“Não é a política que faz o candidato virar ladrão, mas seu voto que faz o ladrão virar político”. Em período eleitoral, frases como esta pipocam nas redes sociais. Mas será que é simples assim? Será que todas as mazelas brasileiras são responsabilidade do eleitor? Atualmente, no Brasil, as eleições para presidente, governador, prefeito e senador seguem o sistema majoritário. Neste caso, é eleito o candidato que receber a maioria absoluta dos votos válidos. Se nenhum candidato atingir o número na primeira votação, realiza-se um segundo turno entre os dois mais votados.
Para deputados federais, estaduais, distritais e vereadores, o sistema utilizado é o proporcional com lista aberta. Neste sistema, a proporção de cadeiras parlamentares ocupadas por partido é diretamente determinada pela quantidade de votos obtidos por ele, somando votos na legenda e votos em candidatos do diretório. É por isso que surge a figura do “puxador de votos”, que ajuda a eleger outros candidatos de sua legenda ou coligação que tenham obtido menor adesão. 
 
O diretor do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) Adriano Denardi Junior diz que esse sistema proporcional possibilita que grupos de pessoas com poucas chances políticas possam eleger um representante, o que, na sua avaliação, é bom para a democracia, porque torna as assembleias mais plurais. Mas ele reconhece que este sistema trás mais distorções que benefícios e defende uma reflexão sobre a manutenção desse instrumento. 
 
O codiretor do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), juiz Márlon Reis, diz que as principais causas da corrupção no Brasil são o atual sistema eleitoral e a forma de seu financiamento. “Nosso sistema é tão ruim que não adianta fazer o voto consciente. Quando se fala em pesquisar o candidato, escolher aqueles com histórico confiável, é bonito, mas hoje o voto concedido pra um é aproveitado por outro. A pessoa não tem controle do seu voto. Dessa forma, fica muito difícil falar em voto consciente no Brasil, porque temos um sistema opaco, não é transparente”, diz.
 
O cientista político, professor da UFMG, Bruno Reis, também faz críticas ao modelo brasileiro. Segundo ele, o sistema proporcional com lista aberta é uma peculiaridade do nosso país, que apresenta outras sérias desvantagens, como o número enorme de candidatos, o que dificulta a fiscalização e a escolha consciente do eleitor. Segundo ele, na maioria dos países onde o sistema proporcional é adotado, como os escandinavos e grande parte dos países latino-americanos, utiliza-se a lista fechada, onde cada partido apresenta previamente a lista de candidatos com o número correspondente ao círculo eleitoral, esses candidatos são colocados ordenados crescentemente e o número de eleitos será proporcional ao número de votos que o partido obtiver.
 
“A lista aberta acaba sendo um sistema de lista oculta. Com a lista fechada a campanha fica mais parecida com o jogo real, uma vez que o deputado eleito faz parte de uma bancada”, defende.