A escola ficou como segunda colocada em prêmio nacional de educação
Walter,
37 anos, preso, condenado por estupro. E 92% de aprovação no Enem. Há
três anos na Penitenciária Lemos de Brito (PLB), ele é um dos mil e
dezesseis presidiários que decidiram trocar o presente sofrido por uma
nova chance de futuro.
Desde que foi
liberado para retomar os estudos na Escola Professor George Fragoso
Modesto, que fica dentro da PLB, Walter Moreira Ferreira se dedicou e
conseguiu concluir o ensino médio. Hoje, sonha com uma vaga na
universidade. “Escolhi
Direito porque quero ajudar as pessoas. Sinto que posso ajudar quem
precisa de um advogado e não tem condição de pagar”, explica.
O desejo de ser
advogado só apareceu quando ele passou a dar ouvidos aos comentários dos
amigos e da família. “As pessoas falavam que, no dia a dia, eu sempre
defendia as pessoas que estavam certas em determinadas situações”. E
reflete. “Muitas leis não são cumpridas porque o cidadão ou não conhece
ou não cobra. Se eu tiver conhecimento do assunto, vou poder trazer isso
para minha vida e cobrar os meus direitos”, diz.
Ilustração: Ian Thommas
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CHANCES NA VIDA
Frenquentando as
aulas na penitenciária, os detentos ganham redução do período de
condenação. Para cada doze horas de frequência escolar, um dia é abatido
da pena, direito previsto pela Lei de Execução Penal desde 2011.
Assim como
Walter, outros alunos se preparam para o Enem, que será realizado na
Penitenciária Lemos de Brito nos dias 9 e 10 de dezembro. Este ano
apenas 36 detentos irão participar, diferente da primeira prova do
exame, realizada no ano de 2011, que contou com 97 inscritos.
Tânia Lúcia,
coordenadora de atividade laborativa e responsável pela inscrição dos
alunos na prova, conta que este número é muito baixo em relação aos anos
anteriores. “Já tivemos muito mais alunos participando. Agora está mais
difícil porque na inscrição é exigido o CPF e muitos deles não tem”,
lamenta.
Com o excelente
desempenho no Enem, Walter conseguiu uma bolsa integral para cursar
Direito, mas ainda não iniciou o curso. Para ter acesso à faculdade, ele
precisa primeiro ter o regime de cumprimento da pena alterado, passando
de fechado para semiaberto.
Este beneficio é
concedido a partir do cumprimento de um sexto do total da pena e
permite que o detento possa sair do presídio para estudar e trabalhar.
Walter conta que esse percentual já foi atendido e que um Defensor
Público está o ajudando a conseguir o beneficio. “Como
a nota do Enem é válida por dois anos, eu faço fé que depois que meu
regime for alterado no final deste ano, já que cumpri um sexto da minha
pena, eu possa dar início às aulas ano que vem”.
CHANCE PARA TODOS
Admilson
Nascimento Avelino, que cumpre pena há um ano e oito meses - e frequenta
a escola há dez meses, conta que, além da remissão da pena, ele estuda
porque não teve a oportunidade antes. “A escola é muito importante
pra mim. Aprendo muito e consigo passar o tempo. Enquanto eu estiver
aqui, vou estudar. Até já renovei minha matricula para o ano que vem.”
Para atender a
demanda dos detentos, 35 professores se dividem entre a Penitenciária
Lemos de Brito, Cadeia Pública, Presídio Salvador e Conjunto Penal
Feminino. São 52 turmas distribuídas nos três turnos.
A professora
Janete Souza, que trabalha na escola penitenciária há três anos, diz que
se sente realizada com o trabalho. “Sou apaixonada pela escola. Minha
intenção é trazer esperança para a sala de aula”. E explica que as aulas
têm um papel muito importante na vida dos detentos porque com o passar
do tempo eles perdem a identidade. “É comum eles esquecerem idade,
sobrenome e até mesmo o nome da mãe. Nosso trabalho além de social é
cognitivo”, conclui.
SEM MEDO
Sobre o perigo
de estar com detentos, a professora conta que não sente medo de estar em
uma sala sem nenhuma separação. “Somos avançados em relação às escolas
penitenciárias de outros estados, onde professores ficam separados dos
alunos por uma grade. Aqui não. Eles dizem que nós estamos trazendo
conhecimento e que devemos ser respeitados”, comenta.
Na última
segunda-feira, a instituição ficou como segunda colocada no 4º Prêmio
Nacional de Educação em Direitos Humanos, na categoria escola. O
concurso é promovido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
da República e pelo Ministério da Educação.
O trabalho
vencedor, “A Cor do Brasil”, faz parte de uma série de atividades
voltadas ao ensino da História e Cultura Afro-Brasileira.
Para quem quiser
saber mais sobre o trabalho feito na PLB, um blog com o nome Colégio
Professor George Fragoso Modesto Na Rede, escrito pelos professores,
relata as atividades que são desenvolvidas pelos presos e voltou a ser
atualizado na segunda, com a conquista do prêmio.
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