Dilma diz que não viu. Cerveró
diz, para interlocutores, que Dilma não só viu como aprovou a compra. Há
um nítido esforço para jogar toda a culpa nas costas do ex-diretor
internacional. Por falar em costas, Paulo Roberto Costa, o outro
ex-diretor envolvido, continua preso e tem muito a contar sobre onde foi
parar a dinheirama da compra superfaturada de Pasadena.
O ex-diretor da área internacional
da Petrobras Nestor Cerveró escolheu a avaliação mais alta para sustentar a
decisão de oferecer US$ 700 milhões na tentativa frustrada de comprar os 50%
restantes na refinaria Pasadena, nos EUA, em dezembro de 2007.
A avaliação havia sido realizada,
por encomenda da Petrobras, pela empresa Muse Stancil, que disse ter elaborado
o estudo em menos de duas semanas, como antecipou o jornal "Valor
Econômico" nesta semana.A análise contemplava três
cenários, com cinco situações em cada, nas condições em que se apresentava a
refinaria na época. A mais conservadora estabelecia que Pasadena inteira
custava US$ 582 milhões. A mais otimista atingia US$ 1,54 bilhão.
Com o estudo na mão, Cerveró
decidiu oferecer US$ 700 milhões por 50% do ativo. O fato de a oferta não
corresponder à metade de nenhuma das cifras apresentadas no estudo chamou
atenção da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que questionou a escolha de valores
"aleatoriamente, sem comprovação, entre todos os cenários possíveis".
O questionamento foi feito em
processo aberto para investigar a compra da refinaria em 2013. A investigação
foi arquivada por ter sido feita depois do prazo legal. Em resposta à CVM, Cerveró
justificou que os valores foram respaldados por "avaliação interna" e
eram "objeto de confirmação por instituição financeira de renome
mundial". O Citigroup, que deu aval ao negócio, foi procurado, mas não
comentou.
Conforme documento interno da
Petrobras, ao apresentar a negociação, dois meses depois da oferta, a equipe de
Cerveró informou à diretoria que as áreas internacional, financeira, de
estratégia e abastecimento --esta comandada por Paulo Roberto Costa, preso na
semana passada na operação Lava Jato-- estudaram todos os cenários, mas
validaram opções entre US$ 1,2 bilhão e US$ 3,4 bilhões para Pasadena.
Em seu parecer sobre a atuação de
Cerveró, como mostrou o jornal "Valor Econômico", a CVM disse que
"não é razoável que um diretor assine um documento em nome da companhia
fazendo referência a valores que não tenham sido resultado de avaliação
conclusiva e refletida". Afirmou, ainda, que "Cerveró
negociou valores sem o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo
costuma empregar".
A CVM questionou Cerveró por ter
apresentado a oferta pelos 50% restantes sem aval do conselho de administração
da Petrobras, que só soube da oferta dois meses depois de ter sido feita. A partir daí o conselho tomou
conhecimento das cláusulas "Put Option", que dava à Astra o direito
de vender sua parte no negócio, e Marlim, que garantia rentabilidade mínima.
Logo depois, a Petrobras entrou em arbitragem contra a Astra, e a Astra exerceu
o direito à "Put Option".
A intenção da CVM, após
investigar o caso ao longo de 2013, era submeter Cerveró a julgamento
administrativo por desobediência ao "dever de diligência", cujas
penas vão de advertência a multa e proibição de atuar como administrador por
até 20 anos. Procurada, a Petrobras repetiu
que criou "comissão interna de alto nível para apurar todos os detalhes do
processo referente a Pasadena". Cerveró não foi encontrado. (Folha de São Paulo)
BLOG DO CORONEL
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