Merval Pereira comenta, no jornal O Globo, a escolha do vice de Aécio Neves. O PSDB, diz ele, nunca esteve tão unido:
Em
nenhuma das últimas três eleições presidenciais que perdeu para o PT, o
PSDB conseguiu uma unidade formal como a que desaguou na escolha, ontem,
do senador Aloysio Nunes Ferreira para compor como vice a chapa do
candidato tucano Aécio Neves.
Uma chapa
café com leite que tem o objetivo de garantir a supremacia no principal
colégio eleitoral do país, driblando a armadilha da desunião partidária
justamente nos dois estados que, embora governados por tucanos, nunca
estiveram juntos nas eleições anteriores e, quando estiveram, elegeram o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no 1º turno.
A escolha
tem o aval do ex-governador José Serra, que nunca deixou de ser um
elemento fundamental nas decisões do PSDB, especialmente as que envolvem
São Paulo, mas, devido à expressão nacional de sua liderança, também as
que repercutem nacionalmente.
O
reconhecimento dessa força política, aliás, foi um dos fatores
impeditivos para sua escolha como vice, pois meros comentários seus
podem gerar repercussões políticas, como foi o caso quando divergia das
medidas econômicas da equipe do ministro da Fazenda Pedro Malan nos
governos de Fernando Henrique.
Liberado
por Serra, o senador Aloysio Nunes Ferreira pôde atuar com mais
desembaraço para se colocar como vice e, mais que isso, o governador
Geraldo Alckmin terá no estado que governa um apoio a mais para sua
candidatura à reeleição. Aécio terá junto a Alckmin um aliado que poderá
aparar arestas eventuais.
A união
em São Paulo é fundamental para o projeto de Aécio, e por isso ele
fingiu que não viu a atuação de Alckmin junto a seus aliados para levar o
PPS para os braços de Eduardo Campos. O presidente do ex-partido
comunista deve seu mandato a Serra, que o levou para São Paulo dando
legenda e apoio político. E é pernambucano, o que o aproxima de Campos.
A esses
dois fatores se juntaram os interesses imediatos de Alckmin, que queria
ter o PSB a seu lado, com o vice, na campanha para o governo de São
Paulo. Aécio sabe que numa campanha como essa os interesses regionais
muitas vezes assumem caráter prioritário.
Ele foi
acusado de ter relegado a segundo plano as eleições presidenciais de
Alckmin e Serra para tratar dos seus interesses em Minas, aceitando a
prática do voto Lulécio (Lula e Aécio) e mais adiante o Dilmasia (Dilma e
Anastasia). Por isso, fez vista grossa às composições regionais que
eventualmente possam prejudicar sua candidatura, mas trata de montar
alianças na política paulista que impeçam sua cristianização .
Na
prática, trata-se de evitar a plena realização da chapa ´Edualdo´,
mistura de Eduardo Campos com Geraldo Alckmin. A seu favor estão sua
capacidade de aglutinação e a necessidade de Alckmin ter um palanque
forte em São Paulo, agora que o PT armou uma candidatura aparentemente
viável para combatê-lo na figura de Paulo Skaf, do PMDB, cristianizando
antecipadamente o candidato oficial Alexandre Padilha, que não parece
ter condições de decolar.
O golpe
de mestre teria sido a adesão do PSD à candidatura tucana, com Henrique
Meirelles na vice. Só não aconteceu porque Kassab está preso a
compromissos com o petismo e sofreu pressões fortes até por parte do
ex-presidente Lula. Não sendo Serra, mas representando-o, o senador
Aloysio Nunes Ferreira é quem melhor avaliza a aliança política entre
São Paulo e Minas.
Com 11
milhões de votos para o Senado em 2010, para os quais muito contribuiu a
decisão de colocar o ex-presidente FH fazendo sua propaganda na
televisão, de quem foi ministro da Justiça e da Secretaria-Geral da
Presidência, o senador Aloysio Nunes Ferreira foi também secretário
estadual no governo Serra e tem conhecimento perfeito da máquina
partidária tucana no estado.
Tem um
perfil de político de esquerda, o que dificulta os prováveis ataques
petistas por esse lado: ex-membro do Partido Comunista Brasileiro,
participou da Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização
guerrilheira contra a ditadura militar, tendo servido de motorista para
Marighella em ações armadas.
Provavelmente
os ataques virão pelo fato de seu nome ter sido citado inicialmente
como um dos políticos que tinham ligação com a formação de cartel no
Metrô de São Paulo. Seu nome, no entanto, foi retirado do caso pelo
ministro do Supremo tribunal Federal Marco Aurélio Mello, por não haver
indícios contra ele que justificassem uma investigação.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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