
A pesquisa Ibope divulgada
anteontem que mostrou a presidente Dilma Rousseff com 34% de aprovação (somados
os que acham sua administração boa ou ótima) acende um sinal amarelo em sua
campanha. A julgar pelo retrospecto de 104 eleições para governadores e
presidente desde 1998 em que havia um candidato tentando a reeleição,
analisadas pelo cientista político Alberto Carlos Almeida, Dilma hoje não se
reelegeria.
O estudo de Almeida mostra que,
justamente quando teve 34% ou menos de avaliações de gestão ótima ou boa antes
do pleito, nenhum candidato que tentou a reeleição, desde que ela foi
instituída, foi bem-sucedido. Os que tinham aprovação de 46% ou mais, ao
contrário, tiveram 100% de êxito.
Segundo Almeida, mesmo liderando
as intenções de voto, com esse patamar de aprovação, Dilma Rousseff hoje não se
reelegeria. O cientista político, no entanto, faz uma ressalva, citando os
casos das reeleições de Fernando Henrique Cardoso, em 1998, e a de Luiz Inácio
Lula da Silva, em 2006. Embora eles tivessem índices de aprovação abaixo de 46%
em julho (os dois tinham 38%), ambos tiveram aumento nas avaliações positivas
de seus governos às vésperas do pleito, e acabaram sendo reeleitos.
— É possível aumentar o
desempenho de governo ótimo e bom no decorrer da campanha. A situação atual é
de grande risco para a presidente Dilma, mas ela pode reverter o quadro. Se as
eleições fossem hoje, a probabilidade maior seria a eleição de um candidato de
oposição — diz Almeida.
Para ele, eleitores que
atualmente avaliam mal o governo Dilma estão declarando voto em branco, nulo,
ou dizem ainda não saber em quem votar. — Esses votos, provavelmente,
irão para os candidatos de oposição. Devem migrar, principalmente para o Aécio,
que é quem tem a base mais sólida — disse o cientista político, para quem a
principal reclamação do eleitorado em relação ao governo Dilma vem da área
econômica.
O professor Roberto Romano, da
Unicamp, cita outro dado da pesquisa Ibope: embora a diferença seja de apenas
um ponto percentual, pela primeira vez o percentual dos que não gostam da
maneira de Dilma governar ultrapassou o dos que aprovam — a desaprovação
aumentou de 43% para 48%, e a aprovação caiu de 51% para 47%. — Há uma percepção de que Dilma
está sendo tutelada (pelo ex-presidente Lula), e o envolvimento dela no caso de
Pasadena deixou evidente que, como ministra e presidente do conselho da
Petrobras, ela falhou — afirma Romano.
Eleitor ainda não está preocupado
com eleição
Na avaliação do cientista
político Fernando Abrucio, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas
(FGV) em São Paulo, o eleitor, neste momento, ainda não está preocupado com as
eleições deste ano. Ele diz que a queda na aprovação no governo da presidente,
segundo mostrou a pesquisa Ibope, está mais relacionada a dois fatores: a
inflação e a perda no poder de compra do “brasileiro mediano”; e a sensação de
que os serviços públicos em geral não andam bem. — É a mesma (sensação) que
mobilizou as pessoas no ano passado, nas manifestações de junho — diz o professor.
Segundo Abrucio, baseado em
análises qualitativas realizadas pela FGV, o eleitor tem, em geral, um apelo
por mudança misturado a um sentimento de desilusão. E isso seria um problema
tanto para o governo quanto para a oposição. — Os dois principais concorrentes
da presidente, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), ainda são pouco
conhecidos e estão fazendo de tudo para melhorar isso. Faço muita (pesquisa)
qualitativa e vejo que os eleitores querem mudanças, mas também a manutenção
das transformações sociais, principalmente as dos últimos dez anos.
Apesar de a aprovação do governo
ainda ser positiva, a oposição vê nos resultados das últimas pesquisas uma
tendência de queda na candidatura da presidente Dilma Rousseff e um espaço para
crescimento de Aécio Neves e Eduardo Campos. Os governistas, por sua vez,
avaliam que é cedo para fazer qualquer prognóstico sobre as eleições de outubro
e que Dilma tem resultados a mostrar na propaganda eleitoral para reverter as
últimas quedas na aprovação de seu governo e nas suas intenções de voto.
— Evidentemente que ninguém pode
definir as eleições antes do processo que se inicia nas convenções, mas a
posição dela (Dilma) é absolutamente vulnerável. O que é pior para ela e melhor
para a oposição é o viés de baixa, como se diz no meio econômico. A aprovação
dela vem caindo sistematicamente — argumentou o líder do DEM na Câmara,
Mendonça Filho (PE).
Segundo ele, além da queda nos
índices de aprovação da presidente, o que anima a oposição é o crescente desejo
de mudança revelado pelos entrevistados, mesmo que os números não tenham se
refletido nas candidaturas de oposição. — O eleitor não sai de um lado
para o outro automaticamente, como o pêndulo de um relógio. Primeiro, o eleitor
sai da posição pró-Dilma, vai para o meio (representado pelas respostas “não
sei, não respondeu, branco ou nulo”) e só então decide que rumo tomar — disse o
líder do DEM.
O deputado Rubens Bueno (PPS-PR),
também da oposição, concorda. Segundo ele, a queda da aprovação do governo
federal e os recentes escândalos como as denúncias de corrupção envolvendo
ex-dirigentes da Petrobras serão decisivos no resultado das eleições
presidenciais deste ano.
Para PT, aprovação crescerá
durante eleição
No campo da situação, o deputado
Paulo Teixeira (PT-SP) reconhece que a presidente não está num bom momento, mas
entende que as dificuldades são ocasionais. Segundo ele, a aprovação do governo
e a popularidade pessoal da presidente voltarão a crescer durante a campanha.
— Quando começar o horário
eleitoral, é o momento em que ela (Dilma) vai poder apresentar o governo dela
na sua totalidade. Creio que, a partir daí, a aprovação subirá violentamente. O
governo tem enorme riqueza de realizações que poderá ser mostrada a partir de
agosto — diz o deputado.
O deputado argumenta ainda que
escândalos como o caso da Petrobras não afetam diretamente a imagem da
presidente. Para ele, a presidente não compactua com a corrupção e, quando
descobre irregularidades, age prontamente.
Ex-líder do governo na Câmara, o
deputado Cândido Vacarezza (PT-SP) vê com reserva as análises de pesquisas
sobre as eleições de outubro. Ele lembrou que o ex-prefeito de Salvador João
Henrique (foi do PDT e do PMDB) tinha um governo mal avaliado, mas foi reeleito
em 2008. Já em São Paulo, contou Vacarezza, Marta Suplicy tinha um governo bem
avaliado e perdeu para José Serra, em 2004.
— É muito cedo para avaliar
pesquisas quantitativas de qualquer natureza, e as pesquisas qualitativas não
são assertivas. Acho cedo dizer que a presidente vai ganhar no primeiro turno,
como acho errado dizer que não vai ganhar. Tem de esperar o programa eleitoral
e as pessoas nas ruas. A eleição está em aberto. É muito cedo para fazer
prognósticos — afirmou Vacarezza. ( O Globo )
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