Renato Cobucci/Hoje em Dia/Arquivo
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Kênio Pereira: possíveis dificuldades para honrar os compromissos devem ser levadas em conta


A aquisição de um imóvel exige do consumidor uma série de ponderações e análises, principalmente para quem não possui o valor total do bem e precisa recorrer às opções de parcelamento. Duas delas são o consórcio e o financiamento imobiliários, disponibilizados por bancos e administradoras.
 
De acordo com o presidente da Comissão de Direito Imobiliário da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Kênio Pereira, uma das principais diferenças entre as duas modalidades é o tempo que se leva para adquirir a casa própria.
 
“O consórcio se destina a quem não tem pressa em adquirir o imóvel. Já o financiamento imobiliário tem um custo mais alto, mas a pessoa toma posse na hora”, diz Pereira.
 
No primeiro caso, um grupo de pessoas físicas ou jurídicas, geralmente desconhecidas, une-se para formar uma poupança comum. Mensalmente, todos pagam uma quantia preestabelecida, destinada a contemplar os integrantes, por meio de sorteio ou lance, com carta de crédito que será usada para a aquisição de um bem.
 
“O consórcio não gera inflação, não depende de verba do governo nem tem limite bancário. Há uma taxa de remuneração, que gira em torno de 17% ou 18% durante todo o período. No caso dos imóveis, o prazo pode ser de até 180 meses”, afirma.
 
Financiamento
 
Quando a opção é pelo financiamento, é preciso procurar uma agência bancária para efetuar o cadastro, pendente de avaliação e aprovação pela instituição. 
 
Normalmente, é preciso desembolsar um mínimo de 10% do valor do imóvel como entrada e financiar o restante. As taxas de juros variam entre os bancos, mas ficam, em média, entre 7% e 8% ao ano. A recomendação é pesquisar as taxas e o custo efetivo total (que inclui juros e demais encargos sobre o crédito) entre os bancos.
 
“A evolução dessa dívida é muito mais complexa e quase ninguém domina. Mas, quando se compra financiado, a pessoa também tem um seguro de vida incluído nas prestações. Se ela faltar amanhã e o financiamento estiver todo em seu nome, a família fica com o imóvel quitado. No consórcio não tem isso”, diz Pereira.
 
Segundo o advogado, antes de escolher entre uma modalidade ou outra, o consumidor precisa, acima de tudo, considerar possíveis imprevistos, como a perda do emprego e a impossibilidade de honrar os compromissos financeiros.
 
“Quem financia não pode mudar de ideia, perder o emprego ou a capacidade de pagamento, porque pode vir a perder o imóvel e ele ir a leilão. No consórcio, quem deixa de pagar não sofre multa nenhuma, mas tem que esperar ele acabar para conseguir recuperar o dinheiro, o que leva anos”.
 
Investidores pagam parte das prestações com aluguel do imóvel
 
No primeiro trimestre, o sistema de consórcios cresceu quase 10% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
 
No período, entraram no sistema 42,2 mil novos consorciados. A movimentação total foi de R$ 4,7 bilhões. “Muita gente utiliza esse meio para aumentar o patrimônio. A pessoa compra um imóvel por meio do consórcio, aluga e, com a renda, praticamente paga a prestação”, afirma o presidente da Regional Sudeste 2 (MG, RJ, ES) da Abac, João Pedro de Andrade Salomão.
 
De acordo com ele, o consórcio também é menos burocrático, já que o dinheiro envolvido pertence ao grupo de consorciados e o próprio imóvel é considerado garantia, dispensando a necessidade de avalistas em alguns casos.
 
“Entre as famílias que trabalham, todos se ajudam para conquistar o imóvel. E o consórcio oferece o custo mais baixo que os financiamentos”, diz Salomão. Ele ressalta que é preciso estar atento à idoneidade da administradora escolhida.
 
Já os financiamentos imobiliários avançaram 26,4% em 2013 na comparação com o ano anterior, segundo o último balanço divulgado pela Caixa Econômica Federal (CEF). Somente neste ano, cerca de 90 mil operações foram efetuadas utilizando o saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
 
Fuga do aluguel
 
Para o superintendente regional da CEF em Minas Gerais, Ronaldo Roggini, o serviço tornou-se uma boa opção para quem procura um imóvel novo ou usado e tem pressa na aquisição, já que os valores das prestações estão próximos aos do aluguel, atualmente.
 
“Os aluguéis devem ser uma alternativa temporária e transitória”, afirma Roggini.
 
Para os interessados, o superintendente recomenda, de imediato, a simulação no site da Caixa, onde é possível adiantar o valor que poderá ser financiado. O passo seguinte é procurar uma agência ou um correspondente bancário para fazer a aprovação do crédito.
 
“A partir daí, recomendamos cautela. Não é para ninguém sair comprando televisão e geladeira logo. A compra de um imóvel deve ser bastante discutida, pensada, e envolver toda a família. Dessa maneira, é preciso ter calma”, diz.