um ter acesso.
Nos anos 90, foi aberto outro box no Instituto Mauá, na Barra, mas,
segundo detentos, ambas foram fechadas por problemas financeiros e
políticos.
“O governo (da época) não
tinha interesse em manter a loja, porque era feita por presos. Quem
vendia e lucrava, durante um tempo, eram os agentes”, comentou o detento
Aloísio de Araújo, 49 anos.
Fechada
em 2002, só voltou à ativa em 2010, após um curso de capacitação
profissional realizado pelo Sebrae na penitenciária. Na época, Aloísio e
outro detento, Vanderlino Osvaldo de Souza Filho, 55, viram a
oportunidade de empreender na PLB e decidiram reinaugurar a loja.
Formado em Administração de Empresas, Aloísio
explica que a decisão de reabrir o espaço foi uma forma de melhorar a
atenção ao interno e torná-lo útil para o trabalho - atualmente, 28
deles atuam na serraria com a produção de peças de artesanato,
esculturas de madeira e na fabricação de mesas, cadeiras e outros móveis
decorados.
Vendidos a R$ 5, os porta-copos são mesmo os
campeões de venda. Porém, outros produtos se destacam pela saída, como
porta-retratos, quadros com escudos de clubes e cofrinhos de argila.
REINSERÇÃO
Administrativamente, a loja funciona como uma
cooperativa, conforme explica Aloísio. “O objetivo é ganhar dinheiro
para poder nos sustentar”, comentou.
Segundo ele, os familiares dos presidiários ficam
responsáveis por comprar o material que a produção das peças requer. A
loja também recebe doações de empresas, entre elas, casas de material de
construção. “Em cada produto vendido, a serraria fica com 60% e os 40%
restantes são divididos entre os colaboradores”, explicou.
De acordo com a coordenadora de atividades
laborativas da PLB, Tânia Lúcia, a Artfreedom é ainda uma forma de
prover a família, já que os presos são remunerados – o valor recebido é
equivalente a 75% de um salário mínimo. Os principais clientes da loja
são os próprios parentes, além dos funcionários da PLB. Volta e meia
ainda aparecem visitantes de ocasião, como estudantes.
A
Artfreedom faz parte das atividades laborativas, que preveem que a cada
três dias de trabalho – 12 horas de ocupação – o detento tem direito a
um dia de redução na pena.
O diretor da PLB, Everaldo Carvalho, explica que
esse tipo de trabalho não serve apenas como controle da punição, mas
também para ressocialização. “A pena tem como objetivo punir e
reintegrar o preso à sociedade. E nada melhor do que colocá-lo na rua
pondo ações de cunho educacional”, diz.
A coordenadora Tânia Lúcia também faz coro: a Artfreedom “prepara o detento para o retorno à sociedade”.
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