MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

EPIDEMIA DE CHIKUNGUNYA EM FEIRA DE SANTANA-BA

'Maioria teve ou tem', diz moradora de bairro foco de chikungunya na Bahia

Comunidade de Feira de Santana registrou maior parte de casos no estado.
'Se entrar na clínica vai ver todo mundo com mesma coisa', opina paciente.

Ruan Melo Do G1 BA
Bahia (Foto: Ruan Melo/ G1)Pacientes com sintomas da febre africana aguardam atendimento em clínica de Feira de Santana (Foto: Ruan Melo/ G1)
Deitados, sentados em bancos de concreto ou em pé, pacientes aguardam atendimento na Policlínica George Américo, em Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador. Não fosse a maioria com os mesmos sintomas de dores nas articulações, este seria mais um dia normal de atendimento. O centro de saúde fica no bairro George Américo, local que registrou a maior parte dos 14 casos da febre chikungunya confirmados na cidade baiana.
Até esta sexta-feira (26), foram contabilizados na Bahia 310 casos suspeitos do vírus, sendo 306 em Feira de Santana e outros quatro em Salvador. O Ministério da Saúde já constatou outras quatro pessoas infectadas em Oiapoque, Amapá, além de outras 158 suspeitas. Na quinta-feira (25), a Prefeitura de Oiapoque decretou situação de emergência por causa das ocorrências.
“A maioria aqui teve isso ou está tendo. A gente está de pé pela misericórdia de Deus. A cabeça dói, o corpo, os ossos. Se você entrar aí vai ver todo mundo com a mesma coisa”, diz a eletricista Josélia de Jesus, que afirma sofrer com os sintomas há um mês. “Passei 10 dias na cama, me arrastando. Aí aliviou mais, mas tornou a voltar. Agora estou aqui para fazer mais exames”, completa.
Bahia (Foto: Ruan Melo/ G1)Clínica em Feira de Santana recebe pacientes com
sintomas da febre chikungunys(Foto: Ruan Melo/
G1)
O G1 esteve na Policlínica George Américo e constatou a entrada de dezenas de pessoas se queixando de sintomas semelhantes aos da doença. Uma delas foi a filha do motorista José Carneiro Rios. “Ela é professora e, de uns três dias para cá, ficou assim. Não está aguentando nem caminhar”, lamenta Rios.
Segundo funcionários da unidade médica, a grande maioria dos pacientes atendidos reclama de sintomas semelhantes aos provocados pelo vírus chikungunya. "Não sei dizer quantos, mas a maioria que está aí diz que está com o corpo doendo", conta a recepcionista Inês de Souza.
Após serem atendidos, muitos pacientes retornam para casa e aguardam o resultado dos exames para confirmar ou não a contaminação da doença. Este foi o caso da comerciante Lurdes de Jesus, que há quinze dias convive com dores nos corpos, febre e inchaço nas pernas. “Estou me sentindo toda doída. É mão, é pé, é tudo doente. Não consigo fazer as coisas direito. Não aguento pegar em nada que dói. Não durmo de noite com tanta dor. Eu já tive dengue, mas não chega aos pés disso”, descreve Lurdes.
Bahia (Foto: Ruan Melo/ G1)Comerciante Lurdes de Jesus afirma que sofre com sintomas há quinze dias (Foto: Ruan Melo/ G1)
Medo
Por conta do número de casos na cidade e da dificuldade em conviver com as dores, alguns moradores de Feira de Santana afirmam que temem a doença. "Com esses casos a pessoa fica alerta, perguntando se a próxima vai ser você. Conheço uma pessoa que tem os sintomas, então fico assustada”, comenta a cabeleireira Cida Rios.
Já outras pessoas que apresentam os sintomas receiam que o vírus se espalhe e chegue a amigos, familiares e até mesmo crianças. “Além de mim, Graças a Deus não tem mais ninguém aqui em casa. Mas a gente tem medo, principalmente por causa das crianças. Uma doença dessa, se para a gente que é adulto já está difícil de suportar, imagine as crianças”, compara a comerciante Lurdes de Jesus.
Bahia (Foto: Ruan Melo/ G1)Bairro George Américo, em Feira de Santana,
registrou 14 casos confirmados da doença
(Foto: Ruan Melo/ G1)
“A gente tem medo. Como não tem? A pessoa não levanta mais da cama. A gente teme muito porque, se uma pessoa fraca pega, morre. Porque o que eu senti cheguei a pensar que não ia levantar”, recorda a eletricista Josélia de Jesus.
Mas há também quem garanta não ter medo e prefira focar em se prevenir. “Eu não estou com medo porque, se tiver que vir, eu não tenho para onde escapar. Eu tenho é que me cuidar”, afirma o motorista José Carneiro Rios.
Prevenção
Em Salvador, uma Oficina de Trabalho em Emergência foi realizada na quinta-feira a fim de alertar os baianos sobre as formas de prevenção contra a febre chikungunya. Os casos de chikungunya são atendidos nos postos da atenção básica e não há necessidade de buscas em hospitais porque os sintomas são os mesmos da dengue, como dores nas articulações.  “Não tenho vasilha com água aqui em casa. Quando vejo isso, derramo logo. Agora é difícil evitar pegar por causa dos outros vizinhos, nem todos têm os mesmos cuidados, além dos terrenos baldios. Aí nós não podemos fazer nada”, disse Lurdes, uma das pacientes.
Vírus chikungunya é transmitido por mosquitos Aedes aegypty (no alto) e Aedes albopictus (Foto: Douglas Aby Saber/Fotoarena-AFP Photo/EID Mediterranee)Vírus chikungunya é transmitido por mosquitos
Aedes aegypty (no alto) e Aedes albopictus
(Foto: Douglas Aby Saber/Fotoarena-AFP
Photo/EID Mediterranee)
Entenda o vírus
A infecção pelo vírus chikungunya provoca sintomas parecidos com os da dengue, porém mais dolorosos. No idioma africano makonde, o nome chikungunya significa "aqueles que se dobram", em referência à postura que os pacientes adotam diante das penosas dores articulares que a doença causa.
Em compensação, comparado com a dengue, o novo vírus mata com menos frequência. Em idosos, quando a infecção é associada a outros problemas de saúde, pode até contribuir como causa de morte, porém complicações sérias são raras, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O vírus chikungunya pode ser transmitido pelo mesmo vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti, e também pelo mosquito Aedes albopictus, e a infecção pelo chikungunya segue os mesmos padrões sazonais da dengue, de acordo com o infectologista Pedro Tauil, do Comitê de Doenças Emergentes da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). O risco aumenta em épocas de calor e chuva, mais propícias à reprodução dos insetos. Eles picam principalmente durante o dia. A principal diferença de transmissão em relação à dengue é que o Aedes albopictus também pode ser encontrado em áreas rurais, não apenas em cidades.

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